Em vez de ajudar, as pesquisas eleitorais nos EUA só confundem. Em uma pesquisa divulgada há duas semanas, o presidente George Bush aparecia com 13 pontos percentuais na frente do democrata John Kerry; outra, da mesma semana, mostra os dois candidatos em uma competição acirrada. A um mês do dia da votação, em 2/11, uma enxurrada de pesquisas revela os mais diferentes resultados e desorienta o público.
‘As pesquisas não apenas medem as campanhas. Elas também as afetam’, afirma Alan Elsner [Reuters, 28/9/04]. Dean Siliotes, diretor do Instituto de Políticas da faculdade Saint Anselm, em Manchester, explica que as pesquisas têm um impacto sobre a maneira como os eleitores vêem um candidato, especialmente pela grande atenção que elas recebem das emissoras de TV a cabo e da internet.
Alguns especialistas dizem que as variações nestas últimas pesquisas refletem a volatilidade e a indecisão do próprio eleitorado americano. Mesmo assim, os institutos de pesquisa reconhecem que há muitas maneiras de errar, e tentam descobrir onde está sua falha – que pode ir desde a amostragem de pesquisados até a ordem em que as perguntas são colocadas.
Outro problema encontrado pelos institutos é a incerteza da margem real de eleitores no pais. Ao contrário do que acontece no Brasil, o voto nos EUA não é obrigatório. Desta forma, acredita-se que apenas 50% do eleitorado vá votar para presidente em novembro. Este é mais um aspecto contabilizado nas pesquisas, e que confunde ainda mais os seus resultados.
Resultados da fé
Seja qual for o verdadeiro erro das pesquisas, suas incongruências estão deixando parte da população americana bastante irritada. O Moveon.org, grupo anti-Bush criado na internet, publicou um anúncio de página inteira no New York Times, na semana passada. No texto, atacava o instituto de pesquisa Gallup por colocar o presidente à frente em seus resultados. O grupo acusa o tradicional instituto de falha de metodologia, por entrevistar mais republicanos do que democratas. O anúncio sugere ainda que a crença religiosa do ex-membro do conselho do instituto e filho de seu fundador, George Gallup Jr., levou à distorção do resultado da última pesquisa divulgada.
‘Gallup, um cristão evangélico, afirmou há alguns meses que ‘o maior objetivo das pesquisas é ver como as pessoas respondem a Deus’. Para nós, o objetivo é reportar a opinião pública com fidelidade e de forma realista’, dizia o anúncio do Moveon.org, que provocou a ira de grupos conservadores, como a Tradition Values Coalition e o Family Research Council.
‘É uma informação irrelevante, estranha e quase ofende os cristãos evangélicos’, afirmou o diretor nacional da Anti-Defamation League, Abraham Foxman, ao jornal New York Sun. ‘Uma coisa é se questionar metodologia e credibilidade, outra é dizer que aquela metodologia é motivada pela fé…’, completou.
O instituto de pesquisa divulgou uma declaração onde afirma que baseia seu trabalho em uma série de ‘princípios neutros para certificar que em todos os momentos somos imparciais e cientificamente objetivos naquilo que fazemos’. O Gallup se defende dizendo que suas pesquisas têm se mostrado precisas ao longo de décadas. Com informações de Josh Gerstein [The New York Sun, 29/9/04].