Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Mario Vitor Santos

"O mundo talvez viva a maior crise econômica, que alguns especialistas consideram mais grave do que a Grande Depressão da década de 1930. Nesse momento ‘desastroso’, como definiu o presidente americano Barack Obama, desenvolve-se o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Trata-se da edição mais importante da reunião dos manda-chuvas: economistas, empresários e governantes. Todos concentrados em descobrir o que vai acontecer com a economia mundial. O mundo está às vésperas do que pode ser uma hecatombe econômica e social de proporções nunca vistas.

Davos foi nos últimos anos o altar dourado que deu status de religião às idéias de desregulamentação e descontrole onde a crise germinou. Davos é o tribunal da divisão de culpas pela depressão que engole o planeta.

A rigor, o iG não descobriu o Fórum Econômico de Davos neste ano. Na impossibilidade de enviar um correspondente ao evento, o jornalismo do portal deveria, pelo menos, estar atento às agências e outros sites internacionais. Os debates de Davos têm sido ignorados até mesmo pelos colunistas e blogueiros da editoria de Economia do iG. Se o portal não der atenção ao tema agora, pode perder a única oportunidade.

As poucas notícias veiculadas pelo Último Segundo ficam perdidas entre as outras reportagens rotineiras. Não recebem, infelizmente, tratamento especial. Há um certo descuido em relação ao tema. Na manhã desta sexta-feira, por exemplo, a notícia em destaque sobre o Fórum de Davos trazia um ‘selo especial’ do Fórum. Só que ano passado, 2008.

Até agora, a referência mais enfática a Davos foi de uma questão política, a discussão entre o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, e o presidente israelense, Shimon Peres.

Ainda está em tempo de acertar o foco nos temas econômicos que polarizam os debates centrais do evento. As teorias econômicas consagradas nas últimas décadas ruíram escandalosamente. Quais são as idéias que podem conseguir guiar o mundo nessa crise e lançar a possibilidade de um retorno do desenvolvimento? Qual será o papel do Estado e da iniciativa privada? Quais são os perigos, e as chances, para o Brasil?

Celebridades de esquerda

A cobertura do Fórum Social Mundial do iG também pode melhorar. Apesar de contar com o blogueiro Leonardo Sakamoto e o site Repórter Brasil em Belém, o iG vai pouco além dos clichês sempre disponíveis quando se trata de acompanhar o folclore da esquerda. Afora isso, resta o falatório de palanque dos governantes. Os debates sobre temas mais complexos acabam ignorados. O ano de 2009 começou numa intensidade inusitada. É preciso reagir à altura.

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iG precisa editar, organizar, arrumar os conteúdos (29/1/09)

Organizar os conteúdos e transmiti-los com clareza e facilidade para os internautas é um desafio enorme para os jornalistas. A tarefa do editor é de imensa complexidade, exige cultura extensa, experiência, valores e critérios sólidos. No iG, por exemplo, é preciso avançar muito.

A cada instante chegam dezenas de informações que idealmente precisam ser conhecidas, avaliadas, separadas e corretamente apresentadas obedecendo a critérios que nem sempre são fáceis nem coerentes. É uma missão que exige planejamento, inteligência e consistência. Os conteúdos devem ser apresentados no local onde o internauta racionalmente suponha que eles devam estar.

Confusão

No Último Segundo, entretanto, tem havido muita confusão sobre o que vai para onde. Falta consistência na maneira como as reportagens são apresentadas. Na semana que passou, Cultura e Brasil bateram cabeça. A notícia ‘Sem bolo, Bexiga festejará aniversário de São Paulo com pintura simbólica’, era destaque nos dois canais ao mesmo tempo na tarde de quarta-feira.

No dia anterior, Cultura colocava em sua manchete a notícia ‘Bilionário mexicano concede empréstimo ao NYT’ , mais apropriada talvez em Mundo, Economia ou até num canal de Mídia (o que não existe no iG, ao contrário do que ocorre no The Guardian, por exemplo).

O que falta

Outro problema que agrava essa indefinição é a falta dos canais de Saúde, de Ciência e de Meio-Ambiente, tema já tratado neste blog. Também na semana passada, a editoria de Brasil do iG deu manchete para a notícia ‘Desmatamento na Amazônia cai 82%, segundo levantamento do Imazon’.

Há também incoerências entre a importância que a capa do iG confere a um assunto e a avaliação do mesmo tema pelas editorias. A capa destacou recentemente a notícia (realmente relevante) ‘EUA aprovam teste com células-tronco de embriões’. Como disse, a capa destacou, mas a notícia não mereceu relevo em nenhuma editoria.

Editorias ‘especiais’

Sob o selo do Último Segundo, as abas de Brasil, Mundo, Economia, Blogs-Opinião, Cultura e Diversão e Multimídia têm a mesma aparência. Já Esportes, Tecnologia e Educação apresentam layout diferente e especial. Por que não caprichar na aparência dos outros canais e aumentar também sua funcionalidade? Dá a impressão de que algumas editorias são mais importantes ou nobres do que outras, o que nunca será verdade à medida em que o público do portal e do canal de jornalismo tem interesses variados.

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Osesp: a notícia ainda tem muitos buracos (27/1/09)

O caso Osesp merecia e ainda merece vários questionamentos que desafiam a independência e o apartidarismo dos repórteres.

Pode haver uma dimensão política na dimensão de Neschling, que o iG deveria se esforçar em recuperar. Embora a Osesp seja uma Fundação, seu custeio vem da Secretaria de Estado da Cultura. Se, antes da atual administração estadual, Neschling tinha carta branca para fazer o que bem entendesse (e todos as dúvidas geradas pelo excesso de poder conferido ao maestro também deveriam ser recuperados pelo iG), é justamente com a ascensão da nova administração ao Palácio dos Bandeirantes que começam os problemas do maestro.Desde o começo do governo Serra, Neschling vem sendo demonizado por parte majoritária da mídia (o iG deveria dar o link para o famoso vídeo veiculado no You Tube no ano passado, em que o maestro chama Serra de ‘mimado’).

A entrevista recente de Neschling ao Estado propiciou as condições para que a administração se livre de um crítico incômodo, e com acesso aos meios de comunicação. Vale também lembrar a recente demissão de Luís Nassif (também colunista e blogueiro do iG) da TV Cultura. Em curto espaço de tempo, dois críticos do governo são afastados de fundações custeadas pelo Estado. Pode não haver qualquer ligação entre os fatos. Pode ser que a demissão tenha sido apenas um desagravo feito pelo conselho da Osesp ao secretário da Cultura João Sayad, atacado na entrevista. Pode ser que Serra não tenha contribuído para esse desfecho. É preciso, porém, perseguir as diversas hipóteses. Pode ser que Neschling tenha querido, por razões pessoais, precipitar sua demissão. Pode ser que Neschling tenha optado por um golpe suicida escandaloso com repecussão internacional. Pode ser que ele esteja aliado aos opositores do PSDB.

Valeria ainda questionar com os conselheiros da Osesp, que demitiram Neschling por unanimidade, temas ligados aos direitos do consumidor: a Fundação Osesp esperou o final da venda das assinaturas; esperou os músicos da orquestra entrarem em férias; e esperou o próprio Neschling estar na Europa, com um compromisso artístico que o impediu de voltar logo em seguida para o Brasil. O iG não deveria ver, por exemplo, a opinião dos assinantes da Osesp, que compraram uma temporada com Neschling?

Pode haver muitos aspectos que não foram esclarecidos em torno desse assunto. Não se sabe ao certo o que ocorreu. Há apenas uma certeza: a notícia está sendo subestimada. Há muito trabalho jornalístico a ser feito pelo iG.

Os valores jornalísticos ameaçados pela ajuda oficial à mídia

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou um pacote de 600 milhões de euros para ‘resgatar’ os jornais franceses. A lista de bondades inclui anúncios do governo para os jornais, assinaturas grátis para jovens de 18 anos, ajuda oficial na distribuição dos exemplares, e investimentos no jornalismo digital. Surge a dúvida: até onde a crise econômica vai levar a dependência e a colaboração entre governos e a mídia, já tão desaparelhada para os novos tempos e fragilizada quanto aos princípios de independência de sua atividade.

O pacote faz parte do ‘Estados Gerais da Imprensa’, anunciado em outubro passado e abordado em comentário deste blog em 12 de dezembro.

Sarkozy nega que a ajuda venha a prejudicar a liberdade de imprensa. Sindicalistas e mesmo jornalistas de ‘oposição’ não questionam. Em entrevista ao jornal inglês ‘The Guardian’, Laurent Joffrin, editor do ‘Libération’, jornal da esquerda francesa, que antes criticava a interferência de Sarkozy na imprensa, afirmou que as medidas fazem sentido. ‘É bizarro, mas é a França. Dez por cento da renda da imprensa vêm de anúncios estatais. Tudo bem ele [Sarkozy] falar sobre qualidade de conteúdo, mas seria um problema se ele nos dissesse como nosso conteúdo deve ser’.

A oposição francesa já associa Sarkozy ao ex-primeiro ministro italiano e magnata da imprensa Silvio Berlusconi. Não é possível saber. Talvez haja um exagero na comparação. Em tempo de crise, ceder a ajudas estatais é uma tentação e também um perigo, pois o tom de crítica e cobranças do noticiário certamente sofrerá influências dos favores oficiais. A imprensa tenderá a ser mais ‘compreensiva’, ‘ponderada’ e ‘equilibrada’, quando o assunto for governamental.

No Brasil, recentemente, o BNDES também colocou seus créditos à disposição dos empresários do setor de comunicação social. O presidente Lula ressaltou que fazia isso da mesma maneira que agia com qualquer outro setor da economia, com um sentido de apoio à atividade econômica num momento de dificuldades e mudanças.

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Cobertura da Campus Party: ano novo, velhos esquemas (26/1/09)

O iG cobriu a parte ‘séria’ do evento (com relatos factuais, por exemplo, do debate sobre o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo, que me pareceu até bem noticiado, embora sem destaque), alternando com o que, normalmente, mais aparece na mídia: a parte ‘folclórica’, com matérias sobre comportamento dos nerds e geeks – o que normalmente vem dos blogueiros, em posts como esse, ou esse.

Apesar das várias ‘frentes’ da cobertura, com matérias no canal Jovem, no blog Metablog, em Games e, claro, em Tecnologia, existe uma tendência a destacar o ‘folclórico’ acima do sério: os principais destaques de sexta, sábado, domingo e de hoje foram nerds tomando energéticos, uma infeliz vaia no evento e o assédio a uma garota que trabalhava em um dos stands.

E embora, como de hábito em um evento desse porte, tenha havido inúmeros problemas de infra-estrutura (a conexão de internet chegou a falhar no primeiro dia; a exemplo do ano passado, o credenciamento foi caótico e falho), a cobertura da mídia, quando resolve ser ‘crítica’, não o é em relação à estrutura do evento, mas sim aos próprios campuseiros, os ‘nerds’ tão facilmente ridicularizáveis. Só o que houve de acompanhamento crítico foram reportagens sobre gente que conseguiu burlar a proibição do evento de levar bebidas alcoólicas -e, de novo, a carga caía toda sobre os dois ou três (em um universo de quatro mil) campuseiros alcoolizados que brigaram e foram expulsos do lugar.

O tom geral, portanto, é repetitivo tirar uma ‘casquinha’ dos nerds, mas sem questionar seriamente (de novo) os problemas de infra-estrutura do evento. No ano passado, este blog destacou esses problemas; o mínimo trabalho jornalístico a ser feito seria levantar o que houve de negativo no ano passado, e ver se esses itens melhoraram ou não. Houve também um importante deslocamento geográfico – o evento do ano passado era no Ibirapuera; o desse ano, na Imigrantes-, que, contudo, passou batido na mídia; valeria a pena pelo menos uma reflexão sobre se a mudança foi ou não benéfica."