Era para ser a campanha das novas mídias, com e-mail, blogs, microblogs e redes sociais a toda no Reino Unido. Mas o primeiro debate televisionado, no dia 15/4, foi seguido por uma mudança de dez pontos para os liberais democratas. O debate e os comentários que se seguiram dominaram o noticiário político por dias e provocaram uma reviravolta nas eleições parlamentares britânicas, reforçando – pelo menos até agora – a vitória das mídias tradicionais.
Já havia sinais, mesmo antes do debate, de que as novas mídias não corresponderiam às expectativas. Uma pesquisa realizada na primeira semana de abril pelo National Endowment for Science, Technology and the Arts revelou que 79% dos britânicos não se lembravam de ver nenhum traço de campanha online – nem mesmo um e-mail. Os dados mostram que os políticos falharam em tirar vantagem do potencial das novas mídias para engajar eleitores. Por algumas razões, no entanto, as mídias tradicionais mostram ser muito boas em disseminar mensagens políticas.
O primeiro debate televisionado, na ITV, foi visto por 9,4 milhões de britânicos – 37% da audiência do horário nobre. O índice é melhor que o do debate do primeiro turno da eleição presidencial americana em 2008, entre John McCain e Barack Obama. O segundo debate foi realizado no dia 22/4 e o terceiro está marcado para dia 29/4, na BBC. Serão, portanto, até o pleito, no dia 6/5, três debates entre o primeiro-ministro Gordon Brown, o líder conservador David Cameron e o líder liberal democrata Nick Clegg.
Queixas
Os partidos reclamam da cobertura da mídia, criticando-a por dar mais destaque aos debates do que a pautas políticas mais amplas. Os liberais democratas e os conservadores chegaram a pensar em enviar uma carta conjunta às redes de TV para expressar suas preocupações, mas desistiram da ideia. ‘A cobertura do debate reduz a quantidade de espaço dedicado às políticas dos partidos’, dizia um rascunho da carta, direcionada especialmente às emissoras públicas, lembrando-as de seu papel de explicar aos eleitores os planos dos principais partidos.
Poder de alcance
Mesmo com a tiragem em declínio, os jornais ainda atingem grande público. O tablóide The Sun, que apoia os conservadores, é lido por oito milhões de pessoas por dia. Já redes sociais, como o Twitter, acabam se tornando, neste caso, um veículo de nicho, o que as torna praticamente invisíveis. O grupo Get Elected examinou 100 disputas acirradas onde as campanhas deveriam fazer diferença. Apenas 45% dos candidatos tinham conta no Twitter. Os que usaram atraiam uma média de 614 seguidores. O eleitorado britânico é formado, em média, por 70 mil pessoas.
Ainda assim, a mídia tradicional ainda toma bastante tempo livre do público. Cada debate televisionado dura em torno de 90 minutos. O leitor médio gasta 40 minutos diários com a leitura do jornal e uma hora com as edições de sábado e domingo. Já para ler um e-mail ou um tweet, gasta-se apenas segundos.
Jornais e TV também são direcinados para os mais velhos: 47% da audiência do primeiro debate tinham mais de 55 anos; 36% dos leitores do Daily Mail e 41% do Daily Telegraph têm mais de 65 anos, segundo a National Readership Survey. Anunciantes são menos habilidosos para atingir os mais velhos que os mais novos, mas uma audiência mais velha é tudo o que os politicos querem – eles tendem mais a votar que os jovens. Informações da Economist [22/4/10] e da BBC [25/4/10].