As jornalistas Laura Ling e Euna Lee, que passaram quatro meses presas na Coréia do Norte por supostamente entrarem ilegalmente no país, declararam esta semana que cruzaram a fronteira da China com o país vizinho, mas voltaram para a China e lá foram ‘violentamente arrastadas’ de volta por guardas norte-coreanos. Lisa e Euna foram condenadas, em junho, a 12 anos de trabalhos forçados, e foram libertadas no início de agosto depois de uma visita do ex-presidente Bill Clinton a Pyongyang para negociar com o líder Kim Jong-il.
‘Nós não ficamos mais de um minuto em solo norte-coreano antes de voltar, mas nos arrependemos muito deste minuto’, afirmaram Laura e Euna. As duas estavam na fronteira apurando uma matéria sobre cidadãos norte-coreanos que fogem do duro regime em que vivem e as dificuldades que encontram quando chegam à China. As duas repórteres divulgaram sua versão dos fatos no site da Current TV, emissora interativa onde trabalham. Foi a primeira vez que elas falaram publicamente sobre o assunto.
Guia
Elas contaram que estavam acompanhadas do produtor Mitch Koss quando chegaram ao rio Tumen, que separa a China da Coréia do Norte, às cinco horas da manhã de 17/3, e não tinham intenção de cruzar a fronteira. As duas acabaram seguindo seu guia sino-coreano pelo rio congelado, e chegaram a um pequeno vilarejo norte-coreano. Nervosas, Laura e Euna decidiram voltar, mas no meio do caminho ouviram dois soldados armados gritando e correndo em sua direção. Elas correram, mas foram alcançadas. ‘Tentamos nos agarrar a galhos, arbustos, ao chão, a qualquer coisa que não nos tirasse de solo chinês, mas os soldados estavam determinados’, lembram, ressaltando que não sabem se foram vítimas de uma armadilha pelo guia. ‘Mas, no fim das contas, foi nossa decisão segui-lo, e continuamos a pagar por esta decisão com as amargas lembranças de nossa prisão’.
Há notícias de que o guia continua preso na China. Já Koss foi detido por autoridades chinesas e libertado após interrogatório. Nos últimos meses, a imprensa americana apresentou Laura e Euna como vítimas do repressivo regime norte-coreano, mas ativistas e blogueiros na Coréia do Sul acusam as repórteres de falta de cuidado, temendo que as gravações feitas pelas por elas perto da fronteira tenham sido pegas pelo governo norte-coreano e pelas autoridades chinesas, prejudicando os refugiados e os ativistas que os ajudam.
Laura e Euna afirmaram que tomaram precauções para proteger suas fontes e as pessoas que entrevistaram. Durante seu período de detenção, as duas engoliram anotações e quebraram fitas de vídeo. Não foi esclarecido, entretanto, o que aconteceu com as fitas que estavam com Koss e que, acredita-se, tenham sido confiscadas pela polícia da China. Informações de Choe Sang-Hun [The New York Times, 3/9/09].