Todas as noites, os quatro canais estatais de televisão de Cuba entram em rede para transmitir o mesmo telejornal. O governo controla o rádio e o principal jornal é o diário do Partido Comunista, o Granma. No entanto, mesmo os lares cubanos mais humildes abrigam equipamentos eletrônicos oriundos do mercado negro, que hoje distribui uma infinidade de material cultural considerado subversivo.
Reportagem de Erika Kinetz para o New York Times [14/12/04] mostra que há artistas que nunca foram oficialmente lançados pelas gravadoras do estado, mas são conhecidos por toda a população. É o caso do grupo de hip-hop Clan 537, cujas músicas estão na ponta da língua da maioria dos jovens cubanos. O filme sobre beisebol Fuera de Liga, de Ian Padrón, foi produzido por um instituto governamental. Mas, como mostra as difíceis condições de vida de alguns cubanos e as críticas de jogadores que saíram da ilha, o documentário acabou sendo recusado pela distribuidora estatal. Ainda assim, parece que quase todo mundo o assistiu.
Oficialmente, não há censura em Cuba e, por isso, não há um motivo claro para que o filme de Padrón tivesse de ser distribuído no mercado negro. O fato é que, apesar de ter prendido um grupo de mais de 70 dissidentes no ano passado, o regime de Fidel Castro tem sido tolerante com a rede de distribuição paralela de filmes e músicas que se estabeleceu no país. Os artistas hoje sentem que não estão ameaçados pela repressão como nos anos 70, por exemplo, quando a perseguição a dissidentes atingiu seu auge, graças à ingerência soviética no governo. Castro, ao mesmo tempo em que tem tomado algumas medidas regressivas nos campos político e econômico, tem posto em prática um ambicioso plano de fomento cultural. Afinal, a cultura, assim como a saúde e a educação, é uma das grandes conquistas de sua revolução.