Apesar da crença de que os jornais estariam à beira da morte, em Nova York eles estão em pé de guerra. O magnata de mídia Rupert Murdoch nunca escondeu que, ao comprar o Wall Street Journal, tinha como desejo tornar o jornal nacional especializado em finanças e negócios em um concorrente de peso para o New York Times. As mudanças já começaram, com a criação de uma página esportiva e uma revista bimestral, além do aumento da cobertura política e internacional.
Agora, o Journal terá também uma seção local com notícias sobre Nova York, ‘para competir diretamente’ pelos leitores e anunciantes do diário nova-iorquino, afirma Richard Perez-Peña em artigo no próprio Times [21/3/10]. A nova seção diária deve ser lançada em 12/4, terá em média 12 páginas e será incluída apenas nos exemplares distribuídos no mercado local. De acordo com funcionários do Journal, haverá uma página diária dedicada ao mercado imobiliário, e segmentos sobre cultura, negócios e esportes. A seção local também cobrirá as notícias da cidade, incluindo questões governamentais.
Agressividade
Segundo Perez-Peña, a iniciativa da News Corporation, companhia liderada por Murdoch, é ‘roubar’ uma grande parte dos grandes anunciantes que ‘tradicionalmente preferem o Times‘. Ainda de acordo com o artigo do diário, analistas e executivos da indústria, ‘incluindo alguns dentro da News Corporation’, dizem que o projeto de Murdoch faz pouco sentido como ‘negócio’, especialmente em um momento em que os jornais lutam contra o declínio financeiro. As ambições de Murcoch, entretanto, nem sempre têm a ver com o lucro. Para ele, a administração de jornais seria um ‘esporte sangrento’.
O empresário tem um histórico de agressividade diante dos concorrentes, e não se importa em perder dinheiro para conquistar espaço no mercado. Ele já gastou uma fortuna, por exemplo, para manter o tablóide New York Post – com perdas estimadas em 70 milhões de dólares ao ano – em uma campanha contra o Daily News. Sobre a rivalidade com o Times, pessoas envolvidas no planejamento do caderno local de Nova York dizem que ‘não se trata de uma decisão econômica’.
Efeitos
Um ex-executivo da Dow Jones, unidade da News Corp que inclui o Journal, diz que a competição ‘não seria o bastante para matar o Times, mas, neste cenário, qualquer pouco já machuca’. Audrey Siegel, presidente de uma agência de mídia em Manhattan, diz que o Times não deve perder uma parte significativa de seus anunciantes, mas talvez seja forçado a oferecer descontos ou outros incentivos a eles. Scott Heekin-Canedy, presidente responsável pelas operações financeiras do jornal, acredita que o plano da News Corp provoca uma pressão em um primeiro momento, mas não deve se tornar uma ameaça a longo prazo.
Até agora, a empresa de Murdoch não desmentiu informações de que investiria 15 milhões de dólares por ano na seção de Nova York, que terá, para começar, uma equipe com 35 pessoas. A redação do Journal conta com 750 funcionários; a do Times, com 1100. ‘Quando você junta nossa forte equipe da seção metropolitana com os repórteres que cobrem cultura, esportes, o setor imobiliário, restaurantes e negócios, temos uma impressionante vantagem em talento, experiência e espaço’, diz Bill Keller, editor-executivo do Times.