Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

The Economist avalia estado da mídia impressa

“Quem matou os jornais?”. A pergunta foi estampada na capa da revista britânica Economist em 2006. Talvez tenha sido prematura, mas não há dúvidas de que jornais, em muitas partes do mundo, estão passando por um momento difícil. Nos EUA, onde o índice de sofrimento dos diários é alto, a culpa costuma recair sobre Craig Newmark, fundador do Craigslist, site de classificados mantido por anúncios e, na maior parte, gratuito para os usuários. Newmark já foi chamado de “assassino de jornais” e “detonador do jornalismo”. Fato é que o sucesso do Craigslist, o nono site mais popular dos EUA, contribuiu para a dura diminuição dos lucros com classificados nos jornais impressos.

No entanto, a queda da receita com anúncios influenciada pela internet é apenas uma das razões para o declínio dos jornais americanos, que começou há décadas. O advento dos telejornais e, então, da TV a cabo, afastou leitores e anunciantes. Nos anos 90, foi a vez da internet. Uma nova geração de leitores cresceu obtendo suas notícias da TV e da web – que são, agora, as duas fontes líderes de informação nos EUA (a internet ultrapassou os jornais em 2010 e já é a fonte mais popular entre a faixa abaixo dos 30 anos).

Dependência da publicidade

Estas mudanças tecnológicas atingiram principalmente os jornais americanos por conta de sua forte dependência da publicidade. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2008, os jornais americanos dependeram, coletivamente, dos anúncios para 87% da receita total, mais do que qualquer outro país desenvolvido pesquisado. A recessão em 2008 e 2009 piorou a situação. Entre 2007 e 2009, os lucros de jornais na França caíram 4%; na Alemanha, 10%; no Reino Unido, 21%; nos EUA, 30%. Além disso, uma série de fusões e aquisições no mercado americano deixou muitas empresas afundadas em dívidas e levou algumas à falência.

Para jornais regionais americanos, demissões e fechamentos ainda são possibilidades em aberto. Em retrospecto, está claro que a indústria jornalística dos EUA tornou-se dependente de monopólios publicitários locais. “O problema real que muitas organizações de notícias americanas têm é que elas são definidas pela geografia – o quão longe os caminhões podem ir para entregar jornais pela manhã”, disse Joshua Benton, chefe do Nieman Journalism Lab, instituição de pesquisa em jornalismo da Universidade de Harvard. A internet prejudicou o negócio jornalístico ao dar alternativas para anunciantes e leitores.

A saúde dos jornais é especialmente importante porque eles tendem a estabelecer a pauta para outros veículos e empregam a maior parte dos jornalistas. Nos EUA, por exemplo, as emissoras de TV tinham em torno de 500 jornalistas em 2009, comparado a mais de 40 mil nos jornais diários.

Cenário mundial

Na Europa ocidental, a situação também não é das melhores. Na Alemanha, por exemplo, a queda de 10% na receita em meio a uma das piores recessões em uma geração “não é um resultado terrível”, na opinião de Rasmus Kleis Nielsen, do Instituto Reuters. “Isto não significa que a indústria alemã está imune a mudanças de longo prazo, mas o país tem uma audiência grande e leal, marcas fortes e fontes editoriais para administrar esta transição”, disse Nielsen. Além disso, muitos jornais europeus são empresas familiares, o que ajuda a protegê-los em tempos difíceis.

No Japão, terceiro lugar do mundo em venda de jornais, a circulação manteve-se estável, em parte porque mais de 94% dos jornais são vendidos por assinatura. No entanto, há problemas no horizonte – os jovens japoneses não têm o mesmo entusiasmo pelo impresso que os mais velhos e a receita publicitária está caindo com o envelhecimento da população.

Na Rússia, o número de títulos aumentou 9% em 2009, mas não seria de todo ruim se alguns fechassem – em especial os que são porta-vozes para autoridades locais, opinou Elena Vartanova, reitora da faculdade de jornalismo da Universidade do Estado de Moscou. O Kremlin controla 60% dos jornais russos e detém ações em todas as seis emissoras de TV nacionais. Em um país no qual jornais são tradicionalmente usados como ferramentas de propaganda, sites online são uma oportunidade para romper com o passado – mas há uma clara divisão entre os jovens, que usam a web para acessar notícias, e a população rural, que depende da TV estatal para obter informações.

Não há, certamente, nenhum sinal de crise na Índia, que é o mercado jornalístico que mais cresce no mundo. Entre 2005 e 2009, o número de jornais pagos no país aumentou 44%, para 2,7 mil, e o número total de jornais subiu 23%, chegando a mais de 74 mil. Em 2008, a Índia ultrapassou a China na liderança da circulação diária de jornais pagos – com 110 milhões de cópias vendidas diariamente. “Editoras indianas vão a conferências de jornais e reclamam que elas são muito focadas no digital e não suficientemente no impresso”, disse Larry Kilman, vice-presidente da Associação Mundial de Jornais. Mas não se sabe ainda se os mercados crescentes – como Índia e Brasil – serão impactados, no curto prazo, pelo aumento do acesso à internet.

As notícias televisivas também estão em um bom momento na Índia: dos mais de 500 canais por satélite que foram lançados no país nos últimos 20 anos, 81 são jornalísticos – a maioria é, no entanto, abertamente partidária. A China é um outro mercado no qual a mídia está crescendo rapidamente, mas o rígido controle do governo sobre notícias e opiniões intensificou-se nos últimos meses. Informações da Economist [7/7/11].

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