No sábado (1/9), a Líbia comemorou o 38º aniversário do golpe que derrubou a monarquia e levou Muamar Kadafi ao poder. O clima de celebração podia ser visto na capital Trípoli, decorada com bandeiras, grandes pôsteres de Kadafi e faixas em homenagem ao ‘líder da revolução’. Por dias, a imprensa estatal publicou trechos da ‘narrativa da revolução’, que relembra os eventos que levaram à queda do rei Idris em 1969.
Mas as comemorações também foram marcadas por um cenário de aumento da liberdade de imprensa. Ainda tímida, a mídia independente apareceu recentemente, pela primeira vez no país desde que Kadafi chegou ao poder. Enquanto os jornais estatais são impressos em papel verde, os novos diários Oea e Cyrene podem ser identificados pelo papel azul. Os dois jornais pertencem à al-Ghad (que significa Amanhã), companhia que lançou, em agosto, a al-Libiya, primeiro canal de TV privado do país.
Nova cara
Criada por jovens escritores e jornalistas encorajados pelo filho de Kadafi, Seif al-Islam, a al-Ghad tem como objetivo estimular o ‘renascimento’ de um novo cenário midiático na Líbia, que por quase 40 anos foi controlado por um órgão oficial. Al-Islam não possui cargo oficial no governo, mas é um dos principais porta-vozes do pai. Ainda assim, ele surpreendeu recentemente ao afirmar que os jornais oficiais são ‘sem graça’ e que o país precisava de uma imprensa livre. Com a aproximação da Líbia ao Ocidente, al-Islam defende reformas para o fortalecimento da democracia, mas deixa claro que a liderança do pai não entra na discussão.
Os jornais da al-Ghad já ensaiaram alguns passos críticos ao governo, em assuntos que antes eram considerados tabu. O primeiro-ministro Baghdadi Mahmudi foi acusado de desfigurar a capital ao ordenar a demolição de prédios sem um plano para substituí-los. O caso de membros da oposição líbia exilados no exterior também foi abordado. Um editorial pedia que as autoridades permitissem a volta deles para casa.
‘Nós queremos dar uma nova cara à imprensa líbia. A mídia não deveria ficar satisfeita em apenas reportar informações, mas em ajudar órgãos estatais a combater a corrupção’, afirma Mohammed Bussifi, diretor da companhia, ressaltando que está pronto para ‘aumentar o máximo possível as críticas’ sem ultrapassar a linha proibida – leia-se Muamar Kadafi. Informações de Afaf Geblawi [AFP, 31/8/07].