O professor Gilberto Martinez Vera e a locutora de rádio Maria de Jesus Bravo Pagola enfrentam julgamento – e podem ser condenados a 30 anos de prisão – no México por divulgar notícias falsas no Twitter. Os dois são acusados de usar o microblog para espalhar pânico na cidade de Veracruz ao afirmar que homens armados estariam atacando escolas. A rede de telefonia da cidade entrou em colapso e foram reportadas dezenas de acidentes de carro depois que pais saíram desesperados para resgatar os filhos.
O secretário do interior do estado de Veracruz, Gerardo Buganza, comparou o incidente à famosa transmissão de rádio feita em 1938, nos EUA, quando o cineasta Orson Welles leu trechos do livro A Guerra dos Mundos, do escritor britânico H.G. Wells, em que alienígenas invadem a Terra, como se fossem notícias reais, o que provocou pânico entre os ouvintes.
Gilberto e Maria de Jesus foram acusados sob a legislação que cobre atos terroristas. “Houve 26 acidentes de carro, e pessoas deixaram seus carros no meio das ruas e correram para pegar seus filhos, porque pensaram que estas coisas estavam ocorrendo nas escolas das crianças”, contou Buganza.
As notícias falsas via Twitter foram postadas depois de uma recente onda de violência causada pelos cartéis de drogas na cidade. Em agosto, membros das forças armadas chegaram a ser enviados para Veracruz, o que aumentou ainda mais as tensões.
Segundo a acusação, Gilberto e Maria teriam postado mensagens no microblog dizendo que crianças estavam sendo sequestradas das escolas locais. Em outras mensagens, teria sido dito que seis adolescentes haviam sido atropelados – autoridades admitem que o atropelamento de fato aconteceu, mas não envolveu menores de idade. Os advogados do professor e da locutora afirmam que eles apenas repetiram boatos que já estavam na internet, e não inventaram as falsas notícias. “Como eles podem fazer isso comigo, por retuitar uma mensagem? São 140 caracteres. Não faz sentido”, afirmou Maria.
Clima de medo
A Anistia Internacional acusou as autoridades de violar a liberdade de expressão e culpou o clima de medo na cidade por conta da guerra do narcotráfico como responsável tanto pelas mensagens falsas como pela reação da promotoria. Acredita-se que cerca de 35 mil pessoas tenham sido assassinadas em Veracruz nos últimos cinco anos. Veículos de imprensa, acuados e temendo pela vida de seus jornalistas, acabam por adotar a auto-censura, o que faz com que as pessoas recorram cada vez mais às redes sociais para obter informações – que muitas vezes são imprecisas ou simplesmente falsas. “A falta de segurança cria uma atmosfera de desconfiança na qual boatos que circulam nas redes sociais são parte dos esforços das pessoas para se protegerem, já que há muito pouca informação confiável”, declarou a organização.
O processo no México é, até hoje, o mais sério envolvendo o uso do Twitter para incitar violência ou caos. No mês passado, no Reino Unido, os jovens Jordan Blackshaw e Perry Sutcliffe-Keenan, de 20 e 22 anos, respectivamente, foram sentenciados a quatro anos de prisão por estimular atos de vandalismo durante os confrontos em diversas cidades do país. Blackshaw marcou um evento, via Facebook, convidando pessoas a participar de um ato de vandalismo na pequena cidade de Northwich – mas, para o seu azar, só ele e a polícia, que estava monitorando a página, apareceram no local na hora marcada. Com informações de Jo Adetunji [The Guardian, 4/9/11].