Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Neil MacFarquhar

‘Rápido: qual o nome da vila palestina perto do que é hoje a cidade israelense de Ramla e foi destruída em 1949 e substituída por uma cidade chamada Yavne?

Muito difícil? É Yibna. Tente outra.

Que estrutura construída em arenito cinza em 1792 tornou-se a fonte de todas as decisões opressivas mundo afora? Esta deveria ser fácil: a Casa Branca.

Se você respondeu a ambas as questões corretamente, poderá ser o competidor ideal em A Missão, um programa de televisão da Al-Manar, emissora via satélite do grupo radical muçulmano libanês Hezbollah.

Concorrentes de todo o mundo árabe competem todo sábado à noite por dinheiro e pela chance de ganhar uma viagem virtual a Jerusalém. Para reforçar o drama, os pontos ganhos pelos finalistas traduzem-se diretamente em degraus rumo à cidade santa, que brilham sobre um mapa da região.

O programa é um novo método para o Hezbollah promover sua proposta – a de que todos os esforços árabes deveriam se concentrar em reconquistar terras perdidas para Israel, especialmente Jerusalém.

‘Qualquer programa nesta estação de televisão precisa apresentar a idéia de que a ocupação da Palestina tem de acabar’, disse o apresentador do show, Ihab Abi Nassif, um professor de física de 28 anos. ‘Esta é a questão central, e é por isso que trabalhamos dia e noite para mantê-la viva nas mentes das pessoas.’

O programa, que estreou no ano passado, é um pouco mais sutil que as outras atrações do canal, sem contar os noticiários. O programa Terroristas, por exemplo, repete o tempo todo cenas de ataques israelenses que mataram civis.

Homens Sinceros, cujo nome inspira-se num verso do Alcorão sobre a força dos fiéis em batalha, apresenta o perfil de combatentes do Hezbollah que realizaram missões suicidas ou se preparam para elas.

A Missão segue um formato padrão de jogo televisivo, com os competidores respondendo a questões sobre história, literatura, geografia, ciência e artes. Mas pelo menos metade das questões gira em torno da história palestina ou da história islâmica, e normalmente pelo menos um concorrente é palestino.

‘Queríamos dar ao programa uma forma que atraísse um segmento mais amplo da população’, disse Ibrahim Musawi, porta-voz da Al-Manar e diretor do noticiário em inglês. ‘Não de uma maneira ideológica ou direta, mas como entretenimento.’

Alguns críticos qualificam a Al-Manar de pura propaganda. Eles suspeitam que os apoiadores do Hezbollah, Irã e Síria, usam a relativa liberdade de expressão no Líbano para promover ódios que não se atreveriam a pronunciar em casa.

‘Seus programas mostram que os judeus são maus, os europeus são maus, os americanos são maus’, afirmou Waddah Sharara, professor de sociologia na Universidade Libanesa.

O Hezbollah ganhou certa credibilidade no mundo árabe depois que seus repetidos ataques mortais contra os soldados israelenses que ocupavam o sul do Líbano ajudaram a precipitar a retirada de Israel. O grupo aumentou sua audiência televisiva exibindo filmagens das operações, embora acredite-se que o público tenha diminuído depois que as missões ficaram mais raras.

Programas como A Missão dão nova roupagem ao tema. ‘Eles (o Hezbollah) têm um extraordinário senso de teatralidade’, disse Sharara, observando que até seus desfiles importantes nas ruas são coreografados por diretores profissionais.

Não resta dúvida de que a Al-Manar é popular entre os muçulmanos xiitas, especialmente no Líbano, mas é difícil estimar a popularidade geral do programa. Cerca de 7 mil pessoas de toda a região telefonaram num período de 35 dias no início deste ano para pedir para participar, disseram os produtores.

A Embaixada dos EUA em Beirute disse que monitora a Al-Manar, mas Washington raramente critica a emissora diretamente, resumindo toda a sua reprovação na atitude de considerar o Hezbollah uma organização terrorista. Um alto funcionário americano na região disse que A Missão encoraja a violência e chamou o programa de ‘Escolha Seu Terrorista Favorito’.

Algumas questões realmente são sobre os homens que realizaram operações suicidas. ‘O mártir Amar Hamoud foi apelidado de ‘A Espada de Todos os Mártires’ – verdadeiro ou falso?’ foi uma pergunta recente. Verdadeiro. Abi Nassif, que nunca deixa de mencionar o assunto da recaptura de Jerusalém, tratou então de descrever as proezas do homem.

As questões vão do fácil – ‘A Revolução Francesa aconteceu em 1789, verdadeiro ou falso?’ (verdadeiro) – ao mais esotérico – ‘Qual calígrafo da era Abbasid introduziu uma nova escrita árabe, copiou o Alcorão 64 vezes e manteve uma próspera escola até que Bagdá caiu sob os mongóis em 1258?’ (Abu Hassan Ali Bin Hillal).

Os prêmios não são altos. Os jogadores que chegam aos 5 milhões de libras libanesas, o equivalente a pouco mais de US$ 3 mil, ganham a chance de dobrar o prêmio com uma ‘pergunta de ouro’. Quando o vencedor ganha os 60 pontos necessários para alcançar Jerusalém, a principal canção dos desfiles do Hezbollah começa a tocar. ‘Jerusalém é nossa e vamos até ela’, diz o refrão.

Muhammad Abu Ghararah, um cirurgião líbio de 56 anos que mora na Alemanha, decidiu participar do programa durante suas férias de uma semana em dezembro. Ele fez o turismo completo do Hezbollah no Líbano, visitando uma antiga prisão israelense no sul e parando no Portão de Fátima para atirar pedras contra os soldados de Israel por sobre a cerca da fronteira.

Ele afirmou ter doado os US$ 3 mil que ganhou no programa para uma instituição de caridade palestina.

‘Esse tipo de programa é muito importante, pois repete a questão dos palestinos, mantendo-a fresca em nossas mentes, mantendo-a viva’, disse Ghararah. ‘É como os comerciais. Quando há muitos comerciais de um creme dental, por exemplo, quando você vai ao supermercado, espontaneamente pensa nele e o compra. O mesmo vale para os palestinos. Temos de nos lembrar sempre da causa palestina, e é isso que a Al-Manar faz.’’



CUBA
Jornal do Brasil

‘Rádio iludiu Fidel’, copyright Jornal do Brasil, 26/04/04

‘A rádio em língua espanhola de Miami, El Zol 95.7, que enganou o presidente cubano Fidel Castro fazendo-o pensar que falava com seu colega venezuelano Hugo Chávez em pleno ar, foi punida com uma multa de US$ 4 mil. Em 17 de junho de 2003, a rádio ligou para o ditador cubano e o fez acreditar que estava realmente falando com Hugo Chávez.

O falso presidente da Venezuela pediu a Fidel a ajuda de seus serviços de segurança para encontrar uma maleta repleta de documentos secretos que ele teria supostamente esquecido durante a cerimônia de posse do presidente argentino Néstor Kirchner em Buenos Aires, no dia 25 de maio, à qual ambos compareceram.

Depois de 25 minutos de conversa, a voz do suposto governante venezuelano interrompeu Fidel com a seguinte pergunta:

– Você concorda com a merda em que tua ilha está? Te peguei! – disse o locutor para um espantado Fidel Casttro.

Furioso do outro lado da linha, Castro reagiu na mesma moeda:

– Como me pegou, seu merda? Viado! – gritou ele antes de bater o telefone.

A rádio repetiu a brincadeira durante todo o dia. Em janeiro de 2003, fez de novo a mesma brincadeira, levando Hugo Chávez a acreditar que havia falado com o cubano por 20 minutos. A El Zol tem 30 dias para apelar, informou a Comissão Federal de Comunicações.’



CHINA
Cláudia Trevisan

‘Censura na China’, copyright Folha de S. Paulo, 25/04/04

‘A prisão de três jornalistas chineses que noticiaram o assassinato de um estudante pela polícia trouxe novos interlocutores a um antigo debate. Pela primeira vez, quem vem a público falar em censura e liberdade de expressão são chineses residentes no país, e não estrangeiros ou exilados.

A discussão sobre a prática de censura na China ressurgiu na imprensa internacional na última semana, quando o diário ‘The New York Times’ noticiou que jornais chineses haviam suprimido trechos de um discurso do vice-presidente norte-americano, Dick Cheney, que aludiam à liberdade individual e a temas delicados para Pequim, como Taiwan e Hong Kong.

Mas o caso que chama mais atenção é a prisão, no mês passado, de três editores do ‘Diário Metropolitano do Sul’, jornal da Província de Cantão (sul) que se tornou célebre por assumir uma postura independente em relação ao governo e publicar casos que renderam repercussão nacional, principalmente sobre o abuso de poder pela polícia.

Oficialmente, Yu Huafeng, Li Mingying e Cheng Yizhong foram detidos sob acusação de desviar verbas do jornal. Yu e Li foram condenados a 12 anos de prisão, e Cheng, o editor-chefe, aguarda o julgamento.

Entretanto seus defensores apontam como verdadeira razão da prisão dos jornalistas a publicação de uma reportagem sobre o assassinato, por um grupo que incluía policiais, do estudante Sun Zhigang, um migrante de 27 anos detido por não ter permissão para residir na capital de Cantão. Sun foi preso em 17 de março de 2003 e morreu dois dias depois, numa dependência da polícia, vítima de espancamento.

O governo contesta a acusação e afirma que as prisões foram realizadas porque os três desobedeceram à lei e praticaram corrupção.

Por sua vez, a mulher de Cheng, Chen Junying, afirma que não houve desvio, mas sim um problema contábil. Segundo ela, o jornal não repassou à sua empresa controladora, o grupo Nan Fan, a receita obtida com a venda de anúncios.

‘Eles estão usando esse ponto para persegui-los’, afirmou ela em entrevista ao jornalista Arnold Zeitlin, que até dezembro passado coordenava uma ONG de defesa da liberdade de imprensa em Hong Kong.

O fato é que o caso está sendo considerado um marco na questão da liberdade de imprensa da China, terreno no qual o país já avançou, mas não o suficiente para garantir aos jornalistas a certeza de que não serão punidos se atravessarem a confusa linha divisória entre o que é e o que não é permitido pelo Estado.

O ineditismo também está nos defensores dos direitos humanos que a questão atraiu. Quem pede a libertação dos jornalistas e afirma abertamente que se trata de uma violação da liberdade de expressão são chineses que vivem no país, e não vozes externas, como costuma ocorrer nesses casos.

A principal dessas vozes é a do advogado dos jornalistas, Xu Zhiyong, que criou uma ONG para, entre outras coisas, propor mudanças em textos legais considerados atentatórios aos direitos humanos.

Ambigüidade

No processo de abertura e transformação que o país vive desde o início dos anos 80, a imprensa ocupa uma posição dúbia.

Quase todas as publicações são controladas pelo Partido Comunista ou pelo Estado, que ainda mantém restrições sobre certos temas contrários ao ideário do partido. Ao mesmo tempo, o governo determinou que os jornais e as revistas têm de se modernizar, ser competitivos e viver à custa de sua própria receita, sem os subsídios do Estado ou do partido.

Foi o que o ‘Diário Metropolitano do Sul’ fez. De propriedade do Partido Comunista do Cantão, o jornal adotou uma linha investigativa, cobrindo casos de repercussão nacional. O resultado foi o aumento das vendas e a transformação da publicação em uma das mais populares do país.

Agora, com a prisão dos três ex-editores, os jornalistas do ‘Diário Metropolitano do Sul’ estão acuados. Além disso, há a expectativa de que o caso, se não for revisto, represente um retrocesso para a imprensa, com a sinalização de que os limites de sua atuação continuam estreitos.

O governo chinês afirma que a Constituição garante a liberdade de expressão e que a lei é respeitada. Mas, apesar de avanços inegáveis, a prática da censura é visível.

As TVs a cabo transmitem as grandes redes de notícias internacionais, como CNN e BBC, mas a programação é interrompida quando há reportagens favoráveis à independência de Taiwan ou sobre manifestações pró-democracia em Hong Kong, dois temas sensíveis para o governo chinês.

Além disso, a TV a cabo não é disponível nos edifícios habitados apenas por chineses. O serviço só existe nos prédios destinados principalmente a estrangeiros.

O acesso à internet é bastante amplo, mas o governo bloqueia determinados sites -sobretudo ocidentais-considerados contrários aos seus interesses.

Recentemente, o bloqueio ficou mais sofisticado e passou a ocorrer em relação a certos temas dentro dos sites. Um dos alvos foi o site da Voz da América, rádio financiada pelo governo norte-americano.

Há ainda a censura a conteúdos eróticos -não há nada semelhante à revista ‘Playboy’ na China, e publicações pornográficas são proibidas.

Entretanto, apesar da rigidez, não há como o controle ser absoluto na internet. Uma busca pela palavra ‘sex’ no Yahoo, em chinês simplificado, resultou em 562 mil sites. Os poucos que a reportagem acessou foram abertos sem dificuldade, e a maioria tinha conteúdo pornográfico explícito.’

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‘Assassinato de estudante pela polícia leva governo a revisar leis’, copyright Folha de S. Paulo, 25/04/04

‘O assassinato do estudante Sun Zhingang em dependências da polícia, em março do ano passado, foi um dos primeiros casos de violação de direitos humanos na China a provocar mudanças na legislação do país.

Em novembro, oito meses depois da morte de Sun por espancamento, o Congresso Nacional do Povo aboliu a lei que permitia à polícia prender pessoas que não portassem documento de autorização de residência na cidade em que se encontravam. Sun foi preso porque era de outra Província e estava morando na capital de Cantão sem licença.

As cidades chinesas têm um sistema de registro dos moradores que dificulta a permanência de migrantes. O sistema está cada vez mais flexível e, depois da morte de Sun, a polícia perdeu o poder de prender pessoas que não cumprissem a exigência.

‘Os cidadãos comuns precisam prestar mais atenção à questão dos direitos humanos na China’, afirma o advogado Zhang Xingshui, um dos fundadores da Open Constitution Initiative (iniciativa por uma constituição aberta).

Zhang atuou no caso de Sun e conseguiu a condenação de 12 pessoas envolvidas na morte do estudante. Duas foram condenadas à morte e uma à prisão perpétua. Os outros nove receberam penas de três a 15 anos de prisão.

O outro fundador da ONG é Xu Zhiyong, advogado dos três jornalistas presos após noticiarem a morte do estudante. No ano passado, Xu se elegeu deputado distrital por Pequim como candidato independente. Um terceiro colega participou da empreitada.

Zhang diz que a criação da ONG por si só já é um grande sinal de mudança no cenário político chinês. A entidade, que se dedica à defesa dos direitos civis, ao estudo de questões constitucionais e à proposição de mudanças de textos legais considerados atentatórios aos direitos humanos, é o embrião de uma organização da sociedade civil totalmente nova na China.

Questionado se havia enfrentado dificuldade para abrir a organização, Zhang riu. ‘Nos dias de hoje? Nenhum problema’, respondeu em tom de brincadeira.

Mas os editores do ‘Diário Metropolitano do Sul’ não foram tão felizes. Eles foram acusados de desviar recursos do jornal, coincidentemente depois de terem divulgado várias reportagens de impacto nacional.

No último dia 19 de março, Yu Huafeng foi condenado em primeira instância sob a acusação de ter desviado US$ 70 mil do jornal, dos quais US$ 12 mil teriam sido dados a Li Mingying, que também foi condenado. Cheng Yizhong, que era editor-chefe do jornal, foi preso no mesmo dia e aguarda julgamento.’



AS FOTOS DE DIANA
Folha de S. Paulo

‘Britânicos reagem contra TV que exibiu fotos de Diana agonizante’, copyright Folha de S. Paulo, 23/04/04

‘A decisão da rede de TV americana CBS de mostrar duas fotografias da princesa Diana tiradas logo após o acidente de carro que a matou em Paris, em 1997, recebeu severas críticas no Reino Unido. O premiê Tony Blair afirmou que a exibição das imagens foi de ‘mau gosto’, e a família de Diana se disse ‘chocada e enojada’.

As imagens, cópias xerox das fotos confiscadas dos paparazzi, mostram Diana de olhos fechados, com semblante tranqüilo, deitada de lado enquanto recebia atendimento. Seu rosto, coberto de sangue, não exibe ferimentos.

O conceituado jornal ‘The Guardian’ afirmou que a CBS decidiu ‘levar a indústria da princesa Diana a níveis mais baixos de lascívia’. Até mesmo a imprensa tablóide, incansável na exploração de assuntos ligados à família real britânica, manifestou-se contra a rede de televisão. O ‘Sun’ chamou as fotos de ‘horríveis’ e disse que os filhos de Diana -William, 21, e Harry, 19-, ‘ficarão abalados’.

Mohamed al Fayed, pai do namorado de Diana -Dodi Fayed, que também morreu no acidente-, disse que a CBS se comportou de modo ‘vergonhoso e insensível’. ‘A CBS obviamente não liga para o efeito consternador de mostrar imagens de vítimas de assassinatos.’ Fayed sustenta que Dodi e Diana foram vítimas de um complô, pois acredita que o relacionamento dos dois incomodaria a monarquia.

A CBS exibiu anteontem as duas fotos em preto-e-branco e granuladas no programa ‘48 Hours’. A rede afirma que as imagens não eram explícitas ou sensacionalistas e que foram mostradas por dez segundos no contexto de uma entrevista com o médico que deu o primeiro atendimento a Diana.

A CBS disse que as fotos faziam parte do relatório confidencial da polícia francesa (que não achou indícios de sabotagem). Essa é a primeira vez em que uma grande organização da mídia de língua inglesa revela imagens da princesa enquanto agonizava. Com agências internacionais’