Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Microblog anuncia posto para coordenar operação de notícias

Há cada vez menos empregos no jornalismo – nos últimos anos, escuta-se repetidamente falar em cortes e enxugamento das redações. Em meio ao debate sobre o futuro da profissão, uma notícia vinda do Twitter pode servir de pista, ou no mínimo de inspiração. O microblog – que rapidamente passou a concentrar as funções de fonte de informações, plataforma de publicação e ponto de distribuição – anunciou que está contratando alguém para coordenar sua operação de notícias.

“Você será responsável por planejar e executar as estratégias que fazem o Twitter indispensável para redações e jornalistas, assim como parte essencial das operações e estratégia de organizações de notícias e redes de TV. Você deve ter uma visão forte sobre o amplo potencial do Twitter e o jornalismo, ao mesmo tempo em que é capaz de gerenciar e medir o impacto diário da equipe de notícias com rigor”, diz o anúncio, que busca candidatos em Nova York e São Francisco.

Jornalismo como função primária

“Este é, discutivelmente, um trabalho maior do que o de Jeff Zucker dirigindo a CNN. Dada a escolha entre ser um editor-executivo no New York Times ou se tornar o primeiro chefe de notícias do Twitter, você seria aconselhado a pensar duas vezes”, diz o jornalista e escritor Michael Wolff, em artigo no Guardian.

Wolff compara o cargo no Twitter ao papel exercido pelos diretores da divisão de notícias das redes de TV americanas nos anos 70 e 80 – “o maior posto que já houve no jornalismo”. “Esta é a primeira vez que uma empresa e plataforma de tecnologia decide que o jornalismo é uma de suas funções primárias”, enfatiza. Gigantes como o Google, a Microsoft e o Yahoo! já entenderam o poder das notícias e dedicaram uma parcela de seus recursos a elas, mas sempre como redistribuidores, nunca como produtores. 

A descrição de emprego do Twitter, por sua vez, coloca o microblog como participante de todas as fases da notícia, da pesquisa, passando pela produção e seguindo até a distribuição. “Eu acho que a ideia aqui é a oportunidade de o Twitter se tornar um tipo de combinação de provedor e distribuidor de conteúdo”, diz Wolff. De certa forma, lembra ele, isso já acontece, mas a criação de um cargo para gerenciar este processo oficializa o poder do Twitter sobre o jornalismo atual. “O Twitter se tornou para as notícias o que o iTunes é para a música”, compara.

Experiência e astúcia

E quem seria a melhor pessoa para ocupar o cargo? Para o jornalista, o Twitter deveria escolher alguém com bagagem suficiente para ter trabalhado em uma “organização de notícias de verdade”, mas astuto o bastante para ter migrado para o novo espaço midiático, para veículos como Huffington Post, Politico, BuzzFeed, etc.

Wolff conclui: 

“Empresas de tecnologia, a maioria delas tendo experimentado com conteúdo de maneira infeliz, quase invariavelmente desistem, achando mais seguro ser o condutor para o material de outros. Por todas as razões que fizeram, em primeiro lugar, com que estas empresas entrassem no mercado da tecnologia, elas rapidamente se irritam com as dificuldades naturais do conteúdo.

“Ainda assim, eu leio algo diferente neste anúncio. O Twitter, incerto desde sua criação sobre o que poderia ou deveria se tornar, uma ferramenta multifacetada sem uma função precisa, encontrou-se, para o bem ou para o mal, na indústria jornalística. Tenha sido isso planejado ou não, o jornalismo é o negócio que está se rompendo e se transformando. 

“Como com a televisão antes dele, foi-lhe dada uma oportunidade histórica. Eu leio isso como um anúncio melancólico: por favor, ajude-nos a não estragar as coisas.”