O governo da Rússia anunciou na semana passada que não renovará os vistos de jornalistas a serviço da rede americana ABC por ela ter exibido uma entrevista com o líder rebelde checheno Shamil Basayev. É a primeira vez, desde o fim da União Soviética, que Moscou expulsa uma organização jornalística internacional. Basayev foi o mandante do massacre na escola de Beslan, em que morreram 330 pessoas, e da tomada de um teatro na capital russa, em que 129 reféns foram mortos durante a ação de resgate das forças de segurança.
O porta-voz do ministério de Relações Exteriores, Boris Malakhov, apareceu na TV estatal condenando a decisão de mostrar a entrevista. Em comunicado, Malakhov afirma que o canal estaria ‘fazendo propaganda do terrorismo’. Seu ministério também protestou junto ao embaixador americano no país. O ministro de Defesa da Rússia, Sergei Ivanov, por sua vez, declarou a ABC ‘fora-da-lei’ e ordenou que nenhum militar sob seu comando colabore com o canal.
A entrevista foi realizada por Andrei Babitsky, um russo que trabalha para a rádio Free Europe, veículo internacional de propaganda do governo dos EUA. Ele conseguiu combinar um encontro com o líder rebelde e resolveu oferecer o material para a emissora americana. Como informam AP [29/7/05] e The New York Times [3/8/05], o repórter não sabe exatamente onde se encontrou com Basayev, mas descreveu suas condições de acampamento como precárias. O checheno admitiu ser ‘um cara mau’ e ‘um terrorista’, mas acusou a Rússia de ‘forçar as suas ações’. Também acusou Moscou de haver abatido dois aviões comerciais por cuja queda ele já assumira a culpa anteriormente.