Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Sexta-feira, 30 de abril de 2010 TIME Fernando de Barros e Silva Lula, the guy ‘Lula, escolhido o líder mais influente do planeta pela ‘Time’? Havia ontem uma intensa discussão a respeito do lugar que foi destinado ao presidente brasileiro. Seria mesmo ‘o primeirão’? Ou era apenas um dos ‘25 eleitos’ pela publicação americana na categoria ‘líderes’? Conforme a própria revista depois esclareceu, essa última interpretação é a mais correta. Mas, afinal, que diferença faz? A discussão serviu apenas para pôr em relevo o aspecto frívolo e bizantino da própria lista. Ela diz menos sobre as personalidades que supostamente ilumina do que sobre as taras e misérias de um mundo que precisa a todo instante se reconhecer no espelho das celebridades que fabrica. Todo ranking, no fundo, é só uma forma de alimentar o bovarismo da sociedade do espetáculo. A lista é tola, mas não significa que seja ‘arbitrária’. Já houve coisas muito piores. Na década de 70, a própria ‘Time’ fez uma relação de quem seriam os 150 líderes mundiais no fim do milênio. Brasileiros? Havia dois. Um era o então deputado Célio Borja. O outro, o ministro da Agricultura de Ernesto Geisel, Alysson Paulinelli. Sim, acredite. O caso de Lula é evidentemente distinto. Um líder operário que chega à Presidência de um país como o Brasil e no final do mandato reúne mais de 70% de aprovação popular. No perfil que escreveu do petista, o documentarista Michael Moore diz platitudes, mas é certeiro ao afirmar: ‘O que Lula quer para o Brasil é o que nós costumávamos chamar de sonho americano’. Um mundo de consumidores banais e felizes. Uma sociedade remediada na sua selvageria pela força integradora do dinheiro. Do socialismo, nem o cadáver. Esse é o horizonte em que se movem Lula e sua utopia mundana. Moore viu o que muito petista ainda não entendeu. Pelos prêmios já acumulados e pelo conjunto da obra, a ‘Time’ deveria ter incluído Lula na lista dos ‘artistas’. E Dunga talvez esteja pensando se não há um lugarzinho para ‘o cara’ na sua seleção.’ Andrea Murta Revista ‘Time’ inclui Lula entre os cem mais influentes do mundo ‘Primeiro citado na categoria líderes, o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou na lista das cem pessoas mais influentes do mundo em 2010 da revista americana ‘Time’, divulgada ontem. A revista diz não se tratar de ranking, o que no mínimo deixa o brasileiro em posto tão influente quanto o do presidente dos EUA, Barack Obama, quarto mencionado na categoria. Lula já tinha aparecido na relação em 2004, início da série anual da ‘Time’. Além de líderes, estão na lista as categorias heróis (o primeiro nome é o do ex-presidente americano Bill Clinton), artistas (como a cantora Lady Gaga) e pensadores. Mais do que uma medida de poder, a escolha de Lula um dos mais influentes reflete a popularidade do presidente ao final de seu mandato e o impacto ao redor do mundo da imagem de ‘legítimo filho da classe trabalhadora da América Latina’, como descreve a ‘Time’. Analistas consultados pela Folha veem a escolha como algo merecido sobretudo por Lula demonstrar que uma pessoa do povo pode chegar ao poder num país tão desigual. Mas afirmam que isso não significa influência nas grandes questões políticas internacionais. Apesar da ampliação da presença do Brasil no cenário externo, a influência de Lula não foi suficiente para desembaraçar temas prioritários do Itamaraty como a Rodada Doha e a reforma do Conselho de Segurança da ONU. A própria ‘Time’ afirma que a lista não se refere aos mais poderosos. ‘É sobre o poder da influência, indivíduos que, com suas ideias e ações, mudam o mundo, em geral para melhor’, disse o editor Richard Stengel. ‘Lula certamente é alguém que deixou uma marca’, afirmou à Folha Peter Hakim, presidente do ‘think tank’ (centro de estudos) Diálogo Interamericano. ‘No caso dele, ser [um dos] mais influentes significa ter mais apelo.’ Sua posição de semicelebridade fica mais clara quando se vê o autor de sua biografia para a ‘Time’. Em vez de um analista, é Michael Moore, diretor e documentarista crítico do governo e do poder americanos. Para Moore, Lula é o líder de uma cruzada das classes baixas em busca de tudo o que lhes foi negado no passado. ‘Enquanto [Lula] tenta levar o Brasil para o Primeiro Mundo com programas como o Fome Zero e planos para melhorar a educação da classe trabalhadora, os EUA se parecem cada dia mais com o Terceiro Mundo.’ Apesar de a revista repetir ano a ano que sua lista não diferencia posições, Lula está no topo dos cem nomes enumerados -a categoria ‘líderes’ é a primeira a aparecer no site da ‘Time’- e foi retratado ontem na mídia internacional como ‘o líder mais influente do mundo’. Indagada pela Folha, a revista disse que uma série de fatores influenciam a ordenação dos nomes da lista, de fotos a quem escreveu o perfil. O chanceler Celso Amorim chegou a dizer que Lula estar na primeira colocação não surpreende. Dilma Rousseff, pré-candidata do PT, também afirmou que a escolha é ‘um prêmio a todos os brasileiros’. A afirmação foi feita ontem na Agrishow, feira agrícola em Ribeirão. No mesmo evento, Serra parabenizou o presidente. ‘O mundo tem uns 200 países, e ele estar nesse grupo de 25 principais personagens é uma conquista.’ Os elogios vieram também de Marina Silva, pré-candidata do PV. ‘Não é porque estou num partido diferente que ia desconhecer o mérito da liderança dele.’’ CAMPANHA Eliane Cantanhêde De tropeço em tropeço ‘A campanha de Dilma Rousseff tem tudo demais, e a de José Serra parece ter tudo de menos, quando se trata de alianças, palanques, tempo de propaganda na TV e equipes de jornalismo, de agenda, de internet. Mas o resultado é que a campanha de Dilma também tem errado muito mais. Digamos que proporcionalmente mais: quanto mais gente e parafernália, maior a chance de erros. Afora o ataque ao Mercosul, equivocado sob vários ângulos, Serra tem errado pouco. Já Dilma já tem uma bojuda coleção de ‘tropeços verbais, agenda errática, coordenação inchada e mau uso da estrutura de internet’, como disse o jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de Lula em campanhas e no governo. Logo, insuspeito. Do ‘Dilmasia’ na cara de Hélio Costa em Minas à fraude da foto de Norma Bengell, passando pelas agendas canceladas de última hora, o que se imagina é que estão batendo cabeça. Como se um dissesse para Dilma usar rosa, o outro exigisse azul; um a empurrasse para o Ceará, o outro puxasse para Santa Catarina; um quisesse um site programático, o outro estimulasse a troca de figurinhas da militância. Por enquanto, até pode. As candidaturas ainda não foram oficializadas e, afinal, a Copa do Mundo vem aí. A fase da campanha, portanto, é de aprendizagem e aquecimento. Mas não vai ser sempre assim. Em campanhas muito polarizadas, em que se fala até em definição no primeiro turno, os candidatos e candidatas têm não apenas de acertar, firmar diferenças a seu favor e conquistar confiança mas principalmente não errar. Dilma tem Lula e o vento a favor, mas a campanha tem de ajudar, não atrapalhar, e cabe a ela fazer o resto, ou o principal. Campanhas são cada vez mais sofisticadas e científicas, mas também cometem erros (como se vê) e não fazem milagre. Não tem santo nem pesquisa que substitua ou reinvente Sua Excelência, o(a) candidato(a).’ TV PÚBLICA Mario Cesar Carvalho e Laura Mattos Política e críticas a gestão ditam troca na TV Cultura ‘O jornalista Paulo Markun deixou de ser o candidato do governo paulista à presidência da TV Cultura para a eleição de 10 de maio por dois motivos práticos e por necessidade de acomodação política, segundo conselheiros da Fundação Padre Anchieta, que administra a emissora, ouvidos pela Folha. Os motivos práticos citados pelos conselheiros são a suposta incapacidade de Markun de cortar funcionários (e custos) e de mudar a programação da emissora. A acomodação está ligada à dança de cadeiras no PSDB: com a troca de governo em 2011, João Sayad, secretário de Cultura do governo paulista, ficaria sem cargo mesmo em caso de vitória de Geraldo Alckmin, com quem não tem afinidade política. Andrea Matarazzo deve substituir Sayad na secretaria. A acomodação política uniu-se ao desejo de Sayad de ocupar a presidência da TV para tentar mudá-la radicalmente. Markun foi convidado para o cargo por Sayad, mas as críticas abertas do ex-secretário à programação da emissora corroeram a relação entre os dois. A tensão começou já no início do mandato de Markun, em 2007, como comprovam atas do conselho da fundação. Markun reclamava da redução de verbas do governo. Em outubro daquele ano, mencionou o corte de R$ 18,8 milhões, que seriam utilizados na digitalização da TV. Sayad saiu em defesa do governo, dizendo que a Cultura tinha ‘missão de convencer o governo a aumentar seus aportes’. ‘Não falta dinheiro para bons projetos’, provocou o secretário, para quem a emissora carecia de ‘controle interno’. O governo Serra e os conselheiros consideravam sem sentido o número de funcionários da emissora -cerca de 1.800, dos quais 600 estão emprestados para a TV Justiça e para a emissora da Assembleia. O tema foi debatido entre Sayad e Markun em reunião do conselho de 2007. Um dos problemas era levantar dinheiro para pagar as indenizações dos demitidos. O outro era que a Secretaria da Fazenda não autorizava que a verba economizada com a redução dos funcionários fosse investida pela emissora em programação. O dinheiro ficava com o governo. Sayad disse que essa era a lógica do governo, mas insistiu que recursos poderiam surgir se houvesse ‘um bom projeto’. ‘É como a construção de uma estrada. Precisa ser demonstrada a sua viabilidade. A construção da TV Cultura obterá recursos na medida em que essa missão for elaborada.’ Dessa tensão surgiu um acordo assinado entre a fundação e o governo no final de 2008. O texto deixava clara a intenção do governo de controlar gastos e cobrar resultados da TV. As divergências entre Markun e Sayad atingiram o ponto alto na negociação desse contrato. Ambos chegaram a conversar com ironia em uma reunião três meses antes da assinatura desse documento. Markun tentou elevar a receita própria emissora, em vez de demitir funcionários, como queria o governo. Aumentou o número de programas que fazia para o Ministério da Educação e secretarias. Passou a editar livros. No ano passado, fez três milhões de exemplares. A receita própria cresceu 22% entre 2007 e 2009 -de R$ 99 milhões para R$ 120 milhões. O próprio Markun, porém, reconheceu numa reunião do conselho em que fez o balanço de sua gestão que descuidara da programação. A avaliação do governo Serra das contas era bem diferente. Segundo essa visão, se não fosse o convênio da Universidade Virtual do Estado com a TV Cultura, pelo qual a emissora recebeu R$ 18 milhões, as contas ficariam no vermelho. José Serra, pré-candidato à Presidência, ficou irritado quando Markun anunciou em junho de 2008 que a Cultura criaria um Museu da TV Brasileira. O governador avaliava que a fundação deveria cortar gastos, em vez de elevá-los. Procurado pela Folha, Markun não quis se pronunciar.’ Governador sempre indicou os dirigentes ‘Considerada a melhor TV pública do país, a TV Cultura de SP nunca teve dirigente que não fosse indicado pelo governador. Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação Padre Anchieta (que administra o canal) de 1995 a 2004, e presidente do conselho de 2004 até a próxima eleição, disse à Folha nunca ter visto ‘eleição que não fosse previamente acertada’. O conselho tem entre seus membros secretários de governos e representantes da sociedade civil ligados ao governador. Além disso, o Estado de SP é responsável por um terço da receita anual da TV Cultura (R$ 80 milhões de R$ 240 milhões), fatia que já foi maior. Se um candidato de oposição vencesse a eleição, ainda poderia sofrer corte de verbas. Ex-presidente da Radiobrás e atual conselheiro da fundação, Eugênio Bucci acha que, apesar disso, a ‘Cultura é a mais democrática do país, mais até do que a TV Brasil [criada por Lula a partir da Radiobrás]’. ‘O presidente da TV Brasil é definido pelo presidente da República. O conselho não participa da escolha. Na Cultura, a eleição de um opositor do governo é possível. Claro que o governo pode asfixiar o orçamento da TV pública, mas a questão é cultural. O mais difícil é mudar o hábito das pessoas. Há muitos profissionais indicados por políticos, o que cria núcleos de poder e uma programação próxima ao interesse do governo’, afirma.’ TODA MÍDIA Nelson de Sá Lula Lá ‘A revista saiu ontem, pela primeira vez, com uma capa ‘foldout’ em quatro partes, com fotos de, entre celebridades e empresários, Sarah Palin, Bill Clinton (na principal) e Lula. Com mais de 170 páginas, escolhe as ‘100 pessoas mais influentes do mundo’ Relações públicas A revista postou a ‘lista completa’ com Lula no alto e precedida pelo número ‘1’. Na manchete do UOL e de outros no meio do dia, ‘Time’ elege Lula o líder mais influente do mundo’. No fim da tarde, ‘Lula está entre os líderes mais influentes’. E a informação de que ‘o departamento de relações públicas da revista esclareceu que a lista não é ranking’. Também no portal G1, ‘o setor de relações públicas explicou que a decisão de colocar Lula como número 1 se deu meramente por razões editoriais’. Nos dois portais, à noite, ‘Serra parabeniza Lula’. Noutros, Dilma também parabenizou. TOPS A agência UPI despachou o enunciado ‘Da Silva encabeça [tops] lista de influentes da ‘Time’. Na AFP, ‘Lady Gaga, Bill Clinton e Lula encabeçam lista de influentes’. SÓSIA A Reuters destacou ‘Bill é influente, Hillary não’. Em análise, o Huffington Post criticou a ausência de Hillary -e ironizou que Lula é ‘sósia de Paul Krugman’. A AGENDA DE LULA Em editorial e reportagem, com ilustração (acima), a ‘Economist’ saiu em defesa do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e focou ‘A agenda do Brasil’. Diz que ‘entende’ a posição do país e de outros como África do Sul e Egito, que questionam o favorecimento dos EUA a Índia e Israel, não signatários do tratado, mas que ‘é hora de colocar o interesse coletivo primeiro’. Na reportagem, questiona a suposta resistência do Brasil a inspeções da agência de energia e volta a pressionar Lula, longamente, contra a viagem ao Irã, no mês que vem. LIMITES DE OBAMA O perfil de Barack Obama na ‘Time’, escrito pelo editor da ‘New Yorker’, destaca que seu ‘charme’ será posto à prova agora pelos ‘interesses variados demais de China, Índia, Rússia, Brasil e todo o resto’. E ‘não deve ter efeito’, pois ‘tem seus limites’. SEM MONOPÓLIO Na ‘Newsweek’, ‘Novo acordo de defesa mostra força crescente do Brasil’. Diz que ‘EUA reconhecem que ficou grande demais para intimidar [bully]’. E que, ‘com a riqueza passando aos emergentes, nem a superpotência detém mais o monopólio’. ÍNDIA QUER BRASIL A correspondente da BBC Brasil na Índia informou que o país planeja ‘alocar recursos de US$ 2,5 bi no Brasil’, em aquisições, segundo ‘alto funcionário’ da chancelaria. Dois dias antes, também destaque, ‘Índia quer aviões da Embraer para ampliar frota comercial’. Há um mês, no UOL, um diplomata indiano avisou que, ‘Por Lula, Índia abre mão de sucessão na ONU’. ROUBINI E A ELEIÇÃO O economista Nouriel Roubini escreveu na ‘Forbes’ a análise ‘América Latina vai se expandir em 2010’. Diz que revisou para cima a expectativa de crescimento do Brasil. E que o ciclo eleitoral não deve ter maior peso, pois, ‘independentemente de quem tome o poder entre os principais candidatos’, Serra ou Dilma, ‘a atual política econômica provavelmente será mantida’. FAZENDO O NOME Na nova ‘Economist’, sob o título ‘Fazendo o nome por eles mesmos’, a lista com as ‘100 marcas mais valiosas do mundo’, da Millward Brown, trouxe ‘empresas de classe mundial’ dos emergentes. ‘Entre as que entraram estão Baidu, chinesa de web, ICIC, banco indiano, e a Petrobras, a gigante brasileira’. NO BRASIL TEM Na cobertura da mancha de petróleo no Golfo do México, os sites dos jornais dos EUA davam manchete ontem para o envolvimento de Obama -e o ‘Wall Street Journal’ anotava que a plataforma não tinha um botão de desativação que ‘a Noruega e o Brasil exigem para se garantirem contra vazamentos’. ‘Esqueçam teorias conspiratórias. Divirtam-se muito. E torçam, os já saudosos, para que o tio consiga voltar depois dos desafios de 2010.’ Do apresentador WILLIAM BONNER , no Twitter, informando que deixa de postar para retomar exercícios contra ‘dores terríveis’ de uma hérnia discal. ‘A Globo entendeu meu Twitter como algo saudável’, acrescenta’ CUBA Jornalista dissidente é condenada em Cuba ‘A jornalista oposicionista cubana Dania Virgen García foi presa e condenada a um ano e oito meses de prisão por ‘maus-tratos’ domésticos contra sua filha e ‘abuso de autoridade’, informou ontem um dissidente cubano. Críticos do regime castrista e a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) denunciaram indícios de caráter político na punição. Segundo o site CubaNet, um dos veículos para os quais García trabalhava, a jornalista foi presa no último dia 20, não teve acesso a advogados e, ‘três dias depois, foi condenada’. García, 41, foi acusada de agredir sua filha de 23 anos. A filha não respondeu ao telefonema da agência France Presse, mas, segundo Elizardo Sánchez, líder da Comissão de Direitos Humanos de Cuba (ilegal, mas tolerada pelo regime), a jovem ‘disse que é bom que a mãe esteja presa para que mude sua forma de pensar’. Até ontem, não estava claro o que de fato ocorrera. O CubaNet cita uma versão na qual García teria expulsado a filha de casa -elas divergiam politicamente. Mas afirma que a jornalista vinha sendo intimidada pela polícia por seu ativismo político -García participara em recentes atos do grupo Damas de Branco, de mulheres de opositores presos. Segundo Sánchez, ela está atualmente detida e incomunicável em uma prisão de segurança máxima em Havana. A SIP pediu a libertação imediata de García. ‘[O caso] tem indícios de represália’, disse à Folha Alejandro Aguirre, presidente da entidade. ‘Chama a atenção que uma jornalista crítica ao governo tenha sido condenada de forma tão severa em três dias’, afirmou, ressaltando, porém, que os relatos dão conta de que García aparentemente cometeu a agressão. A pressão interna e externa sobre o governo cubano aumentou em fevereiro, após a morte, por greve de fome, do dissidente preso Orlando Zapata. Em protesto, o jornalista Guillermo Fariñas iniciou uma greve de fome que já dura mais de dois meses. Segundo a SIP, há 26 jornalistas presos em Cuba -García é a única mulher. Havana acusa os opositores de agir a serviço dos EUA e nega a existência de presos políticos na ilha.’ TECNOLOGIA Jobs diz que ‘Flash’ não serve para tablet e celular ‘O Flash, plug-in (programa acessório) motivo de discórdia entre sua criadora, a Adobe, e a Apple desde ao menos o lançamento do iPhone, voltou a causar distensão entre as empresas. O executivo-chefe da Apple, Steve Jobs, ontem tornou pública sua crítica ao Flash, afirmando que ele é uma decepção para dispositivos móveis (como o iPad). ‘A era móvel é sobre dispositivos com baixo consumo de energia, interfaces de toque e padrões abertos da web, as áreas em que o Flash é insuficiente’, escreveu, no site da Apple. A falta de suporte ao plug-in é uma das principais críticas à Apple. Com a mensagem, a Apple deixou claro que não planeja ceder um milímetro do controle de sua plataforma móvel que só cresce e que já tem mais de 200 mil ‘apps’ (aplicativos para download).’ TELEVISÃO Andréa Michael ‘Pânico na TV’ manobra com intervalos para subir no ibope ‘Foram seis semanas até o ‘Pânico na TV’ acertar a mão e deslocar para a última parte do humorístico o seu maior bloco sem intervalos comerciais. O programa ficou uma hora e 44 minutos no ar sem interrupção de propaganda, o que foi decisivo para garantir, ainda que por seis minutos consecutivos, a liderança na audiência no último domingo, com 15 pontos no Ibope (cerca de 9 milhões de domicílios ligados na atração na Grande São Paulo). O levantamento feito pelo Controle da Concorrência comprova que o ‘Pânico’ experimentou esticar o segundo bloco três vezes, e o primeiro, o terceiro e o quarto uma vez. No período de três semanas, o bloco mais longo sem comerciais nem ações de propaganda teve duas horas e 20 minutos, no dia 4 de abril. ‘É uma estratégia clara de sentir a resposta da audiência aos intervalos’, afirma Fabio Wajgarten, responsável pela análise. ‘Se você joga sempre do mesmo jeito, deixa rastros para que os concorrentes consigam te seguir. Aprendi a mudar o esquema dos intervalos’, confirma Alan Rapp, diretor do programa da RedeTV!. O alívio para o telespectador é necessário porque, segundo Wajgarten, o ‘Pânico’ exagera no tempo de comercial, com uma prática de seis minutos e meio por inserção contra uma média de três minutos de outros programas. VALE QUANTO PESA 1 Começam a ser exibidas hoje, em ‘Viver a Vida’ (Globo), as cenas de Renata (Bárbara Paz) e Felipe (Rodrigo Hilbert) gravadas em Portugal. Resultado de quatro ações de propaganda pagas pela prefeitura de Lisboa a R$ 3,2milhões. A atriz curtiu a culinária local e aproveitou a fama-a novela também está sendo exibida por lá. VALE QUANTO PESA 2 ‘Nunca imaginei que eu fosse tão conhecida por aqui.’ Sobre as guloseimas: ‘Já comi uns 20 pastéis de Belém. Não tem como não comer. Aqui, a Renata [a personagem vive de dieta] começa a gostar de comer e ter prazer com a comida’, brinca. 45 DO SEGUNDO TEMPO Ainda em análise, a nova campanha de aniversário da Globo terá elenco juvenil. CATARSE Revelação de Beth Lago ao mandar mensagens para o Twitter em bastidores do ‘Saia Justa’ (GNT): ‘Estou me sentindo tão Preta Gil’. É uma referência à conhecida freqüência da apresentadora do ‘Vai e Vem’ na rede de microblogs. SAUDADE Estreia em 9/5, na TV Brasil, a temporada 2010 de ‘Sambada de Gamboa’, gravado no tradicional reduto de sambistas Trapiche Carioca. E-FILMES As produções sobre natureza da BBC ‘Planeta Terra’ e ‘Blue Planet’ terão versões para download-também em HD no caso do primeiro. É o resultado de uma parceria entre a Log On Editora Multimídia e da Saraiva Digital. Poderão ser comprados em capítulos ou na íntegra.’ PROFETA Carlos Heitor Cony Como se faz a opinião pública ‘A NECESSIDADE de encher espaços nos jornais, nas rádios e, sobretudo, nas televisões criou, ou melhor, ampliou o número de pessoas entrevistadas que prestam depoimentos ou testemunhos sobre determinados fatos, comentam situações, dão aquilo que, desde tempos imemoriais, chamamos de palpite. Nos jornais e nas rádios, não se vê a cara do sujeito. Depreende-se apenas que ele está dizendo o que pensa ou acredita que pensa. Tolera-se assim seu depoimento ou seu testemunho sem avaliar o mérito da questão em si. Na TV é diferente. A cara aparece em close, com suas rugas, as sobrancelhas crespas ou grisalhas, o olhar varado pela luz da verdade, a boca escolhendo as palavras definitivas que encerram a questão de forma inapelável. Seja qual for o assunto, a convicção do depoente é sempre a mesma. Esperou-se tanto tempo, perderam-se tantas oportunidades, criaram-se tantos equívocos -e ali estava a solução de todos os problemas, o poço da verdade, captada em seu momento indestrutível. Outro dia, num desses programas da madrugada, revi a figura do notável historiador, já falecido, que, até os 50 anos, era apenas médico no Rio Grande do Sul e, depois dos 50, se tornou especialista em tudo aquilo que aconteceu ou desaconteceu nos anos 20 e 30 do século passado. Era a sua especialidade, tornou-se o oráculo. A tragédia de Hiddenburg, a Revolução de 30, a Guerra Civil na Espanha, o Campeonato Mundial de 38, Carmen Miranda indo para os Estados Unidos, o Estado Novo, todo o movimento integralista, a ascensão de Hitler, as bicicletas de Leônidas da Silva, os grandes sambas de Ary Barroso, as prisões de Prestes, tudo o que aconteceu naquelas duas décadas tinha nele não apenas o testemunho ocular da história, mas uma espécie de profeta retroativo, que tudo previra, tudo sabia e explicava. Sua expressão era de desdém para com os fatos, tal como eles passaram para as outras gerações. Lia-se no seu rosto, mais do que em suas palavras, a velada queixa, ‘tantas coisas importantes e mal contadas, e eu aqui, dando sopa, e só agora se lembraram de ir para a única fonte da verdade!’. O pior veio depois. Substituindo o competente historiador na telinha, apareceu a minha cara falando sobre outro assunto, mas com a mesma expressão facial: a de dono absoluto da verdade. Sempre que posso evito dar este tipo de testemunho; quando querem saber alguma coisa de meus livros, evidente que topo, afinal eu os escrevi para isso mesmo, dar a minha visão de mundo através da ficção. Mas geralmente os entrevistadores querem mais e querem tudo. Até sobre disco voador já fui perguntado. Respondi prontamente que não acreditava em tais entidades e achei que já tinha dito tudo o que me competia. Mas quiseram saber por que não acreditava e aí a coisa se complicou. Bem verdade que, se acreditassem, a coisa ficaria mais complicada, eu teria de provar a existência deles, mas afinal me perguntei: quem é o desafortunado que deseja saber o que eu penso sobre disco voador? Acredita-se que a soma de todos os palpites, os testemunhos, os depoimentos, as confissões e os desabafos formem aquilo que os especialistas chamam de opinião pública. Há institutos que se dedicam exclusivamente a aferir essa opinião e, uns pelos outros, estão mais ou menos coerentes. O mesmo não se dá com os cidadãos, geralmente técnicos disso ou daquilo, que abrem o verbo e explicam tudo ou tudo avaliam, sem muita necessidade de aprofundar os assuntos porque o tempo das entrevistas ‘infelizmente acabou’. O entrevistador agradece ao entrevistado, que modestamente admite: ‘Quem agradece sou eu’. E vai para casa satisfeito consigo próprio, esfregou a sua verdade na cara da opinião pública, daí em diante terá o consolo de ter cumprido a ação heroica de ter proclamado a verdade; se as coisas não são boas para o mundo, para a sociedade, para o equilíbrio cósmico, a culpa não é mais dele.’ ************ O Estado de S. Paulo Sexta-feira, 30 de abril de 2010 INTERNET Cláudia Trevisan Lei obriga provedores a auxiliar censura do governo na China ‘A China aprovou na quinta-feira, 29, uma lei que obriga provedores de internet e de serviços de telecomunicações a colaborarem com a polícia e autoridades governamentais em investigações relativas a vazamento de ‘segredos de Estado’, um conceito vago o bastante para incluir qualquer atividade que Pequim veja como suspeita. As novas regras também delegam às empresas de telecomunicações a responsabilidade de interromper a transmissão de possíveis segredos de Estado e de comunicar às autoridades eventuais suspeitas. Elas também devem manter registros de transmissões e deletar informações por determinação do governo. As mudanças fazem parte de uma emenda à lei sobre segredo de Estado aprovada pelo Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, que tem a responsabilidade de legislar, já que o Parlamento se reúne apenas uma vez por ano. De acordo com o governo, o objetivo da emenda é reduzir a abrangência do que pode ser considerado segredo de Estado. Mas mesmo com a mudança, o conceito continua vago e inclui ‘informação relativa à segurança e interesses do Estado que, se divulgada, pode prejudicar a segurança e os interesses do Estado nas áreas de política, economia e segurança nacional’. A emenda, que entra em vigor no dia 1º de outubro, também reduz o número de organismos governamentais com poder de classificar informações como segredo de Estado e tenta padronizar o procedimento, para evitar abusos. De acordo com a imprensa oficial chinesa, várias autoridades em todo o país se recusam a prover informações ao público com o argumento de que se trata de ‘segredo de Estado’. Privacidade Mas a nova legislação deve dificultar ainda mais a atuação de empresas de internet estrangeiras no país, dois meses depois de o Google decidir que deixaria de praticar a autocensura na China, o que levou à transferência de seu site em chinês para Hong Kong. A alteração também pode ser uma ameaça à privacidade dos usuários dos serviços de telecomunicações, providos exclusivamente por empresas estatais. A maior delas, a China Mobile, possui 539 milhões de clientes, que são alvo de frequentes tentativas do governo de controlar o fluxo de informação no país. O Google deixou de prover serviços de internet a partir da China sob o argumento de que as condições para atuar no país estavam cada vez mais hostis em razão da severidade da censura. O Yahoo! enfrentou um desastre de relações públicas em 2005, quando o jornalista chinês Shi Tao, usuário de seu serviço de e-mail, foi condenado a dez anos de prisão sob a acusação de divulgar segredo de Estado no exterior. Shi usou sua conta do Yahoo! para enviar a um amigo em Nova York documento do Departamento de Propaganda do governo enviado ao jornal em que trabalhava com orientações sobre os riscos relacionados aos 15 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989. Os jornais chineses são totalmente submetidos à censura estatal e recebem com frequência determinações sobre o que podem e o que não podem publicar. Shi admitiu ter enviado o e-mail, mas afirmou que seu conteúdo não poderia ser classificado como ‘segredo de Estado’. O Google decidiu sair da China antes de se ver envolvido em um caso semelhante. Quando anunciou que poderia tomar esse caminho, no dia 12 de janeiro, a empresa afirmou que várias contas de e-mail de seu serviço Gmail haviam sido alvo de hackers que atuavam a partir da China. De acordo com a companhia norte-americana, o alvo dos ataques eram ativistas de direitos humanos que atuavam na China e em outros países. ‘Para nós, pareceu que isso tudo era parte de um amplo sistema voltado a suprimir a [liberdade de] expressão, seja pelo controle das buscas na internet ou pela tentativa de vigiar ativistas. Tudo era parte do mesmo programa repressivo, do nosso ponto de vista. Nós sentimos que estávamos sendo parte disso’, disse na época um dos principais executivos do Google, David Drummond, em entrevista ao jornalista norte-americano James Fallows. Para ter um site em chinês dentro da China, o Google havia concordado em incorporar a seu sistema de buscas os mecanismos de bloqueio a informações ‘sensíveis’ impostos pelo governo chinês. Fora do país, a companhia continua sujeita à censura, mas é a mesma aplicada a todos os sites de internet estrangeiros, que têm que passar pelo filtro da Grande Muralha de Fogo dos censores de Pequim.’ Imprensa cubana destaca ‘êxito’ de Hugo Chávez no Twitter ‘O êxito do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na rede social de microblogs Twitter foi destaque na imprensa cubana nesta sexta-feira, 30, que considerou que o venezuelano pode ‘marcar um ponto’ a favor da esquerda nas novas mídias, segundo informações da agência AFP. ‘O fenômeno da conta do presidente Chávez no Twitter é um feito nas redes sociais e pode marcar um ponto para a correlação de forças nestes espaços, que pareciam exclusivos das forças de direita’, informou o site Cubadebate. A conta @chavezcandanga conseguiu ‘mais de 85 mil seguidores em suas primeiras 24 horas’ de existência – foi aberta à meia-noite da terça-feira – e agora tem mais de 130 mil, o que representa um ‘acontecimento histórico’ e um ‘fenômeno sem precedentes na internet de língua espanhola’, acrescentou o site. O programa de televisão Mesa Redonda também ressaltou a iniciativa de Chávez, assim como outras agências gerenciadas pelo governo. O Cubadebate destacou que Chávez segue ‘somente cinco usuários’ no Twitter, entre eles o @reflexionfidel, que difunde os artigos do líder cubano Fidel Castro desde 2007. Chávez considera Castro como seu ‘pai ideológico’. Os outros perfis que o venezuelano segue são o de seu partido, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), o do ministro de Obras Públicas, Diosdado Cabello, o de um jornal venezuelano e o do ministro do Interior, Tarek El Aissami.’ TELEVISÃO Sonia Racy Depenando a Globo ‘Depois de tirar do ar sua mensagem de 45 anos – que um assessor de Dilma considerou serrista – a Globo está sendo ‘convidada’, em texto na internet, a tirar de sua grade qualquer resquício de tucanagem. Algumas sugestões: * O Mais Você, de Ana Maria Braga, passa a se chamar Manhãs Edificantes e o ‘Louro José’ vira ‘Louro João’. * Drauzio Varella sai do Fantástico e só retorna após as eleições, por ser muito parecido com Serra. * Fica proibido o uso, nas trilhas sonoras das novelas, do Opus 45 de Chopin. * A reserva Raposa Serra do Sol será chamada, no JN, apenas de Raposa do Sol.’ ************