Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Livro avalia se imprensa poderia ter evitado crise

Há um certo lamento no meio jornalístico quando se faz um retrospecto dos últimos 15 anos, comenta Erik Wemple em artigo no Washington Post [27/6/11]. Questiona-se, por exemplo, como teria sido se as organizações de mídia tivessem se unido para não colocar seu conteúdo na web ou se ao menos tivessem cobrado por ele desde o começo.

Estes argumentos foram abordados no livro The Deal from Hell: How Moguls and Wall Street Plundered Great American Newspapers (O acordo do inferno: como magnatas e Wall Street roubaram grandes jornais americanos, na tradução livre), de James O’Shea, ex-chefe de redação do Chicago Tribune e ex-editor-chefe do Los Angeles Times. “A internet e a tiragem em queda não mataram os jornais mais do que matérias longas ou jornalistas arrogantes. O que está matando o sistema de levar matérias editadas e confiáveis aos leitores todas as manhãs por menos do que custa uma xícara de café é o modo como as pessoas que administram a indústria jornalística reagiram a estas forças”, escreveu ele, que trabalhou em um dos grupos mais afetados, o Tribune Company, que publica o Chicago Tribune eoLos Angeles Times.

Fontes de receitas diversificadas

Ao contrário da crença popular, não é que os jornais não tentaram, diz O’Shea no livro. Ele conta que nove empresas jornalísticas – dentre elas New York Times, Washington Post, Tribune, Cox e Hearst – juntaram forças, na metade dos anos 90, para criar a rede New Century Network (NCN), a fim de vender seus produtos online a um bom preço para os leitores. O grupo durou apenas três anos, devido a filosofias diferentes e egos inflados demais. “Se todo este conteúdo de alta qualidade fosse pago, teríamos um cenário completamente diferente hoje”, acredita o autor.

“Se o NCN tivesse sido mais bem explorado, as receitas das empresas teriam se diversificado e a receita publicitária seria menos crucial. Assim, elas teriam criado um incentivo para cobrar pelo conteúdo. Mas, em vez disso, elas deram conteúdo de graça, esperando ter receita publicitária suficiente”, explica. O problema foi que, embora a informação fosse de qualidade, ela não era única.

No livro, O’Shea analisa os magnatas que administraram o Tribune até a sua venda para Sam Zell, bilionário do ramo imobiliário. Eles são descritos como seres humanos complexos que colocaram ganhos financeiros pessoais e lucros dos acionistas acima do processo de apuração de notícias. Ainda assim, O’Shea afirma que eles não são nada comparados a Zell, que não tem “nenhuma qualidade como ser humano e nem preocupação com o interesse público”. Com informações de Steve Weinberg [USA Today, 27/6/11].