Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Morre o escritor português José Saramago


Leia abaixo seleção de artigos sobre a morte do escritor José Saramago para a seção Entre Aspas.


 


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Folha.com


 


Morre aos 87 anos o escritor português José Saramago


‘Morreu nesta sexta-feira, aos 87 anos, o escritor José Saramago.


A morte de Saramago foi confirmada à imprensa portuguesa pelo seu editor, Zeferino Coelho. ‘Aconteceu há pouco’, disse em entrevista à emissora de televisão RTP. ‘Estava doente há algum tempo, às vezer melhor outras vezes pior.’


Fontes da família confirmaram a agências internacionais que Saramago estava em sua casa em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, onde morava há vários anos.


A morte ocorreu por volta das 13h no horário local (8h de Brasília), quando o escritor estava em casa acompanhado da mulher e tradutora, Pilar del Río, informa a agência Efe.


José Saramago havia passado uma noite tranquila. Após ter feito o desjejum de costume e conversado com a mulher, começou a sentir-se mal e pouco depois morreu.


Vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1998, Saramago nasceu em Azinhaga em novembro de 1922. Autodidata, publicou seu primeiro trabalho, ‘Terra do Pecado’, em 1947.


Seu trabalho seguinte, ‘Os Poemas Possíveis’, seria lançado 19 anos mais tarde e pelos anos seguintes ele se dedicaria principalmente à poesia e ao jornalismo.


Saramago volta à prosa no final da década de 1970. Seu estilo característico começa a ser definido em ‘Levantado do Chão’ (1980) e em ‘Memorial do Convento’ (1982).


Em 1991, Saramago lança sua obra mais polêmica, ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’.


Considerada blasfema, a obra foi excluída de uma lista de romances portugueses candidatos a um prêmio literário pelo Subsecretário de Estado adjunto da Cultura de Portugal, Sousa Lara, sob a alegação de que não representava o país.’


 


 


Ranier Bragon


Portugueses lamentam morte do ‘único Nobel’


‘As reações oficiais e no meio cultural português à morte de José Saramago começaram tão logo houve a confirmação da morte do escritor, na manhã desta sexta-feira, mas as manifestações não se limitaram às lamentações de praxe e ressaltaram a fama de polemista do escritor.


O corpo do escritor deve ser velado ainda hoje em Tías, em Lanzarote (Ilhas Canárias, na Espanha). Mas um avião da força áreas portuguesa deve levar o corpo do escritor para Lisboa, onde ocorrerá o funeral.


Nas ruas, as pessoas que circulavam no Rossio, uma das principais regiões turísticas de Lisboa, aparentavam não saber do ocorrido por volta das 14h (horário de Lisboa; 10h em Brasília). ‘Fiquei sabendo agora do que aconteceu. Fui conferir na internet, mas as pessoas ainda não sabem, só as que estão em casa’, comentou por volta das 10h (horário de Brasília) o gerente da Livraria Portugal, Joaquim Carneiro, 62, para quem o ocorrido promoverá uma corrida às obras do escritor.


Próximo dali, uma barulhento e numeroso aglomerado de torcedores e turistas assistiam em um telão ao jogo em que a Alemanha perdeu para a Sérvia. Várias das pessoas com quem a Folha conversou na rua manifestaram tristeza com a notícia, mas ressaltaram a característica polêmica do escritor, que tinha histórico de divergências principalmente com a Igreja Católica.


‘Embora tivessem as pessoas que gostassem e as que não gostassem, ele era um dos grandes nomes da nossa literatura’, disse Rubens Azevedo, 55, há mais de 30 anos funcionário da livraria Leya (antiga Diário de Notícias), em frente à Praça D. Pedro IV. ‘Ele ganhou o prêmio Nobel [de literatura em 1998], mas… [faz uma careta e uma pausa] É questão de gosto’, disse o taxista José Carlos Marques, 34. ‘Pobres dos escritores consensuais. Acho que o escritor consensual fez alguma coisa errada’, comentou na TV o escritor e crítico literário Pedro Mexia.


As principais televisões portuguesas, a RTP, a TVI e a SIC, dedicaram cobertura especial à morte do escritor, com entrevistas com escritores, especialistas na obra de Saramago e autoridades.


‘Ele deixou-nos a todos um pouco órfãos e teve a grande capacidade de intercionalizar a literatura portuguesa’, disse à SIC a ministra da Cultura de Portugal, Gabiela Canavilhas. Tendo aberto o microfone a pessoas que ligavam para a Redação, a TVI ouviu de um aposentado que Saramago era ‘nojento’ e que não havia lido a obra dele. ‘Assim como não li a obra de Hitler’.


Uma das primeiras reações oficiais partiram do presidente português, Cavaco Silva, que enviou nota de condolências à família do escritor prestando ‘homenagem à memória de José Saramago, cuja vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras’. O primeiro-ministro José Sócrates afirmou que a morte representa ‘uma enorme perda para a cultura portuguesa’, mas evitou comentar o caráter polêmico do escritor: ‘Não devemos tratar esse acontecimento do ponto de vista mesquinho. Deixemos isso para outra altura’.


O partido comunista português, ao qual Saramago era filiado, pediu em entrevista coletiva que o governo decrete luto pela morte do escritor.


Já a Fundação José Saramago (www.josesaramago.org) transformou sua página na internet em uma manifestação de luto, apenas com a informação da morte, sobre fundo preto.


‘Hoje, sexta-feira, 18 de Junho, José Saramago faleceu às 12.30 horas na sua residência de Lanzarote, aos 87 anos de idade, em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença.


O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila.’’


 


 


 


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Estadao.com.br


 


Morre aos 87 anos o escritor português José Saramago


‘MADRI – O escritor português e Prêmio Nobel de Literatura José Saramago morreu nesta sexta-feira, 18, em sua casa em Lanzarote (Ilhas Canárias) aos 87 anos de idade.


O escritor faleceu às 13 horas locais (8 horas de Brasília), segundo sua esposa e tradutora, Pilar del Rio. Ainda de acordo com ela, Saramago havia passado uma noite tranquila e, depois de tomar café da manhã com a mulher, começou a passar mal e faleceu em pouco tempo.


O autor recebeu o prêmio máximo da Literatura em 1998. Segundo a premiação, Saramago ‘nos permitiu mais uma vez apreender uma realidade ilusória por meio de parábolas sustentadas pela imaginação, pela compaixão e pela ironia’.


Autor de ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo’ e ‘Ensaio sobre a cegueira’, Saramago vivia em Lanzarote desde 1993 com a jornalista espanhola. O escritor foi hospitalizado diversas vezes nos últimos anos, principalmente por conta de problemas respiratórios.


José Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registro oficial seja do dia 18. Seus pais foram a Lisboa antes dos três anos de idade do escritor. Fez estudos secundários que não pode continuar por dificuldades econômicas.


Em 1972 e 1973 fez parte da redação do Jornal ‘Diário de Lisboa’, onde foi comentarista político, tendo também coordenado, durante alguns meses, o suplemento cultural da publicação. Entre abril e novembro de 1975 foi diretor-adjunto do ‘Diário de Notícias’. Desde 1976, ele vivia exclusivamente do seu trabalho literário.


A popularidade internacional veio em 1982, com ‘Memorial do Convento’, prestígio que consolidou com obras como ‘A Balsa de Pedra’ (1986), ‘A segunda vida de Francisco de Assis’ (1987), ‘História do cerco de Lisboa’ (1989) e o ‘Evangelho segundo Jesus Cristo’ (1991).


Em 1993, pelo que dizia ser perseguição religiosa dado o tom polêmico de suas obras, que se chocaram com representantes da Igreja Católica e a proibição da publicação de seus romances em Portugal, Saramago fixou residência em Lanzarote (Ilhas Canárias, Espanha).


Ganhador do Prêmio Camões em 1995, Saramago iniciou no mesmo ano a publicação da trilogia formada por ‘Ensaio sobre a cegueira’, ‘Todos os nomes’ e ‘Ensaio sobre a lucidez’. Em 2008, iniciou um blog, ‘El cuaderno’ (o caderno) e no ano passado apresentou seu último romance, ‘Caim’.


Lista das obras do autor


Terra do Pecado, 1947


Manual de Pintura e Caligrafia, 1977


Levantado do Chão, 1980


Memorial do Convento, 1982


O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984


A Jangada de Pedra, 1986


História do Cerco de Lisboa, 1989


O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991


Ensaio Sobre a Cegueira, 1995


Todos os Nomes, 1997


A Caverna, 2000


O Homem Duplicado, 2002


Ensaio Sobre a Lucidez, 2004


As Intermitências da Morte, 2005


A Viagem do Elefante, 2008


Caim, 2009′


 


 


 


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O Globo Online


 


Morre o escritor português José Saramago


‘RIO – O escritor português e Prêmio Nobel de Literatura José Saramago morreu na ilha espanhola de Lanzarote, nesta sexta-feira, por volta das 8h (horário de Brasília). Ele tinha 87 anos. Em comunicado, a Fundação José Saramago informou que o ele não resistiu a ‘uma múltipla falha orgânica (falência múltipla de órgãos), após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila’. Ele era casado com a jornalista espanhola Pilar Del Río, que o descreveu como ‘homem de convicções firmes, capaz de estar sempre ao lado daqueles que sofrem’.


José Saramago é considerado um dos mais importantes escritores contemporâneos, autor de obras que atingiram reconhecimento mundial, como ‘O evangelho segundo Jesus Cristo’, ‘A jangada de pedra’ e ‘Memorial do convento’. Sua obra ‘Ensaio sobre a cegueira’ foi levada aos cinemas pelo brasileiro Fernando Meirelles ( veja o trailer do filme ) e o filme se tornou um sucesso mundial. Em 1998, sua prosa inventiva, a estética rigorosa e a constante preocupação social o fizeram merecer o Prêmio Nobel de Literatura.


Além de romances, Saramago publicou livros de poesias, contos, crônicas, memórias, peças teatrais e até um livro infantil, ‘A maior flor do mundo’, de 2001. Nos últimos anos, aderiu também à internet: em setembro de 2007, o escritor entrou no mundo virtual ao lançar o blog Cadernos de Saramago , onde comentava temas relacionados a política, literatura, religião e sociedade ou simplesmente escrevia relatos sobre suas viagens, muitas ao Brasil. No ano passado, sete meses de posts foram lançadas em livro, sob o título de ‘O caderno’.


Depois que o escritor deixou de escrever para o site, ele passou a ser atualizado diariamente pela Fundação José Saramago. Na manhã de sua morte, foi publicada uma reflexão do autor, reproduzida, com o título de ‘Pensar, pensar’, de uma entrevista a um jornal português de 2008: ‘Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma’.


Saramago nasceu no dia 16 de novembro de 1922, na pequena aldeia portuguesa de Azinhaga. Publicou o primeiro livro, ‘Terra do pecado’ em 1947, quando tinha apenas 25 anos. Em 1980, publicou aquele que é considerado seu primeiro grande romance, ‘Levantado do chão’. Mas foi apenas em 1982, com a publicação de ‘Memorial do convento’, que seu estilo próprio, de frases longas e reflexivas, ausência de parágrafos para separar diálogos e utilização inusitada da pontuação, começou a chamar atenção. O livro se tornou um dos maiores sucessos comerciais do escritor, que até conseguir viver exclusivamente da literatura trabalhou como jornalista, tradutor e funcionário público.


Em 1983, Saramago foi agraciado com o Prêmio Camões, o mais importante da literatura portuguesa. É a partir daí que escreve a maior parte de seus principais livros: ‘O ano da morte de Ricardo Reis’ (1984), ‘A jangada de pedra’ (1986), ‘História do cerco de Lisboa’ (1989), ‘O evangelho segundo Jesus Cristo’ (1991) e ‘Ensaio sobre a cegueira’ (1995).


Com ‘O evangelho’, ficaram evidentes as diferenças do escritor com a Igreja Católica. Comunista, ateu e crítico ferrenho dos dogmas da Igreja, Saramago imagina em seu livro uma nova versão para a vida de Cristo, que foi considerada ofensiva por diversos setores da comunidade católica, a ponto de o então secretário de Estado português Sousa Lara proibi-lo de concorrer a um prêmio literário estatal. O escritor enfrentou uma perseguição religiosa em seu próprio país, que acabou levando-o a se mudar para a ilha de Lanzarote, onde viveu desde então.


Saramago era também um crítico constante do liberalismo econômico – segundo ele, o poder há muito tempo passou das mãos dos governos para as das multinacionais. O escritor lamentava ainda a falta de visão crítica da sociedade, tema ao qual sempre voltava em seus livros. ‘A estupidez não escolhe entre cegos e não cegos’, disse em 2008, a propósito do lançamento do filme ‘Ensaio sobre a cegueira’.


O escritor publicou no fim de 2009 seu último romance, ‘Caim’, um olhar irônico sobre o Velho Testamento. Como em 1991, o livro enfureceu a Igreja Católica.’


 


 


 


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JB Online


 


Morre o escritor e Prêmio Nobel José Saramago


‘LISBOA – Morreu nesta sexta-feira o escritor e Prêmio Nobel português José Saramago. A informação é da agência France Presse.


José de Sousa Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922. Foi agraciado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago é considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.


O seu livro Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, em inglês) foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles. Em 2010, o diretor português António Ferreira adaptou um conto retirado do livro ‘Objecto Quase’, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.


Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, era membro do Partido Comunista Português e foi diretor do jornal Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC).


Casado com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu em Lanzarote, nas Ilhas Canárias.’


 


 


 


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RTP, Portugal


 


Morreu o Prémio Nobel da Literatura José Saramago


‘José Saramago morreu esta sexta-feira aos 87 anos na sua residência da ilha espanhola de Lanzarote. Prémio Nobel da Literatura em 1998, o escritor português assinou uma vasta obra editada em mais de três dezenas de países. Militante comunista, em perpétua oscilação entre a ortodoxia ideológica e o discurso desalinhado de livre-pensador, Saramago deixa para a História um trajecto tão polémico como indelével.


‘Saramago vai durar o que durar a literatura portuguesa’. A frase, da autoria do escritor Mário Cláudio, uma das personalidades ouvidas pela agência Lusa após a notícia da morte de José Saramago, poderia servir de epitáfio no momento em que o país perde um dos seus mais prolíficos e aclamados autores. Perde, também, uma voz directa e polémica, por vezes incompreendida, capaz, ao mesmo tempo, da mais pungente ternura e do mais áspero golpe. Firme na fidelidade ao comunismo, mesmo quando as práticas dos regimes lhe feriam o humanismo, nunca hesitou em questionar os dogmas religiosos, nos parágrafos que redigiu e nas palavras que escolheu para o espaço público. Em Novembro de 2005, numa entrevista ao jornalista Adelino Gomes, nas páginas do jornal Público, o escritor fazia a síntese do seu conceito do Mundo. ‘O universo não tem notícia da nossa existência’. E ‘a finitude é o destino de tudo’.


Nascido a 16 de Novembro de 1922 na aldeia de Azinhaga, concelho da Golegã, José Saramago mudou-se para a capital com os pais antes dos três anos de idade. Foi um funcionário do Registo Civil que justapôs à Certidão de Nascimento, como apelido, a alcunha da família Meirinho Sousa – Saramago. A míngua de dinheiro entravou-lhe o percurso no Ensino Secundário. Abraçou, então, a vida profissional como serralheiro mecânico. Foi desenhador, funcionário dos serviços de saúde e previdência, editor e tradutor. Destacou-se como crítico literário na Seara Nova e articulista político no Diário de Lisboa, entre 1972 e 1973. Em 1975, na voragem política e social da Revolução de Abril, foi director-adjunto do Diário de Notícias.


O primeiro romance, ‘Terra do Pecado’, é editado em 1947. Sem dar mais obras à estampa até 1966, prossegue o percurso literário com ‘Os Poemas Possíveis’. Seguem-se ‘Provavelmente Alegria’, em 1970, ‘Deste Mundo e do Outro’, em 1971, ‘A Bagagem do Viajante’, em 1973, ‘O Ano de 1993’, em 1975, e ‘Manual de Pintura e Caligrafia, em 1977, entre outros. Nos anos de 1980 faz publicar ‘Levantado do Chão’, a obra teatral ‘Que farei com este Livro?’, ‘Viagem a Portugal’, o celebrado ‘Memorial do Convento’, ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’, ‘A Jangada de Pedra’, ‘A Segunda Vida de Francisco de Assis’ e a ‘História do Cerco de Lisboa’.


O ‘exílio’ em Lanzarote


É em 1991 que José Saramago publica a mais polémica das suas obras. ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, uma leitura desmistificada da vida do messias, levá-lo-ia, dois anos mais tarde, a deixar o país e a rumar para Lanzarote, nas Canárias. António Sousa Lara, então subsecretário de Estado da Cultura no Executivo social-democrata de Cavaco Silva, travou a candidatura do romance a uma distinção literária internacional, à luz do argumento de que o conteúdo da obra era ‘ofensivo’ para os católicos. A ‘reconciliação’ com o Estado português chegaria em Abril de 2004 na forma de um almoço com Durão Barroso. Sousa Lara nunca aceitou a trégua, garantindo que tornaria, hoje como ontem, a vetar o livro: ‘O que me chateia mais na política é a indefinição de fronteiras, gosto mais da política com fronteiras, com clivagens e opções de escolha claras, mas pelos vistos isto está fora de moda’.


Em Portugal, ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ foi galardoado em 1992 com o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. No mesmo ano, ‘Levantado do Chão’ era distinguido, em Itália, com o Prémio Internacional Ennio Flaiano. Em 1993, novo galardão: ‘In Nomine Dei’ recebia o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores.


‘Ensaio sobre a Cegueira’ é publicado em 1995, na sequência da primeira edição dos ‘Cadernos de Lanzarote’ (diário I em 1994 e diário II em 1995). Outros dois volumes dos diários de Saramago na árida ilha espanhola são dados à estampa em 1996 e 1997. Neste mesmo ano é lançado o romance ‘Todos os Nomes’. O quinto volume de ‘Cadernos de Lanzarote’ chegará às livrarias em 1998.


‘Quando pergunto, na Jangada de Pedra, o que é que explica que o macaco tenha chegado à bomba atómica, foi simplesmente o tempo. O tempo da tal frase do hidrogénio. Há uma pergunta que me parece dever ser formulada e para a qual não creio que haja resposta: que motivo teria Deus para fazer o universo? Só para que num planeta pequeníssimo de uma galáxia pudesse ter nascido um animal determinado que iria ter um processo evolutivo que chegou a isto?’, questionava-se em 2005 na entrevista ao Público, dez anos depois de ter recebido o Prémio Camões e sete anos após o Nobel.


‘Um homem sem prosápia ou vaidade de grande senhor’


Os críticos do homem e da obra apontam a Saramago uma certa soberba mal disfarçada, por vezes impositiva. O escritor Mário de Carvalho discorda: ‘Era muito atento aos escritores mais jovens e era um homem sem prosápia ou vaidade de grande senhor. Foi um homem a quem o sucesso nunca subiu à cabeça, portou-se com a mesma modéstia e elevação de sempre. Porventura o nosso maior escritor do século XX, que tem a particularidade de ser um século mais rico no tocante ao romance português’.


A notícia da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago chega a Portugal em 1998. A Academia Sueca distinguia, ao mesmo tempo, a Língua Portuguesa e o escritor ‘que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia, torna constantemente compreensível uma realidade fugidia’. Muitos viram no Prémio um aplauso à militância. Muitos outros renderam-se a um escritor incontornável e a uma obra que só não versou o ensaio. Na esteira do Nobel, Saramago cresce em intervenção cívica: nos anos subsequentes atacará o ímpeto imperialista dos Estados Unidos dos neoconservadores e de George W. Bush, a ocupação israelita dos territórios palestinianos, mas também as execuções, em Cuba, de opositores ao regime de Fidel Castro.


Em Novembro de 2005, José Saramago apresenta, em Lisboa, o romance ‘As Intermitências da Morte’, uma ‘reflexão filosófica sobre a vida’. Por ocasião do lançamento do livro, associa-se à campanha ‘Livros Amigos das Florestas’, promovida pela organização Greenpeace. A propósito da campanha, escreverá num texto publicado pelo diário espanhol El Mundo: ‘Sou neto de um homem que, ao pressentir que a morte estava à sua espera no hospital para onde o levaram, foi à horta despedir-se das árvores que havia plantado e cuidado, chorando e abraçando-se a cada uma delas, como se de um ser querido se tratasse. Este homem era um simples pastor, um camponês analfabeto, não um intelectual, não um artista, não uma pessoa culta e sofisticada que decidira deixar o Mundo com um grande gesto que a posteridade registaria. Dir-se-ia que estava a despedir-se do que até então tinha sido a sua propriedade, mas a sua propriedade era também os animais de que vivia e não se aproximou deles para lhes dizer adeus. Despediu-se da sua família e das árvores como se tudo fosse para ele a sua família’.


‘Caim’


Em 2009, Deus volta a pontificar no imaginário literário de José Saramago, surgindo como uma das personagens principais da obra ‘Caim’. Um ano após o lançamento de ‘A Viagem do Elefante’, Pilar Del Rio, mulher do escritor e presidente da Fundação José Saramago, publica um texto no blogue ‘O Caderno de Saramago’. O novo livro, escreve, ‘não é um tratado de teologia, nem um ensaio, nem um ajuste de contas: é uma ficção em que Saramago põe à prova a sua capacidade narrativa ao contar, no seu peculiar estilo, uma história de que todos conhecemos a música e alguns fragmentos da letra’.


Lançado em Portugal no final de Outubro de 2009, ‘Caim’ traz a lume o velho confronto entre a Igreja e as questões levantadas pelo autor. Sem poder, ou querer, ocultar a debilidade física, Saramago descreverá a polémica como ‘uma espécie de fartar-vilanagem’, prometendo resistir ‘a todas as canalhadas que se façam à volta do livro’. E rebate em público, sem se deter, as críticas ‘a mando da Igreja Católica e com a execução dos seus homens de mão, ou jornalistas de mão, ou outros que se guiam por interesses pessoais ou rancores pessoais’.


A par dos prémios literários, José Saramago coleccionou doutoramentos Honoris Causa atribuídos por diferentes universidades da Europa. Foi também membro do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa, em Itália, da Academia Universal das Culturas, em Paris, do Parlamento Internacional de Escritores, em Estrasburgo, e correspondente da Academia Argentina das Letras. Era ainda Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas.


Aquando do doutoramento Honoris Causa pela Universidade Autónoma de Madrid, dirá: ‘Eu, no fundo, não invento nada. Sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está bor baixo. Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros’.’


 


 


 


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