Diante de uma grande campanha de transparência e liberdade de imprensa, teve início na semana passada a sessão anual do Parlamento chinês. Na mídia local, entretanto, sabe-se que a situação não é bem assim: quando se trata dos repórteres chineses, as regras de censura e propaganda do governo ainda valem. Na sessão anual, que dura cerca de duas semanas, os mais de três mil delegados do Parlamento discutem projetos governamentais e devem confirmar o presidente Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao para mais cinco anos no poder.
Com a proximidade das Olimpíadas de Pequim, marcadas para agosto, as autoridades decidiram trabalhar a imagem da China como um país que valoriza a liberdade de imprensa e prometeram que este princípio será mantido durante os Jogos. No ano passado, o governo chegou a anunciar o afrouxamento das restrições a jornalistas estrangeiros – entre eles, foi abolida a necessidade de se obter permissão oficial para viajar pelo país. Organizações de direitos humanos afirmam, entretanto, que esta campanha serve apenas para mascarar a usual repressão à mídia local, que sofre com a censura constante. Recentemente, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas afirmou que, em 2007, a China recebeu, pelo nono ano consecutivo, o título de maior prisão de jornalistas do mundo.
Manual
Na sessão anual do Parlamento, em meio a diversas coletivas de imprensa e ‘entrevistas em grupo’, a amplamente controlada mídia chinesa tem que tomar cuidado com duas regras: o que pode perguntar, e o que pode reportar. Um guia para jornalistas chineses que cobrem o Parlamento, obtido pela agência Reuters, traz informações de como eles devem agir diante de ‘assuntos sensíveis’ e o que devem priorizar em suas matérias. Um membro do setor de propaganda deve aprovar os artigos que serão publicados, e o repórter deve pedir instruções sobre questões consideradas tabus.
‘Nós não podemos fazer algumas das perguntas que os jornalistas estrangeiros fazem’, diz um jornalista de Hong Kong, que não quis se identificar por medo de represália. Estes profissionais de imprensa nem ao menos tentam abordar temas ‘sensíveis’, como corrupção ou distúrbios étnicos. ‘Não conseguimos tirar estas informações [das autoridades]’, afirma outro jornalista, que também pediu para não ser identificado. Informações de Ben Blanchard [Reuters, 8/3/08].