A revista americana Newsweek admitiu que pode ter publicado uma informação errada em matéria da edição de 9/5. O texto afirmava que interrogadores americanos teriam jogado uma cópia do Alcorão na privada e dado descarga na tentativa de fazer com que prisioneiros na base da Baía de Guantánamo, em Cuba, falassem. O artigo, assinado pelos repórteres Michael Isikoff e John Barry, causou revolta em países muçulmanos – a onda de violência na semana passada deixou pelo menos 17 mortos.
Em nota na edição da Newsweek desta semana, o editor Mark Whitaker pediu desculpas às vítimas da violência e aos soldados americanos envolvidos no caso. Em artigo assinado por Evan Thomas nesta mesma edição [23/5/05], é explicado que os repórteres responsáveis pela polêmica matéria confiaram em uma fonte do governo americano, que pediu para ter sua identidade mantida em sigilo. Depois de toda a confusão causada pela publicação do artigo, esta fonte teria voltado atrás em suas afirmações, alegando que não teria certeza de que a profanação do Alcorão teria acontecido de fato.
Fonte confiável, apuração cuidadosa
Funcionários do Pentágono questionaram a informação, que afirmam não existir nos relatórios internos do órgão, e acusam a Newsweek de se esconder ‘por trás de fontes anônimas’. Whitaker rebateu que a revista tenta, sempre que possível, identificar suas fontes de informação, mas que ‘há certas fontes que só falam se não forem identificadas, particularmente quando informações sensíveis estão envolvidas’.
Ele afirmou ainda que, neste caso específico, os repórteres agiram de forma correta e cuidadosa. A fonte em questão havia sido confiável no passado e ocupa um cargo que a permitiria conhecer a existência dos fatos relatados. Além disso, Isikoff e Barry mostraram um rascunho do artigo para um funcionário sênior do Pentágono para confirmar as informações contidas nele – o oficial teria corrigido outros dados, mas não falou nada sobre a suposta profanação do Alcorão.
Protestos muçulmanos e americanos
Religiosos se reuniram em países de maioria muçulmana para protestar contra a afirmação da reportagem. No Afeganistão, estudiosos islâmicos e líderes tribais pediram a punição de qualquer pessoa que tenha profanado o livro sagrado. Segundo Maulawi Abdul Wali Arshad, chefe do departamento de relações religiosas da província de Badakhshan, os líderes querem uma ‘reação’ do governo americano.
No Líbano, o mais velho clérigo xiita muçulmano afirmou que a profanação do Alcorão é parte de uma campanha americana com o objetivo de desrespeitar e caluniar o Islã. O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, e o primeiro-ministro, Shaukat Aziz, aliados de Washington, pediram que seja feita uma investigação que leve à punição dos responsáveis.
O artigo da Newsweek causou revolta também no Iêmen, Indonésia e Faixa de Gaza. As 22 nações da Liga Árabe divulgaram declaração dizendo que, se for descoberto que as alegações são verdadeiras, o governo americano deve se desculpar com os muçulmanos.
O principal porta-voz do Pentágono, Lawrence DiRita, foi primeiro a questionar a veracidade da matéria. Ao saber que a fonte anônima da revista teria titubeado quanto à informação dada inicialmente, DiRita reagiu com revolta: ‘Pessoas morreram por causa do que esse filho da mãe falou. Como ele pode ser confiável agora?’. Com informações de Katharine Q. Seelye [The New York Times, 16/5/05] e Dino Hazell [AP, 16/5/05].