Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Judy e Sulzberger desabafam na TV

Após o anúncio da saída de Judith Miller do New York Times, na semana passada, a ex-repórter e o publisher do jornal foram para a TV. Separados, é claro. Duas horas depois de Judith ser entrevistada por Larry King, na CNN, Arthur Sulzberger Jr. aparecia no Charlie Rose Show, na PBS.

Os assuntos abordados foram os mesmo, é claro: o caso Valerie Plame, a polêmica cobertura sobre as armas de destruição em massa no Iraque e o impacto disso tudo no Times. Em entrevista que ocupou todo o tempo do programa de Larry King, Judith só não quis falar sobre Lewis Libby, ex-chefe de gabinete de Dick Cheney acusado de vazar para a imprensa a identidade secreta de uma agente da CIA. Ela justificou dizendo que pode vir a ser chamada a testemunhar no julgamento de Libby, indiciado há algumas semanas. Questionada se tinha ficado surpresa com o indiciamento, a jornalista desconversou: ‘nada mais me surpreende’.

Já Sulzberger fez questão de defender a postura do jornal diante da prisão de Judith e de tentar diminuir a importância do caso, principalmente se comparado com o escândalo do repórter-plagiador Jayson Blair. Ele declarou ainda que ‘a moral está ótima’ no Times – provavelmente em referência a artigo de Howard Kurtz no Washington Post [7/11/05] sobre a crise atual da imprensa americana intitulado ‘Moral, e lucros, em baixa no Times‘. Em seu texto, Kurtz afirmava que nunca os métodos e a ética dos jornalistas foram tão questionados, e fazia um paralelo desta situação com a crise financeira dos veículos de comunicação. ‘Se a indústria fosse uma pessoa, um psiquiatra receitaria Prozac’, completava.

Suzberger parece discordar que a relação do jornal com os leitores tenha sido afetada. O caso Judith Miller só seria um grande problema ‘se nossos leitores perdessem a confiança e respeito e desvalorizassem o jornalismo que recebem’, enfatizou. Perguntado por Charlie Rose sobre sua relação com a ex-repórter, e se sua amizade com ela teria influenciado na postura do jornal antes e durante o período em que esteve presa, o publisher disse que ‘faria o mesmo por qualquer repórter’.

Sobre as tais questionáveis matérias sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque – uma das justificativas do governo americano para dar início à guerra em 2003 –, Sulzberger disse que a culpa foi não só de Judith, mas também do jornal. Ele afirmou que o Times aprendeu muitas lições com este caso e acredita que ‘é justo dizer que, hoje, aquelas histórias não entrariam’ no jornal. No programa de Larry King, Judith afirmou que não acredita que suas fontes mentiram sobre as armas, mas não sabe por que, e em que, elas erraram. ‘George Bush teria ido à guerra sem Judy Miller e sem o New York Times‘, alfinetou. Informações da Editor & Publisher [10 e 11/11/05].