O lançamento do livro de memórias de Bill Clinton estava cercado de muita expectativa e a editora que o publicou, a Alfred A. Knopf, adotou como estratégia fazer mistério em torno da obra: não liberou o texto com antecedência para a imprensa, como é de praxe. Ainda assim, os jornais americanos, no dia 23/6 – dia seguinte ao lançamento oficial – publicaram resenhas da autobiografia. Em artigo para a Slate [30/6/04], Jack Shafer questiona como os críticos podem ter lido o calhamaço de 957 páginas tão rapidamente.
A própria Slate encarregou três jornalistas de dividirem o livro entre si. Gastaram 27 horas de trabalho só para ler e fazer algumas anotações. Shafer conversou com diferentes colunistas que publicaram textos sobre as memórias, como Tim Rutten, do Los Angeles Times, Robert Sam Anson, do New York Observer, e Francine Prose, do Newsday, e eles admitiram que não leram tudo ou o fizeram apenas superficialmente. ‘Este é mais um evento político que literário’, explicou Anson.
Shafer comenta que havia começado a fazer seu artigo pensando que terminaria sendo contra esse tipo de ‘crítica-relâmpago’, mas acaba concluindo que elas têm seu papel. ‘Se a Knopf – ou Clinton – quisessem críticas resultantes de prazos mais longos, saberiam como fazê-lo. Se eles querem tratar o livro como um fato noticioso, não há motivo para os críticos não fazerem o mesmo’, escreve.