I. Lewis Libby Jr., chefe de gabinete do vice-presidente americano Dick Cheney e uma das figuras mais poderosas do governo Bush, renunciou ao cargo nesta sexta-feira (28/10) após ser indiciado por perjúrio, falso testemunho e obstrução à justiça no caso Valerie Plame. Libby, identificado pela repórter Judith Miller, do New York Times, como sendo a fonte que lhe revelou a identidade secreta da agente da CIA, foi o primeiro membro do governo a ser acusado formalmente pelo grande júri federal que investiga o caso há dois anos. Karl Rove, principal assessor político e amigo do presidente Bush, não foi indiciado, mas, segundo informação confirmada por seus advogados, continua sob investigação.
O caso Valerie Plame teve início em julho de 2003, quando a agente secreta teve sua identidade revelada em um artigo do colunista sindicalizado Robert Novak. Semanas antes, o ex-diplomata Joseph Wilson, marido de Valerie, havia publicado um texto no Times em que questionava a alegação do governo de que o Iraque teria comprado urânio enriquecido do Níger para fazer armas atômicas – uma das justificativas do governo Bush para dar início à guerra do Iraque. A revelação da identidade de Valerie é vista por muitos críticos como uma represália do governo à atitude de Wilson. Nos EUA, o vazamento deste tipo de informação pode ser considerado crime, e por isso foi instaurado um inquérito sobre o caso.
Questões sobre o envolvimento de Libby no vazamento da identidade de Valerie foram intensificadas esta semana, quando advogados ligados ao caso afirmaram que o chefe de gabinete teria conhecido a informação por Cheney, semanas antes do artigo de Novak – e não por jornalistas, como ele havia declarado.
Debate no jornalismo, vergonha no governo
Para o jornalismo, o episódio foi marcante porque questionou os limites do privilégio do sigilo de fontes e levantou grande debate sobre o assunto. Judith Miller passou recentemente três meses na cadeia por se recusar a revelar quem havia lhe passado a informação – que ela nunca publicou, que fique claro.
Para o governo americano, é catastrófico porque envolve dois dos mais importantes personagens ligados à presidência e à decisão de começar a guerra contra o Iraque – baseada em justificativas que nunca foram comprovadas. Há alguns meses, Bush chegou a declarar que, se alguém de sua administração tivesse cometido um crime com relação ao vazamento da identidade de Valerie Plame, não faria mais parte de sua equipe.
Sobre o indiciamento de Libby, Joseph Wilson afirmou que ‘se um crime foi cometido, foi um crime contra o país. Não é uma discussão sobre se eu ou Valerie fomos vingados, porque o crime não foi cometido contra nós’. Com informações de David Stout [The New York Times, 28/10/05].