Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Militares capturados no Irã vendem relatos para a mídia

O Ministério da Defesa da Grã-Bretanha enfrentou duras críticas por permitir que os 15 militares capturados pelo Irã vendessem suas histórias para a imprensa. O Ministério justificou que a permissão foi dada por se tratar de uma ‘circunstância excepcional’ que atraiu imenso interesse público, declarou uma porta-voz do órgão.


Os militares foram libertados na quinta-feira (5/4) após 13 dias em poder das forças iranianas. Eles foram capturados no Golfo Pérsico, acusados pelo governo iraniano de invadir o espaço marítimo do país. O governo britânico alega que os membros da Marinha estavam em águas iraquianas. Eles ficaram famosos depois de ter suas imagens mostradas repetidamente pela TV iraniana durante o confinamento. Na volta ao país, os militares contaram ter sido amarrados, vendados, mantidos em isolamento e ameaçados de enfrentar até sete anos de prisão.


É comum a prática entre alguns jornais britânicos de pagar por histórias de grande interesse do público. Regras militares, entretanto, proíbem que membros das forças armadas vendam suas histórias – cujo pagamento pode chegar a cerca de US$ 500 mil.


Precedente


Segundo William Hague, porta-voz de relações exteriores do Partido Conservador, de oposição, a decisão de deixar os 15 militares venderem relatos de sua experiência no Irã abre um importante precedente. Ele afirma que as forças armadas podem perder sua dignidade e respeito se seus integrantes puderem, sempre que passam por dificuldades financeiras, vender histórias à imprensa. ‘Há atos inacreditáveis de heroísmo, semanalmente ou até diariamente, em operações no Afeganistão e no Iraque, mas não se escreve sobre isso’, completa.


Para Max Clifford, mais conhecido agente de celebridades do Reino Unido, a permissão não passa de um ‘exercício de propaganda’. ‘O Ministério da Defesa está muito interessado em que eles façam isso. O público tende a acreditar mais neles [nos 15 militares] do que no Ministério da Defesa ou nos políticos’.


Críticas e negócios


Alguns jornais britânicos criticaram a permissão. Segundo o Independent, ao abrir esta exceção ao protocolo, o Ministério dá a impressão de que o importante no serviço militar é o enriquecimento financeiro. Já o Times classificou a permissão de ‘um erro’, principalmente porque ocorreu poucos dias depois da morte de seis soldados britânicos no Iraque. Para o jornal, o mais correto seria que os militares não cobrassem pelos relatos ou doassem o dinheiro para organizações de apoio a famílias que perderam entes queridos em conflitos.


Faye Turney, única mulher no grupo detido no Irã, teve seu depoimento publicado no tablóide Sun na segunda-feira (9/4), onde contou que passou os primeiros dias isolada dos colegas e que foi obrigada a escrever as cartas, divulgadas na imprensa, onde confessava que havia invadido o espaço iraniano. Especula-se que ela tenha recebido cerca de US$ 200 mil pela entrevista ao tablóide e ao canal ITV. Arthur Batchelor, o mais novo do grupo, foi entrevistado pelo Daily Mirror, onde contou que chorou ao ser algemado e insultado pelos guardas. Informações de Adrian Croft [Reuters, 8/4/07] e da BBC News [9/4/07].


 


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Em Tempo


Após o fechamento desta nota, na segunda-feira [9/4], o Ministério da Defesa britânico decidiu proibir a venda de relatos dos militares capturados no Irã. A decisão de abrir exceção nas regras militares para que os marinheiros pudessem cobrar por entrevistas criou grande controvérsia no Reino Unido, sendo criticada por políticos de oposição, famílias de militares mortos em conflitos e ex-membros das forças armadas.


Com o aumento da polêmica após a publicação, ainda na segunda-feira, de depoimento de Faye Turney no Sun, o ministro da Defesa, Des Browne, anunciou que o governo voltaria atrás na decisão de deixar que os 15 militares vendessem suas histórias à imprensa.


‘Foram expressas muitas opiniões fortes sobre este assunto, mas eu espero que as pessoas entendam que esta foi uma decisão muito difícil, e que a Marinha tinha o dever de apoiar seu pessoal. Ainda assim, todos nós que estivemos envolvidos na questão nos últimos dias reconhecemos não ter chegado a um resultado satisfatório. Nós devemos aprender com isso’, declarou Browne, completando que quer ter certeza de que ‘os encarregados destas decisões difíceis tenham orientação clara para o futuro. Até lá, nenhum membro [das forças armadas] em serviço poderá falar à mídia sobre suas experiências em troca de pagamento’. Informações de Will Woodward [The Guardian, 10/4/07].