O veterano jornalista americano Bill Moyers fez sua última apresentação no programa NOW, da rede de TV pública PBS, na sexta-feira, 17/12. Moyers já havia anunciado a intenção de se aposentar no fim deste ano em uma palestra na convenção nacional da Society of Professional Journalists em setembro último, quando discursou sobre a relação entre imprensa e democracia.
Aos 70 anos, o jornalista pretende dedicar-se a escrever. Sua trajetória é no mínimo interessante. Com 54 anos de carreira – 33 deles na televisão pública –, ele foi porta-voz do presidente Lyndon Johnson, correspondente da rede CBS e um pioneiro produtor de TV. Ganhou 10 prêmios Peabody e mais de 30 Emmy.
Há quase três anos no ar com o semanal NOW, fazia um respeitável trabalho baseado, segundo a revista The Nation [9/12/04], em um princípio raro no jornalismo de hoje em dia: seriedade. Poucos dias depois da nomeação da Conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, para o cargo de Secretária de Estado deixado por Collin Powell, Moyers dedicou boa parte do programa a fazer uma análise sobre a atuação de Condoleeza no governo americano até então: sua falha em não dar importância às ameaças terroristas sofridas pelos EUA antes dos ataques de 11 de setembro, sua resposta incompleta aos ataques, seu papel na campanha pela guerra no Iraque e seu esquema para evitar cooperar com a Comissão Independente que investigou os atentados. A reportagem ampla, precisa e pontual lembrou o ataque feito pelo apresentador Edward R. Murrow ao senador Joseph McCarthy no programa See It Now, da CBS, na década de 1950, afirma artigo da The Nation.
Infelizmente, a PBS de 2004 não mobiliza a opinião pública da mesma forma que a CBS fazia há 50 anos. Assim como fez com a nova Secretária de Estado americana, Moyers oferecia, através do NOW, análises consistentes e reveladoras dos mais variados assuntos, desde ameaças a proteções ambientas em decorrência de acordos de comércio internacionais até os abusos cometidos por políticas estimuladas por interesses duvidosos. Por isso, Moyers fará falta.
Em uma época onde as emissoras – inclusive as públicas – se curvam diante de pressões comerciais e ideológicas que costumavam ser vistas como antiéticas ao bom funcionamento do jornalismo, Moyers criou um programa que muitos telespectadores americanos consideravam ser a única razão para se ligar a TV.