O jornal francês Le Monde afirmou, esta semana, ter provas de que um de seus repórteres foi espionado pelos serviços secretos do país como parte de uma investigação do “Caso Bettencourt”. De acordo com o diário, novos documentos mostram que agências de inteligência ordenaram que a operadora de celular Orange entregasse os registros telefônicos do repórter investigativo Gérard Davet, com detalhes de cada telefonema e sua localização ao fazer as ligações.
A nova descoberta aumenta a pressão sobre o governo do presidente Nicolas Sarkozy. O “Caso Bettencourt” teve início como uma briga na família de Liliane Bettencourt, herdeira da L’Oréal e uma das mulheres mais ricas da França. A filha de Liliane começou a se preocupar com doações altas feitas pela mãe, de 88 anos, para um fotógrafo, e entrou na justiça acusando-o de abusar da fraqueza dela. A história acabou se resolvendo em 2010, mas as investigações do caso revelaram mais doações e ligações de Liliane com diversos políticos franceses – Sarkozy, por exemplo, foi acusado de receber dinheiro para sua campanha, em 2007, e chegou a ir a público negar que tivesse se aproveitado da fortuna da herdeira. À medida que novas doações eram descobertas e expostas pela imprensa, eram abertas mais investigações sobre financiamento ilegal de partidos, evasão de impostos e lavagem de dinheiro.
Davet tornou-se alvo das investigações depois de um artigo que revelava o envolvimento do ministro do Trabalho, Eric Woerth, no caso. Em setembro do ano passado, o Le Monde abriu uma ação contra o gabinete do presidente por violação da lei que protege o anonimato de fontes jornalísticas. O jornal alega que, logo após o serviço secreto ter pedido ilegalmente os registros telefônicos do jornalista, em julho de 2010, espiões estatais identificaram uma funcionária do Ministério da Justiça como fonte de uma das matérias escritas por ele – ela teria sido rebaixada de cargo e transferida para a Guiana Francesa. Informações de Angelique Chrisafis [The Guardian, 1/9/11].
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