O jornalista da Martinica Harry Roselmack, de 32 anos, será o primeiro âncora negro a apresentar um noticiário no horário nobre da televisão francesa. Ele foi escalado pelo TF1, maior canal da França, para substituir em julho o mais conhecido âncora da emissora, Patrick Poivre d´Arvor, que sai em férias. O jornalista apresentará o noticiário mais assistido no país, com público estimado em 5 milhões de telespectadores.
A escolha de Roselmack teve influência do presidente Jacques Chirac. Após a onda de violência que assustou o país em novembro do ano passado, o governo francês havia iniciado uma campanha de pressão para o aumento da diversidade racial na mídia.
Durante os confrontos entre a polícia e descendentes de imigrantes, que protestavam a morte de dois jovens perseguidos por policiais, notou-se que os manifestantes não eram representados em nenhum grau pelos jornalistas que noticiavam o problema. Ainda que jornalistas de origem árabe e africana tenham apresentado noticiários em canais menores e fora do horário nobre, os principais telejornais sempre foram comandados por brancos. A isto é atribuída parte da culpa pelo senso de alienação sentido pela juventude negra e árabe dos subúrbios pobres da França.
Depois que o conflito foi controlado, o presidente pediu publicamente que toda a mídia francesa, e especialmente as redes de televisão, se esforçassem para contratar jornalistas de minorias étnicas. O TF1 afirmou que contratou Roselmack para responder ao apelo de Chirac, mas também por se tratar de ‘um jornalista muito bom’.
Sorridente, sexy e competente
Apesar de nascido na ilha caribenha, Roselmack cresceu em Tours, no oeste da França. Ele trabalhou em rádio e, nos últimos seis meses, tornou-se popular no canal de notícias a cabo i-TELE. Elogiado por apresentar as notícias com clareza e por passar uma imagem de seriedade e calor humano, o jornalista foi recentemente descrito por um jornal francês como ‘tendo a aparência física de um playboy, sorridente e sexy’.
Além de substituir o veterano Poivre d´Arvor em julho, Roselmack apresentará regularmente os boletins do LCI, canal de notícias 24 horas do TF1. Amirouche Laidi, que preside um grupo de pressão por equilíbrio étnico na mídia francesa, elogiou a escolha. ‘Harry Roselmack, um homem negro no noticiário noturno do TF1, será algo explosivo, um grande avanço’, afirmou. ‘Será também uma vitória por normalidade. Muito em breve, ninguém mais verá o homem negro na televisão, e sim o jornalista’, ressaltou. O ministro da Igualdade de Oportunidade, Azouz Begag, completou que a indicação de Roselmack é um ‘grande passo à frente’, pois a televisão é ‘o espelho no qual a sociedade se enxerga’. Informações de John Lichfield [The Independent, 8/3/06] e do New York Times [8/3/06].