O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) manifesta a sua preocupação ante as recentes declarações do ministro venezuelano de Comunicação e Informação, que acusou o jornalista britânico Phil Gunson, assim como outros jornalistas estrangeiros e venezuelanos, de trabalhar a serviço do governo norte-americano. Tais declarações poderiam colocar em perigo a segurança dos jornalistas.
As acusações ocorrem após a escalada de tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, que incluíram declarações do Presidente Hugo Chávez Frías nas quais responsabiliza o governo norte-americano por qualquer atentado contra a sua vida.
‘Em um contexto no qual jornalistas têm sido agredidos por seu suposto alinhamento com uma ou outra facção política, ser catalogado de agente pago do imperialismo constitui um risco de segurança óbvio’, declarou hoje Gunson ao CPJ.
Em uma coletiva de imprensa realizada na segunda-feira, 21 de fevereiro, o Ministro de Comunicação e Informação, Andrés Izarra, acusou o governo dos Estados Unidos de lançar uma campanha de propaganda apoiada por vários meios de comunicação norte-americanos e venezuelanos com o objetivo de isolar a Venezuela, deslegitimar seu governo e desestabilizar o país, abrindo o caminho para uma intervenção norte-americana.
Segundo versões difundidas pela imprensa local, o ministro Izarra afirmou que uma onda midiática de mais de 45 artigos tinham, por trás, uma política de propaganda da administração Bush, que incluía o trabalho de Gunson para o diário The Miami Herald e artigos dos diários venezuelanos El Universal e El Nacional.
Sem fornecer nenhuma prova de suas acusações, Izarra declarou: ‘Não estranhem se mais adiante […] descobrirmos que Gunson e El Nacional estão recebendo fundos do governo norte-americano’. Izarra logo esclareceu que não estava fazendo uma acusação direta, que era apenas uma ‘suposição’ sua.
Gunson disse que as declarações de Izarra careciam de fundamento e rechaçou ter qualquer vínculo com o governo norte-americano.
Gunson escreve artigos para o diário The Miami Herald e o semanário Newsweek, ambos norte-americanos, e para o semanário britânico The Economist. Desde 2003 preside a Associação de Jornalistas Estrangeiros da Venezuela.
‘Condenamos as declarações do ministro Izarra e exortamos as autoridades venezuelanas a absterem-se de lançar acusações generalizadas contra jornalistas e meios de comunicação’, declarou Ann Cooper, diretora-executiva do CPJ. ‘No carregado clima político venezuelano, tal retórica pode colocar em perigo todos os jornalistas e impedi-los de realizar seu trabalho’.