Quem já trabalhou em uma redação não se surpreende com palavras profanas e obscenas – você pode xingar o quanto quiser que a maior parte dos colegas sequer desviará o olhar da tela do computador. Mas há casos e casos, comenta, em sua coluna [19/8/11], o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton, que recebe, toda semana, diversos emails e alguns telefonemas com graus mais intensos de profanidade do que é ouvido nas redações.
São comentários racistas, sexistas e ameaçadores, que contêm referências a usos atípicos dos orifícios do corpo humano, vindos de pessoas que querem incitar o ódio. Há material enviado por leitores de direita, que acusam Pexton e o Post de fazerem parte de conspirações socialistas, e também daqueles de esquerda, que alegam que ambos são neoconservadores e sionistas fascistas.
O ombudsman costumava receber a cada semana pelo menos um comentário mais grosseiro e com linguajar pesado, mas, com o aumento da crítica pública ao presidente Barack Obama, o número de emails ofensivos aumentou. Há também os ataques a judeus e muçulmanos.
Para Shawn Parry-Giles, professora de comunicação política da Universidade de Maryland, há vários fatores em jogo: em momentos de crise, com as pessoas sentindo-se sem poder e ansiosas, elas precisam de um meio para extravasar. Mark Twain já dizia: “é preciso um quarto em cada casa para xingarmos. É perigoso reprimir uma emoção como esta”. A tecnologia também é responsável por isso. “Antes da era da internet, você lia o jornal e, para reagir, tinha de pegar um papel e uma caneta, escrever e enviar por correio. O ato em si já fazia com que a pessoa, muitas vezes, nem enviasse a carta”, comenta Shawn. Além disso, ela acredita que o ódio reflete o momento político polarizado.