Cinco semanas após vir à tona quem era o Garganta Profunda do caso Watergate, Bob Woodward, o jornalista que publicou o escândalo nas páginas do Washington Post, lança um livro em que tenta esclarecer melhor pontos que antes não podia comentar, pois protegia a identidade de seu informante, Mark Felt. Contudo, como informam USA Today [5/7/05] e The Economist [7/7/05], o livro, intitulado The Secret Man (o homem secreto), acaba não se aprofundando o suficiente, considerando que se tratava do maior segredo da política americana nas últimas três décadas.
Não fica claro, por exemplo, porque Felt resolveu colaborar com Woodward e seu colega repórter Carl Bernstein. O informante era, na época, o segundo homem do FBI e sentiu-se passado para trás por não ter sido escolhido como sucessor do diretor J. Edgar Hoover, a quem tinha como um herói. Por sinal, essa admiração explica em parte a razão de Felt ter entregue a história à imprensa, já que Hoover mostrava com seus atos que acreditava que os fins justificam os meios. Mas ainda que o Garganta Profunda estivesse tomado de rancor, provavelmente havia algo mais que explicasse sua atitude, e o livro de Woodward não mostra o que é.
Assim, a menos que a família de Felt apareça algum dia com um revelador livro de memórias, será impossível saber toda a história do caso Watergate porque, aos 91 anos, o informante já não se lembra de muita coisa. Sobre seu próprio papel nesse caso, Woodward é bastante crítico no livro: ‘Meu retrato não é algo admirável’, escreve, admitindo que ‘usou Felt’ e ‘mentiu a um colega’ para proteger sua identidade.