Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

No jornalismo, sem motivos para comemorar

Nesta quarta-feira (8/3), comemora-se o Dia Internacional da Mulher, mas será que há motivo de comemoração para as profissionais de imprensa? De acordo com a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), ainda há muita discriminação em relação às mulheres na mídia. Em seu sítio [8/3/06], a organização faz um apelo aos sindicatos e organizações de mídia pelo fim de qualquer forma de discriminação que impeça as mulheres de ocuparem cargos mais altos nas empresas de comunicação.


‘Apesar de ter mais mulheres na profissão atualmente, os sindicatos e veículos de comunicação ainda são dominados por homens. Esta é uma má notícia para as condições de trabalho feminino e para a qualidade do jornalismo’, afirma Pamela Morinière, coordenadora da Campanha de Direitos de Gênero da FIJ. ‘Não se pode esperar que a mídia forneça um quadro equilibrado da população mundial quando metade dela ainda sofre preconceito e negligência’.


A FIJ parabenizou a iniciativa do Projeto Global de Monitoramento da Mídia, que divulgou no mês passado o relatório ‘Who Makes the News?’ (Quem faz as notícias?). O estudo demonstrou que, apesar de as mulheres constituírem 50% da população mundial, raramente são representadas na imprensa em todo o mundo – elas aparecem em apenas 21% das matérias. Além disso, o ponto de vista feminino é pouco consultado em temas considerados mais ‘sérios’, como política e economia.


Na tentativa de melhorar esta situação, a Federação Européia de Jornalistas, afiliada da FIJ na Europa, está desenvolvendo um vídeo sobre estereótipos sofridos por mulheres na política e na mídia. ‘Esta iniciativa vai ser muito útil, em faculdades de jornalismo e treinamentos de profissionais da imprensa, para educar os jornalistas sobre a necessidade de fornecer um ponto de vista justo de políticos do sexo feminino no noticiário’, diz Pamela. ‘Há muitos problemas enfrentados por mulheres – intimidação, assédio e diferenças salariais – que também têm um impacto na qualidade dos direitos dos homens; e os sindicatos têm um papel fundamental para melhorar esta situação.’


Violência contra (as) jornalistas


Ao lembrar a data, a organização Repórteres Sem Fronteiras enfatizou em artigo em seu sítio [7/3/06] que há, hoje, duas jornalistas mulheres reféns no Iraque – Jill Carroll e Rim Zeid, seqüestradas nos dias 7/1 e 1/2, respectivamente – e outras seis presas em Cuba, Etiópia, Irã, Maldivas, Nepal e Ruanda.


Entre os 24 jornalistas presos em Cuba, encontra-se Lamasiel Gutiérrez Romero, da agência de notícias Nueva Prensa Cubana, condenada em outubro de 2005 a seis meses de prisão domiciliar por ‘ofensa e desobediência civil’ e proibida de exercer a profissão durante este período.


Na Etiópia, Frezer Negash, correspondente do sítio americano Ethiopian Review – hoje, grávida de quatro meses – foi presa em 17/1. Elham Afrotan, jornalista do Tamadone Hormozgan, foi presa no Irã em 23/1 depois do jornal ter publicado um artigo satírico sobre o aiatolá Khomeini.


Nas Maldivas, Jennifer Latheef, do Minivan, foi condenada em setembro de 2005 a dez anos de prisão por ‘ato terrorista’. Ela foi libertada no fim de dezembro para receber tratamento médico depois de ter sido agredida por policiais, ficando em prisão domiciliar desde então.


No Nepal, Bhawana Prasain, do Majdur Aawaj, presa desde 9/2, afirmou que foi agredida por policiais que tentaram arrancar dela a confissão de que seria membro do movimento maoísta.


Em Ruanda, Tatiana Mukakibibi está presa desde outubro de 1996. Ela era apresentadora e produtora da Radio Ruanda e, depois do genocídio em 1994, trabalhou com o padre André Sibomana. Tatiana acredita que foi presa porque Sibomana estava enviando relatórios para organizações internacionais denunciando abusos cometidos por tutsis em represália ao genocídio, no qual 800 mil pessoas das etnias hutu e tutsi foram assassinadas em menos de cem dias por milícias, soldados do Exército e pela própria população. O genocídio em Ruanda é considerado o maior assassinato étnico em massa desde o Holocausto.


Segundo os RSF, desde 1992, 46 jornalistas foram mortas em todo o mundo no exercício da profissão. Na maioria dos casos, os assassinos continuam impunes. Desde o começo da guerra no Iraque, em março de 2003, oito jornalistas foram seqüestradas – uma delas, Raeda Wazzan, foi morta em fevereiro do ano passado.


A organização fez uma homenagem a Atwar Bahjat, correspondente do canal al-Arabiya assassinada no dia 22/2 em Bagdá, e à apresentadora da rede libanesa LBC, May Chidiac, gravemente ferida em um atentado em Beirute em setembro do ano passado.