Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Nem a Grande Muralha

Sem pejo um dirigente chinês, chefe do departamento internet, declara: ‘Mas qual censura na internet? Somos mais que tolerantes. As nossas regras estão alinhadas com aquelas adotadas pelos países ocidentais, mais que isso, copiamos estas regras, imaginem, dos Estados Unidos. As firmas americanas, Microsoft, Google, Yahoo, Cisco estão bem felizes de cooperar conosco’. Washington lança seus protestos contra estas firmas, na mira do Subcomissão de Direitos Humanos da Câmara: ‘Vocês contribuíram para decapitar as vozes dissidentes’, diz um congressista do estado de Nova Jersey. ‘Suas ações inconvenientes na China são uma desgraça, não consigo entender como os responsáveis pela sua sociedade consigam dormir à noite.’

Todavia, para os quatro colossos da informática, negócios são negócios e os com a China foram fechados há pouco, assim fica fácil a Pequim dizer sem pudor: ‘Nós só censuramos os sites pornográficos e aqueles que incitam ao terrorismo.’ Se as coisas fossem verdadeiramente assim, em Pequim, Xangai, Xenzen, Xian, qualquer computador teria acesso, por exemplo, à BBC que, ‘ao que tudo indica’, não é site pornô ou terrorista.

Imagens emblemáticas

Na China tudo está mudando, menos a livre opinião, que não existe, estrangulada pela intolerância cultural. As quatro grandes da informática acharam que os valores do jogo valiam a pena: o Google apagou de seu ‘motor’ de busca os verbetes Tibet, Dalai Lama e Tienanmen; a Microsoft do liberalíssimo Bill Gates fechou o blog que permitia críticas ao partido comunista; a Cisco colocou à disposição da Guarda Vermelha o dispositivo que permite silenciar sobre a censura; pior ainda, a Yahoo contribuiu para a condenação de dissidentes, graças à delação informática. Tudo em nome do potencial apresentado pelos 180 milhões de internautas chineses.

Há uma grande questão: até quando a China poderá manter seu ritmo de desenvolvimento econômico sem instaurar elementos democráticos? Os líderes chineses, desde os tempos de Deng Xiao Ping, temem uma saída à russa, como a democracia de Gorbatchev, que em doses maciças venha a quebrar o sistema, portanto mantém estreita a tenaz política, relaxando a econômica. Será porém impossível negar os mais elementares direitos civis a uma classe média que já atinge os 200 milhões de habitantes.

Ninguém conseguiu nem conseguirá censurar as imagens emblemáticas da Praça Tiananmen, onde um jovem parou os carros de combate que tentavam destruir a liberdade. Para fazer a população calar não basta nem uma Grande Muralha de censura.

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Jornalista