O magnata do setor de mídia Rupert Murdoch, dono da News Corporation, fez alguns comentários indiscretos em um seminário com o ex-presidente americano Bill Clinton, em Nova York, há pouco mais de uma semana. Um deles, sobre o primeiro-ministro britânico Tony Blair ter criticado a cobertura do furacão Katrina pela BBC, não agradou à rede e à sede do governo britânico. O outro referiu-se à ‘paranóia’ da China em relação às empresas de mídia estrangeiras no país.
Murdoch afirmou que, em conversa com o primeiro-ministro, Blair teria classificado a cobertura da BBC como ‘cheia de ódio pelos EUA e triunfo sobre a desgraça alheia’. Murdoch vê a BBC como elitista e comercialmente desleal e geralmente usa seus jornais para criticá-la. O governo mostrou-se irritado e envergonhado com a divulgação da observação de Blair. Os executivos da BBC alegaram não ter recebido nenhuma reclamação de Downing Street e recusaram-se a fazer algum comentário a respeito do assunto. ‘Não recebemos nenhuma reclamação, então seria negligente comentar sobre o que foi dito em uma conversa particular’, afirmou um porta-voz da rede.
O comentário sobre a atitude das autoridades chinesas foi a expressão pública mais direta de insatisfação da mídia ocidental sobre a relutância da China em abrir seu mercado para empresas de comunicação estrangeiras. No seminário, Murdoch teria afirmado que a News Corporation enfrenta uma ‘parede de tijolos’ no país e acusou as autoridades chinesas de serem paranóicas em relação às empresas de mídia estrangeiras. O governo chinês decidiu, em agosto, proibir a operação de novos canais de TV por satélite controlados por companhias estrangeiras, até que as autoridades concluam a nova regulamentação do funcionamento dos canais já em operação. A News Corporation só conseguiu garantir até agora os direitos de transmissão da Star TV, serviço via satélite, em algumas residências e hotéis em áreas da província de Guangdong.
O portal Yahoo! também foi duramente criticado por Murdoch por ter fornecido informações para o governo chinês que ajudaram na prisão de um jornalista local. Na mesma conferência, o presidente e executivo-chefe do grupo Time Warner, Dick Parson, afirmou que teria decidido não distribuir seu serviço de internet AOL na China porque o governo queria monitorar as mensagens de seus usuários. Informações de Owen Gibson e Michael White [The Guardian, 19/9/05] e do The Financial Times [19/9/05].