Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia dos EUA puxa o freio na cobertura do conflito

Caiu drasticamente, nos últimos meses, o número de jornalistas estrangeiros que atuam em Bagdá. O número de repórteres que acompanham tropas americanas no Iraque passou de 219, em setembro de 2007, para 39, em setembro deste ano. Apenas quatro jornais e emissoras de TV estrangeiras continuam a manter sucursais no país. A CBS e a NBC, duas das maiores redes televisivas dos EUA, já tiraram seus correspondentes da capital iraquiana.


Segundo artigo de Ernesto Londoño e Amit R. Paley [Washington Post, 11/10/08], esta queda reflete a crescente estabilidade do país e as pressões financeiras sofridas atualmente pelas organizações de mídia. ‘[O Iraque] ainda é importante e interessante, mas o que está diante de nós, agora, é uma situação quase estática’, explica Alissa J. Rubin, chefe de redação da sucursal do New York Times em Bagdá.


Temas esquecidos


Para jornalistas veteranos, as matérias sobre o Iraque – para onde foram deslocados 155 mil soldados americanos e onde os EUA gastam aproximadamente US$ 10 bilhões por mês – são cada vez mais difíceis de emplacar na programação de TV ou nas páginas dos jornais. Da invasão americana, em março de 2003, até aqui, o foco mudou da experiência militar no conflito para relatos de iraquianos sobre os passos rumo à reconstrução de seu próprio governo.


Muitos assuntos relevantes, como o debate sobre legislação, por sua vez, nunca chegaram a receber o merecido destaque na mídia ocidental. ‘Há muitos fatos acontecendo, episódios importantes. E, para escrever sobre eles, é necessário entender seus detalhes’, avalia o general David G. Perkins, porta-voz do Exército dos EUA no Iraque. Para ele, entretanto, a violência continua a ser o tema mais debatido. ‘Quando uma explosão acontece e 20 pessoas morrem, basta ir com uma câmera para o local e dizer que 20 pessoas foram mortas’, justifica.


Segurança


Em 2004, um ano após o início do conflito, a quantidade de repórteres começou a diminuir. Na ocasião, temia-se os riscos corridos com a deterioração da segurança. Durante alguns períodos da guerra, em especial entre 2006 e 2007, o único modo de circular pelo país era na companhia de tropas americanas. As organizações de mídia que decidiram permanecer no Iraque começaram a ver os custos com a segurança subir – para preservar seus profissionais, muitas tiveram que comprar veículos blindados e contratar seguranças locais.


Na medida em que a segurança foi melhorando, jornalistas passaram a viajar de maneira mais confortável pelo território iraquiano e a entrevistar pessoas que, antes, tinham medo de abordar. ‘O Iraque apresenta agora desafios de contextualização. Há menos conflito público. E a atenção pública está sendo transferida, em certo grau, para Afeganistão e Paquistão’, diz a editora da seção internacional do New York Times, Susan Chira.


Menos destaque


Jornais americanos, que lutam com o declínio de leitores e de anunciantes, publicaram menos matérias sobre o Iraque em 2008. O número de artigos de capa publicados pelo New York Times, Washington Post e Los Angeles Times, que continuam com sucursais em Bagdá, é o menor desde que a guerra começou. Juntos, os três diários publicaram 858 matérias de capa em 2003, 379 no ano passado e apenas 138 nos primeiros nove meses de 2008.


O mesmo ocorreu com a TV. Em 2007, o tema foi dominante nos noticiários noturnos. Nos últimos meses, os correspondentes em Bagdá chegaram a ficar semanas sem entrar na programação noticiosa. As três maiores redes de TV dos EUA exibiram 130 matérias sobre o Iraque entre setembro de 2007 e setembro de 2008, comparado a 242 no mesmo período do ano anterior. ‘Quando se tem mais coisas acontecendo no mundo – crise financeira, eleições, Afeganistão – é difícil estar no ar’, resume Lourdes Garcia-Navarro, chefe da sucursal da National Public Radio em Bagdá.