Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Sexta-feira, 8 de outubro de 2010 LITERATURA Nobel premia estilo mordaz de Vargas Llosa A Academia Sueca surpreendeu ao conceder o Prêmio Nobel de Literatura ao peruano Mario Vargas Llosa, 74, na manhã de ontem. Um dos principais escritores e intelectuais da atualidade, de talento reconhecido em diversos países, Vargas Llosa integrava até ontem a lista dos eternos favoritos ao prêmio sempre preteridos na última hora. Isso porque as últimas escolhas do comitê sueco privilegiaram autores pouco conhecidos fora de seus países, mais identificados pelo caráter político do que propriamente pelas suas qualidades literárias. Foi o caso da romena Herta Müller, vencedora do prêmio em 2009. Segundo a Academia Sueca, que o premiará com cerca de R$ 2,7 milhões, o peruano foi escolhido ‘pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos’. Vargas Llosa estava em Nova York quando soube do resultado. ‘Achava que tinha sido completamente esquecido pela Academia’, afirmou o escritor à agência sueca TT. Em declarações ao jornal espanhol ‘El País’, disse estar ‘comovido e entusiasmado’ e definiu o prêmio como ‘um reconhecimento à língua espanhola’. Amiga de Vargas Llosa, a brasileira Nélida Piñon contou que a notícia foi dada em primeira mão à agente do peruano, Carmen Balcells. Escritores brasileiros definiram como justa e tardia a premiação do peruano, destacando seu domínio das técnicas narrativas. Entre outros prêmios, o escritor já foi condecorado com o Cervantes, em 1994, e o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras Espanha, em 1986. O Nobel virá ao Brasil em 14 de outubro, quando participa, em Porto Alegre, do Fronteiras do Pensamento. Os ingressos para o evento, que acontece às 19h30 na UFRGS, já estão esgotados. VEIA CÔMICA Vargas Llosa nasceu em 1936, na cidade de Arequipa. Estudou letras e direito em Lima. Em 1959 mudou-se para a Espanha. Intercalaria, a partir daí, períodos entre o Peru e a Espanha. No mesmo ano publicou seu primeiro livro, a coletânea de contos ‘Os Chefes’. A ele seguiu-se ‘A Cidade e os Cachorros’ (1963). A consagração definitiva viria com ‘Conversa na Catedral’ (1969), em que aborda 30 anos da história peruana. Outras obras de sucesso são ‘Pantaleão e as Visitadoras’ (1973) e ‘Tia Julia e o Escrevinhador’ (1977), ambos críticas de forte veia cômica sobre a sociedade peruana. Inspirado em ‘Os Sertões’, de Euclydes da Cunha, Vargas Llosa elegeu Canudos como tema de ‘A Guerra do Fim Mundo’ (1981). O autor chegou a empreender pesquisas em arquivos históricos e viagens ao sertão da Bahia para resgatar a história de um dos conflitos mais sangrentos da história brasileira. Além da atividade como ficcionista, o autor destaca-se também como crítico literário. Publicou ensaios sobre Gabriel García Márquez e o francês Gustave Flaubert (1821-1880). Se mais recente livro publicado no Brasil chegou nesta semana às livrarias. Trata-se de ‘Sabres & Utopias’ (ed. Objetiva; R$ 49,90; 432 págs.) e reúne ensaios sobre arte, política e literatura. O novo romance do autor deverá ser lançado aqui, pela Objetiva, em julho de 2011. ‘O Sonho de Celta’, baseado na vida do diplomata Roger Casement (1864-1916), aborda a exploração colonial no Congo e o ciclo da borracha na Amazônia. POLÍTICA A escolha deste ano também chama a atenção por contrariar a tendência de premiar escritores de pensamento de esquerda. A partir da década de 80, Vargas Llosa passou a ser um dos defensores do pensamento neoliberal. Em 1987, participou de um movimento contra a a estatização da economia peruana, em voga no governo do presidente Alan García Pérez. Em 1990 foi candidato à presidência do Peru pela Frente Democrática, partido de centro-direita, mas perdeu para Alberto Fujimori. Vargas Llosa narrou sua experiência política no livro ‘O Peixe na Água’ (1993). Laura Janina Hosiasson Um prêmio sem surpresas, entregue ao senso comum Se Mario Vargas Llosa se mostrar muito surpreso com a sua premiação, ele não estará sendo sincero. Como escritor, desde os primeiros romances, seu horizonte foi largo, totalizante. Vargas Llosa transmite isso à forma de sua escrita que, longe do tratamento intimista ou de foco reduzido, preferiu sempre a lente maior, a grande angular que dá espaço a grandes contingentes de personagens ou a grupos de seres que, na soma das performances, oferecem uma visão panorâmica do conjunto. Já como intelectual, sua trajetória foi sempre na direção de uma expansão de interesses. O escritor desenhou a figura de homem público que pauta sua ensaística e sua longa atuação como cronista e colunista de jornais. Creio que pode se pensar na trajetória de Vargas Llosa como um emblema de todo um percurso possível de certo pensamento da esquerda latino-americana. Ele é o primeiro a ratificar isso. Ainda jovem, com olhar crítico e revolucionário, perscruta uma realidade endemicamente injusta, pondo o dedo na ferida de preconceitos, atrasos e desenvolvimentos perversos de uma modernidade atrapalhada. Nos anos 1970, começaria a dar os passos de distanciamento com a intervenção no caso do poeta cubano Heberto Padilla, perseguido pelo regime de Fidel Castro. Desse momento até as eleições presidenciais como o candidato conservador e, mais recentemente, como articulista de assuntos de interesse internacional, Vargas Llosa ‘endireitou’, ou seja, amenizou, contemporizou, aparou arestas… Não haverá aqui uma analogia com a curva dos movimentos liberais desde o século 19? O galardão que agora ele recebe é sabidamente um prêmio que vai além do reconhecimento literário. Premia toda uma atuação intelectual e, se alguém dentro do cenário intelectual de hoje se perfila como um homem do seu tempo, é Vargas Llosa. Só a modo de coda final e para não deixar de levantar um problema, penso que a fórmula que o grande escritor peruano encontrou para costurar sua vocação literária com a do político está na raiz de uma retração na qualidade da escrita. Não há de fato como pensar a literatura latino-americana do século 20 sem tê-lo lido. Mas também é verdade que pela mão do exímio narrador desfilam há muitos anos, ideias fracas, lugares-comuns e conciliadores, afastados de uma grande experiência artística. LAURA JANINA HOSIASSON é professora de literatura hispano-americana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP INFORMAÇÃO Sigiloso tribunal militar No afã de iluminar a pouco conhecida biografia da candidata presidencial Dilma Rousseff, a Folha solicitou acesso aos documentos oficiais, sob guarda da Justiça Militar, relativos ao período, no início da década de 70, em que sofreu sevícias e foi mantida presa pelo regime autoritário (1964-1985). O pedido foi negado pelo presidente do Superior Tribunal Militar, Carlos Alberto Marques Soares, sob a alegação de que os documentos poderiam prestar-se a ‘uso político’ em época eleitoral. Os advogados do jornal tratam de obter, agora, que o plenário do STM reveja a impensada decisão. O presidente daquela corte não compreendeu vários aspectos do caso. Em primeiro lugar, mesmo que tais documentos se prestassem a ‘uso político’, isso seria legítimo numa democracia. É sobretudo durante campanhas eleitorais que informações de interesse público devem vir à luz, sendo avaliadas por quem quiser examiná-las e se manifestar a respeito. Em segundo lugar, trata-se de documentos do Estado, relativos a fatos ocorridos há cerca de 40 anos, sendo no mínimo duvidoso que uma autoridade possa subtraí-los do conhecimento público. O relator do mandado de segurança impetrado pelo jornal, almirante Marcos Martins Torres, sugeriu que a Folha pretende, com os dados solicitados, criar um ‘fato político às vésperas das eleições’. Autoriza, assim, que se especule sobre os reais motivos de seu voto. Talvez o almirante esteja imbuído de excessivo apego ao sigilo, próprio de sua profissão. Talvez, por hábito hierárquico, tenha receio de melindrar a provável futura presidente da República. Mas, se houvessem refletido sobre o assunto, o presidente do STM e o relator do caso teriam concluído que eles próprios já fazem ‘uso político’ do material, ao ocultá-lo. A recusa é ainda mais nociva pela suspeita, certamente infundada, que suscita: o que haveria de tão perturbador em tais documentos, a ponto de sua divulgação ser julgada propícia a perigoso ‘uso político’? Em diversos momentos da ditadura, o STM agiu como força moderadora dos abusos de poder que eram cometidos pelo aparelho de repressão à subversão armada. Pede-se aos magistrados que hoje o compõem restaurar essa tradição da corte, cancelando a arbitrariedade cometida por seu próprio presidente. CAMPANHA Josias de Souza, Valdo Cruz e Ana Flor Lula vê Dilma ‘abatida’, e TV vai vender ‘favoritismo’ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva externa, em privado, preocupação com o ‘abatimento’ de sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff (PT), nos últimos dias. Para mudar esse quadro, a reestreia do programa eleitoral na TV, hoje, irá classificar como ‘vitória’ com ‘votação expressiva’ o resultado de Dilma no primeiro turno. Para o presidente, a ‘prioridade zero’ da campanha é reavivar o semblante de ‘favorita’ que sua candidata exibia até domingo. Em conversa com um governador aliado, Lula recorreu a uma analogia futebolística para explicar sua apreensão. Ele disse que no sábado, véspera da eleição, postou-se diante da TV em São Bernardo para assistir ao jogo Corinthians x Ceará. Corintiano fanático, Lula disse que imaginou que seu time venceria ‘de lavada’. No intervalo, a equipe do Ceará vencia por dois a zero. Só aos 24 minutos do segundo tempo o Corinthians reagiu. Placar final: dois a dois. Lula resumiu ao interlocutor: ‘Eu, que esperava do Corinthians uma vitória de lavada, recebi o empate com o Ceará como uma vitória’. Lula compara o rival José Serra (PSDB) ao Corinthians. E Dilma ao Ceará. Acha que o segundo turno deu ao tucano ares de ‘falso vitorioso’. ‘FAVORITA’ O presidente avalia que é essencial repor ‘a verdade dos fatos’. Ele realça que Dilma amealhou 47,6 milhões de votos, 14,5 milhões a mais que os 33,1 milhões de Serra. O fato de não ter prevalecido no primeiro turno, diz, não lhe tirou a condição de ‘favorita’. Lula recordou que, em 2002 e 2006, também disputou segundo turno, mas venceu. Lula disse que o Corinthians estava desfalcado, sem Ronaldo e Dentinho. ‘O time da Dilma está completo. O Fenômeno está em campo’, disse, num autoelogio. Para acentuar o suposto favoritismo de Dilma, a propaganda mostrará lideranças políticas aliadas na TV. Governadores e senadores eleitos irão aparecer em depoimentos em que defendem a importância da vitória. A intenção é mostrar Dilma como grande favorita. Ao citar os 47,7 milhões de votos recebidos nas urnas, a campanha quer mostrar a petista como ‘uma das mulheres mais votadas da história da humanidade’, conforme disse ontem o presidente da sigla, José Eduardo Dutra. Ficarão de fora temas que levaram a disputa para o segundo turno, como a denúncia de tráfico de influência na Casa Civil e a mudança de posição de Dilma sobre aborto. Gravaram os governadores reeleitos Eduardo Campos (PE), Cid Gomes (CE) e Jaques Wagner (BA) e os recém-eleitos Tarso Genro (RS) e Renato Casagrande (ES). Gravados na segunda, em Brasília, os depoimentos foram livres, sem que os políticos seguissem um roteiro. Catia Seabra PSDB exige maior presença de FHC na TV Após aparições incidentais no primeiro turno, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a pedido da cúpula do PSDB, terá presença ampliada no programa de José Serra neste segundo turno. Além de exibir positivamente a imagem de FHC, o programa de Serra abordará, já no dia de estreia, um dos temas mais delicados para a campanha da adversária Dilma Rousseff (PT): o aborto. A abordagem será velada. Serra tangenciará o assunto ao pregar a valorização da vida. No segundo turno, o comando da campanha não abandonará a comparação das biografias de Serra e Dilma. Abundante no programa em bloco, o confronto de currículos também ocupará as inserções comerciais distribuídas ao longo do dia. A campanha do PSDB terá direito a sete minutos e meio diários de inserções. Uma delas vai comparar, metaforicamente, a trajetória dos dois candidatos. Em outros dois comerciais, o candidato agradecerá ao eleitor pelo seu desempenho no primeiro turno e pedirá apoio para a vitória. FHC Ainda ontem, a equipe de Serra editava imagens de FHC para que fossem incluídas hoje na estreia da propaganda no segundo turno. A exaltação dos acertos do PSDB -incluído o resgate da imagem do governo tucano- foi objeto de uma reunião da cúpula do partido na noite de quarta, com a presença de Serra e do ex-presidente. Na reunião, realizada em São Paulo, o ex-governador Aécio Neves, o senador Tasso Jereissati e o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, sugeriram que Serra use o horário eleitoral para valorizar a imagem do PSDB. Para o comando do PSDB, o segundo turno requer um debate mais político, com menos propostas pontuais. Guerra é um dos que insistem na tese de que é preciso proteger o partido. O PSDB, diz Guerra, terá que sair dessas eleições com imagem fortalecida, qualquer que seja o resultado da eleição. A estratégia exigirá do coordenador de comunicação da campanha, Luiz Gonzalez, habilidade para evitar que o embate comparativo Lula x FHC domine o debate no segundo turno. No primeiro turno, FHC apareceu na apresentação biográfica de Serra como um homem que ajudou a implantar o Real. No segundo turno, a aparição do ex-presidente será diluída entre novos clipes -um deles com o jingle ‘Serra é do bem’-, declarações de apoio, pinceladas de propostas e muitos depoimentos do candidato. Ao expor FHC, o comando da campanha de Serra tenta se imunizar contra os ataques já anunciados pelo PT, que investirá na associação de Serra ao governo do ex-presidente. No primeiro turno, a campanha do PSDB tinha menor tempo na TV. E Gonzalez resolveu dedicar boa parte do programa a outra vacina: tirar de Serra o rótulo de que governava para a elite. Agora, Serra terá direito ao mesmo tempo que Dilma. REGULAÇÃO Vaguinaldo Marinheiro ‘Imprensa é livre, o que não significa que seja boa’, diz Franklin O ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação) afirmou que o governo conclui até o final do ano uma proposta de regulamentação dos meio eletrônicos de comunicação, o que inclui o acesso à internet por cabo e também por celulares. Martins afirma que não estará no anteprojeto nenhum tipo de censura às mídias, tribunais especiais para julgar jornalistas ou outras tentativas de restrição à liberdade de expressão. ‘Tribunal de mídia é ficção. Isso nunca foi pensado’, disse. Em conferência realizada em 2009, foi apresentada proposta de criar um tribunal de mídia e a possibilidade de punir órgãos que ‘excluam a sociedade civil e o governo da verdadeira expressão da verdade’. O ministro não quis comentar as declarações do presidente Lula, de que a mídia no Brasil age como partido político. Mas afirmou que o atual governo sempre respeitou a liberdade de imprensa. ‘A imprensa no Brasil é livre, o que não significa que seja boa.’ Depois disse que a qualidade depende de jornais e de jornalistas, não de uma lei. Franklin esteve ontem em Londres, onde se reuniu com diretores da OfCom (Agência Reguladora Independente para as Indústrias de Comunicações do Reino Unido). Amanhã, fala como Neelie Kroes, comissária para assuntos digitais da Comissão Europeia. Quer fechar a participação da OfCom e da comissão no seminário que acontece nos dia 9 e 10 de novembro para discutir a regulamentação dos meios eletrônicos. Tanto o Reino Unido quanto a União Europeia estão redefinindo suas regulamentações sobre internet, principalmente com o uso cada vez mais frequente dos celulares para acesso à rede. O ministro afirma que, se não houver uma regulamentação muito clara, o setor de radiodifusão será engolido pelas telefônicas. Segundo ele, todo o sistema de radiodifusão no país faturou R$ 13 bilhões no ano passado. Já as teles, R$ 180 bilhões. A ideia é ter o anteprojeto pronto para o novo presidente. ‘Não é algo imediato, porque será necessária uma consulta pública antes do envio ao Congresso, que precisará também de tempo para discussão. Mas temos de ter um modelo. Nossa regulamentação de radiodifusão é de 1962, quando eram poucas as pessoas que tinham TV, e celular não existia nem em sonho’, disse o ministro. Para ministro, é correta ideia de órgão regulador O ministro Franklin Martins disse achar correta a ideia dos jornais de criar um órgão de autorregulamentação para o setor no Brasil. Mas afirmou que é preciso ter regras claras. ‘Só não entendo por que só pensaram nisso agora.’ No Reino Unido, o setor de jornais e revistas tem seu próprio órgão regulador, o Press Complaints Commission (comissão de queixas contra a imprensa). O funcionamento é muito simples. Os órgãos de imprensa se submetem a um código de conduta. Caso uma pessoa ou empresa se sinta prejudicada por uma publicação, faz uma queixa à comissão, que demora em média 39 dias úteis para resolver o problema. Se tiver havido um erro, o jornal ou revista publica uma retratação ou uma nova reportagem com o mesmo destaque da anterior. Caso o reclamante não fique satisfeito, pode recorrer à Justiça e exigir nova retratação ou indenização. GRADUAÇÃO Audiência pública discutirá novas diretrizes para curso Será realizada hoje audiência pública no CNE (Conselho Nacional de Educação) para debater novas diretrizes curriculares para a graduação em jornalismo. A proposta foi elaborada por comissão convidada pelo Ministério da Educação para propor mudanças no curso. Presidido pelo professor José Marques de Melo, o grupo sugeriu estágio obrigatório de 500 horas no curso, que continuaria tendo quatro anos. Também previu uma mudança no nome do curso, de Comunicação Social com habilitação em jornalismo para curso de Jornalismo, para que fique marcada a sua diferença em relação a outras áreas. Para entrar em vigor, a proposta tem de ser homologada pelo ministro da Educação. O evento ocorre no Conselho Nacional de Educação em Brasília, das 10h às 13h. BOLÍVIA Imprensa boliviana aumenta tom contra Evo Morales Em resposta a um projeto de lei de Evo Morales que restringe a atuação da imprensa na Bolívia, a maioria dos jornais do país publicou ontem nas capas a mesma mensagem: ‘Sem liberdade de expressão não há democracia’. Pelo menos 50 jornalistas aderiam ao protesto das empresas e iniciaram greve de fome. Houve ainda manifestações nas ruas de La Paz. O motivo dos protestos é um projeto de lei antirracismo. O texto traz dois artigos que, para as empresas, violam o trabalho da imprensa. O artigo 16 estabelece punições econômicas e até o fechamento de veículos de comunicação que publiquem conteúdo que seja considerados pelo governo ‘ideia racista e discriminatória’. Já o artigo 23 do projeto de lei diz que jornalistas e donos de jornais que forem processados não terão direito a recorrer a instâncias superiores da Justiça da Bolívia. O projeto já havia sido aprovado pela Câmara dos Deputados e seria submetido ontem ao Senado -controlado por partidários de Morales. O texto foi proposto pela base de apoio de Morales, formada por indígenas e sindicatos urbanos e rurais. ‘Não protestamos contra a lei que luta contra o racismo e toda forma de discriminação. Mas não podemos conceber que uma lei tão nobre possa bater de frente contra um direito fundamental, a liberdade de expressão’, disse Juan Javier Zeballos, diretor executivo da ANP (Associação Nacional de Imprensa). Morales criticou os protestos afirmando que os jornalistas estão usando a liberdade de expressão para defender posturas racistas. E é este o temor por trás dos protestos: que o presidente boliviano, como já fez anteriormente, acuse os jornais de ‘racismo’ e use a nova lei quando for criticado. Morales afirmou também que os meios de comunicação que forem fechados passarão a ser propriedade de sindicatos da área. O objetivo da medida, argumenta, é que a lei não provoque o fechamento de postos de trabalho. INTERNET ‘NYT’ manterá gratuito parte do conteúdo on-line Faltando menos de três meses para o início da cobrança por conteúdo por parte do ‘The New York Times’, a presidente-executiva do grupo, Janet Robinson, enfatizou a importância de o veículo se manter aberto para a internet, tanto em termos de mecanismos de busca como para as mídias sociais. Em entrevista ao jornal francês ‘Les Échos’, ela explicou que o modelo prevê acesso livre a um certo número de artigos. ‘É um modelo flexível que nos permitirá acolher internautas que chegam por meio de blogs, redes sociais e buscadores’, disse ela. Com isso, o grupo espera manter a audiência maciça do endereço virtual NYT.com (43,7 milhões de visitas únicas por mês) e, consequentemente, as receitas publicitárias. A estratégia da empresa contrasta com a política fechada do periódico britânico ‘The Times’. Especula-se que, com o início da cobrança por conteúdo e das restrições a buscadores, a audiência do site do jornal londrino tenha caído. TELEVISÃO Laura Mattos Cultura e TV Brasil devem ter universidade, diz Unesco A TV Cultura, mantida em parte pelo governo de São Paulo, e a TV Brasil, do governo federal, devem se unir para criar uma universidade. A recomendação faz parte de estudo inédito sobre as duas redes públicas, feito pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). De acordo com a instituição, a universidade deve ter dois objetivos principais: qualificar os atuais e futuros profissionais das TVs públicas e discutir rumos da programação e possibilidades de financiamento das redes. O estudo foi feito com base em entrevistas com dirigentes da Cultura e TV Brasil, de fevereiro a junho de 2009 e será divulgado hoje. Segundo o levantamento, as duas têm dificuldades de qualificar funcionários. As entrevistas apontam que isso está ligado a restrições orçamentárias e problemas com a legislação, que faz com que a contratação e demissão não sejam ágeis o suficiente. Segundo Guilherme Canella, coordenador de comunicação da Unesco, a universidade teria de ser criada com verba pública, mas poderia se tornar autônoma depois, oferecendo cursos privados. KILL BILL GLOBAL Maria Flor, em ‘Aline’, treina para exterminar sogras; gravações da segunda temporada, que deve estrear em 2011, estão acontecendo em São Paulo Made in Brazil Gugu acompanha a diretoria da Record na Mipcom, feira internacional de programas de televisão, em Cannes (França). A emissora tenta vender suas séries e novelas. Já o apresentador procura formatos para novos quadros em seu programa. Made in USA Alardeada nos comerciais do Sony, a sétima temporada da série norte-americana ‘Desperate Housewives’ estreou anteontem sem legendas em português. Polêmica Na contramão da Igreja Católica, o padre pop Fábio de Melo disse a Amaury Jr. que o uso de preservativo ‘é uma questão de saúde pública’. A entrevista, na qual ele falou também sobre celibato e política, vai ao ar a partir da meia-noite, na Rede TV!. Topete e cutícula Roberto Justus canta no ‘Programa Raul Gil’, do SBT, amanhã e conta fazer o pé e a mão toda semana, além de limpeza de pele uma vez por mês. Teletimão A TV Corinthians estreia na Net Brasília no dia 15 e negocia com outras operadoras. O canal terá, entre outras ‘corinthianices’, transmissão de treinos e outros esportes do clube. As novidades foram apresentadas no Maximidia, em São Paulo, segundo o site Tela Viva. Tchauzinho Pergunta que não quer calar: o que acontecerá com a pobre amiga de Diana (Carolina Dieckmann), que só aparece para ouvir os choramingos dela, se a chatinha morrer mesmo em ‘Passione’, nesta segunda? Gustavo Villas Boas Super-espiã Nikita é Bond de minissaia em nova série de ação Por sua capacidade de investigação, de disfarce e sedução e pela habilidade com armas, Nikita já foi chamada de Bond de saias ou, mais apropriado, de minissaia. A personagem, que apareceu em dois longas-metragens e outra série, agora volta em ‘Nikita’, desta vez interpretada por Maggie Q, estrela de filmes de ação de Hong Kong e que já contracenou com Tom Cruise na franquia ‘Missão: Impossível’. Nikita é uma espiã e assassina treinada pela organização secreta do governo norte-americano Divisão, que a salvou do corredor da morte para que fizesse parte de seu quadro de assassinos. Depois de ter um namorado morto pela organização, Nikita resolve destruir a Divisão e dar liberdade a outros agentes como ela. São jovens que tiveram problemas com a Justiça e têm o passado ‘apagado’. Eles passam por um intenso treinamento. Nikita, que agora quer vingança, foi, claro, a melhor aluna. Ação, conspiração e artes marciais misturam-se na série da heroína, que estreou em setembro, com boa audiência nos EUA, disputando o público adolescente com ‘Vampire Diaries’. ************ O Estado de S. Paulo Sexta-feira, 8 de outubro de 2010 LITERATURA Antonio Gonçalves Filho Enfim, Vargas Llosa Em mais de um século de existência, o Nobel premiou apenas 11 escritores de língua espanhola, desde que o dramaturgo espanhol José Echegaray y Eizaguirre (1832-1916) recebeu o prêmio, em 1904. Ontem, a Academia Sueca corrigiu uma injustiça e finalmente lembrou do peruano Mario Vargas Llosa, que, aos 74 anos, vai receber o Nobel de Literatura por seis décadas dedicadas à literatura, carreira que começou com uma peça de teatro escrita aos 16 anos, La Huida Del Inca (A Fuga do Inca). Até mesmo Llosa demonstrou surpresa. ‘Achei que a Academia Sueca havia me esquecido’, declarou ao ser notificado do prêmio. ‘Há muitos anos mencionou-se meu nome, mas não sabia se era sério ou não’, disse Vargas Llosa, colaborador do Estado, de Nova York, onde dá aulas na Universidade de Princeton. O escritor disse que o prêmio ‘é um reconhecimento à literatura da América Latina e da Espanha’, revelando esperar que seus livros ‘tenham para os leitores uma importância comparável ao papel que Cervantes e Flaubert tiveram em minha vida’. A Academia disse que concedeu o prêmio a Vargas Llosa por sua ‘cartografia das estruturas do poder e mordazes imagens da resistência, da rebelião e derrota do indivíduo’. Llosa gostou da justificativa. A questão da soberania individual diante dos furacões históricos tem sido uma preocupação do autor, que, em A Verdade das Mentiras, faz a defesa intransigente da fortaleza interior do doutor Jivago de Boris Pasternak (1890-1960), um dos autores analisados no livro e que, como ele, ganhou o Nobel em 1958. Vargas Llosa, que escreveu mais de 30 romances, peças de teatro e ensaios, enfrentou desde cedo a resistência moral de uma sociedade conservadora, identificando-se, portanto, com Pasternak, que fez de Jivago – ‘homem comum, sem qualidades excepcionais, esmagado pela revolução’ – seu anti-herói modelar. Nascido em Arequipa, num vale de montanhas desérticas da cordilheira dos Andes, o escritor teve de migrar com a mãe divorciada para Cochabamba, Bolívia, onde Vargas Llosa concluiu seus estudos básicos. Só na volta ao Peru, em 1946, quanto tinha 10 anos, ele conheceu o pai, antes de ingressar num colégio militar. Ecos de sua adolescência surgem em Tia Julia e o Escrevinhador. Nele, a protagonista, após se divorciar na Bolívia, tenta encontrar um companheiro em Lima, isso nos anos 1950. Varguitas, que vive com os avós e quer ser escritor, surge como candidato da tia, apesar da diferença de idade da balzaquiana. Desde que foi publicado, em 1977, esse permanece como um dos seus livros mais populares ao lado de Pantaleão e as Visitadoras, surgido em 1973, sobre um capitão do Exército encarregado de criar um serviço de prostitutas para as Forças Armadas do Peru. Pantaleão, o mais fiel dos homens, incapaz de trair a mulher, acaba como o maior proxeneta do país, para surpresa de seus superiores. Vargas Llosa tem o dom de transformar crônicas sobre a realidade peruana em fábulas morais, recorrendo a personagens que migram de um livro para o outro sem muita cerimônia, como o cabo Lituma, que saiu do romance A Casa Verde para se tornar o protagonista de Lituma nos Andes. Neste, o escritor critica o irracionalismo dos guerrilheiros do Sendero Luminoso, olhando para o medo instaurado nos povoados – seja por intimidação militar ou pelo misticismo rasteiro – como manifestação de uma mesma origem. A tradição mística dos países latinos ligada a rebelião política seria analisada em detalhes em seu livro A Guerra do Fim do Mundo (1980), épico em que exercita seu lado jornalístico com rigor, reavaliando a figura de Antonio Conselheiro e a campanha de Canudos, temas do clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha. Sua ligação com o jornalismo nunca foi rompida. Sempre disposto a reavaliar as próprias posições políticas, desde que começou a escrever para jornais, Vargas Llosa foi socialista e apoiou a revolução cubana, cobrindo para a rádio e a televisão francesa a crise de 1962, quando a ex-URSS instalou mísseis na ilha de Castro, provocando forte reação do governo americano. Durou pouco menos de uma década esse papel de idealista de esquerda. Mais precisamente, até 1971, quando publicou García Márquez: História de Um Deicídio, ensaio sobre a obra do escritor colombiano, também premiado com o Nobel (em 1982). Nesse mesmo ano, quando o dissidente poeta cubano Heberto Padilla (1932-2000) foi preso, Vargas Llosa renegou seu apoio à revolução de Fidel Castro, provocando o rompimento entre ambos. Essa é a versão, digamos, oficial. Há outra, nada política: o compadre García Márquez teria interferido numa crise conjugal do peruano. Vargas Llosa não gostou e teria dado um soco no colombiano num cinema mexicano. Romperam a amizade em 1976. A militância política do escritor, nos anos 1980, seria menos pronunciada. Após sua oposição radical ao governo do presidente Alan García, em 1987, por sua posição nacionalista e socialista, Vargas Llosa candidatou-se às eleições presidenciais em 1990 e, apesar de aparecer como favorito, foi derrotado pelo candidato populista Alberto Fujimori. A reação do escritor foi imediata. Não renunciou à nacionalidade peruana, mas aceitou de bom grado a espanhola, em 1993. Na Espanha, Vargas Llosa é um ídolo. O rei Juan Carlos, ao saber da premiação da Academia, disparou um ‘te quiero mucho’ sem nenhuma formalidade. Ele retribuiu, dizendo que na Espanha sua obra foi ‘publicada, reconhecida e promovida’, destacando ainda o papel do editor Carlos Barral na divulgação de ??sua obra. Seu mais recente livro é Sabres e Utopias (Objetiva), em que critica o esquerdismo de colegas escritores e faz uma análise da política e da literatura latino-americana contemporânea. O QUE DISSERAM OS MEMBROS DA ACADEMIA A Academia Sueca sempre divulga uma justificativa oficial para a escolha de seus premiados. No caso de Mario Vargas Llosa, divulgou-se que o prêmio lhe foi concedido por fazer a elegia do indivíduo contra as estruturas do poder. Com isso, a Academia deixou claro que a premiação tem caráter político – além do reconhecimento do valor literário de Vargas Llosa. Em seu mais recente livro, Sabres e Utopias, ele critica o regime cubano e alerta para um retrocesso democrático na América Latina, citando como exemplo a Venezuela de Hugo Chávez. No livro, ainda sobram críticas ao governo Lula, particularmente a respeito das relações mantidas com o líder cubano Fidel Castro. Laura Greenhalgh Personagem pronto para o romance ‘Gosto muito da ideia de que a aventura de um novo romance seja também uma aventura pessoal para mim’, confessou Mario Vargas Llosa a esta repórter, na sexta-feira passada, falando de sua casa em Nova York, numa entrevista exclusiva para o caderno Sabático. Referia-se ao novo romance, O Sonho do Celta, com lançamento mundial previsto pela editora espanhola Alfaguara para novembro. Contou que foram três anos só de pesquisa até começar a escrever o livro, passando por Brasil, Peru, Congo, Inglaterra e Irlanda. ‘Eu pouco sabia da Irlanda, por exemplo, uma realidade que me é distante. Tive que estudar sua história, viajar para lá, visitar umas tantas pessoas… o resultado é que gostei dessas andanças. Também foi a primeira vez em que mergulhei na realidade africana, o que foi experiência fascinante para mim.’ Que livro é este que cruza paisagens tão distintas? Vargas Llosa, hoje trabalhando como professor-convidado da Universidade de Princeton, conta que chegou ao personagem-chave do romance quase por acaso, lendo a biografia do escritor Joseph Conrad (1857-1924), este britânico de origem polonesa, que ingressou na marinha e foi comandante de vários barcos ingleses – o que o transporta ao imaginário das aventuras marítimas. ‘Pois quando Conrad chegou ao Congo belga, como capitão de navio, logo conheceu Roger Casement, um diplomata inglês de origem irlandesa, que servia por lá há oito anos. Casement abriu os olhos de Conrad para a tragédia humana naquele lugar, para as atrocidades do colonialismo, para a exploração da população local. Não fosse por ele, talvez Conrad não tivesse escrito sua obra-prima, Coração das Trevas.’ De fato, entrou para a história o ‘relatório Casement’, em que o diplomata expõe para a coroa inglesa, em dois grandes dossiês, a matança de mais de uma centena de congoleses por oficiais brancos nas áreas de extração de borracha no antigo Congo belga, então uma colônia miserável, sob as ordens de Leopoldo II da Bélgica. À época o relatório provocou um escândalo internacional, que levou a inúmeras prisões e deu a Casement a oportunidade de também investigar a situação dos indígenas que extraíam a borracha – el caucho – na região amazônica. Vargas Llosa então passou a procurar as pegadas do diplomata no Peru, na Colômbia e mesmo no Brasil, onde teria servido como cônsul britânico no Rio. ‘Descobri um personagem já pronto para o romance. Casement foi uma das primeiras vozes a se insurgir contra o colonialismo na Europa. Depois, embrenhou-se na realidade latino-americana e, como se não bastasse, envolveu-se com nacionalistas irlandeses, conspirando a favor da independência da Irlanda, ao término da 1.ª Guerra. Conspirou tanto que acabou preso, condenado como traidor e sentenciado à forca.’ Também teria pesado contra Casement a suposição de sua homossexualidade, usada pelo serviço de inteligência britânico como forma de desqualificar sua luta anticolonialista. Ainda ao longo da entrevista, Vargas Llosa comentou que a maneira como trabalhou em O Sonho do Celta tem muito a ver com a construção de outro conhecido romance seu, A Guerra do Fim do Mundo, de 1982, em que também deixa o chão peruano, sua fonte maior de inspiração, para vir ao Brasil envolver-se com o levante e o massacre do arraial de Canudos. Há similaridades até formais entre estes dois épicos de Llosa. Se no novo romance ele parte de Conrad para chegar a Casement, em A Guerra… parte de Euclides da Cunha para encontrar Antonio Conselheiro. ‘Tanto num livro quanto noutro, tomo de saída o material histórico e passo a tratá-lo com a liberdade da imaginação. Ou seja, faço da história matéria-prima para a ficção, podendo até acrescentar alguma dose de magia.’ A mistura entre realidade e fantasia é algo que o interessa de perto depois de tantas, e tão arrastadas, polêmicas literárias entre os adeptos do realismo estrito e os entusiastas do realismo fantástico. Para Vargas Llosa, que um dia já se gabou de dizer ‘nunca acreditei em fantasmas’, esse debate felizmente ficou para trás. Reconhece o feito notável que vem a ser a obra de García Márquez, outro Nobel latino-americano, de quem foi amigo e com quem rompeu, anos atrás, por razões ideológicas e pessoais. Mas prefere admitir que a ficção se renova quando consegue livremente cruzar o umbral que separa o real do mágico. ‘As novas gerações de escritores latino-americanos vão se livrando daquelas divisões. São escritores menos provincianos, escrevem sobre seus países sem cabeça bairrista e sem tirar partido só da exploração do pitoresco.’ Vargas Llosa chegou a Princeton há um mês, instalou-se em Nova York com a mulher, Patrícia, e, ao menos até que o Nobel chegasse, estava disposto a dedicar boa parte de seu tempo aos dois cursos pelos quais foi contratado: um sobre técnicas do romance e outro sobre Jorge Luis Borges, por quem admite nutrir ‘paixão secreta e pecaminosa’, como diz em um dos ensaios contidos em Sabres & Utopias, lançado esta semana no Brasil pela editora Objetiva. ‘A prosa de Borges é uma anomalia, uma forma que desobedece intimamente à predisposição natural da língua espanhola para o excesso, optando pela mais estrita austeridade’, explica ao insistir que há sempre um plano conceitual e lógico na ficção borgiana que se sobrepõe aos demais. E arrisca uma comparação poética ao afirmar que o texto do mestre argentino é como a música: deve ser reconhecido só de ouvido. ELEIÇÕES Moacir Assunção Candidatos voltam hoje à TV e ao rádio Começa hoje a propaganda eleitoral gratuita para o segundo turno com os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Cada coligação terá dez minutos para a veiculação na TV do programa eleitoral em bloco no período da tarde, às 13 horas, e outros dez à noite, às 20h30. No Rádio, os programas em bloco serão transmitidos às 7 horas e ao meio-dia. Os candidatos aos governos estaduais, em Estados nos quais também haverá segundo turno, terão tempo semelhante. Este ano a o horário eleitoral começou mais cedo no segundo turno. Em 2006, o programa só voltou 15 dias após o primeiro turno. As principais diferenças da propaganda do primeiro para o segundo turno são o tempo dividido igualmente entre os dois candidatos e o programa apresentado também aos domingos. A resolução que estabelece as regras para a propaganda dos presidenciáveis neste segundo turno foi aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em sessão na terça-feira. Dilma recomeça. Após a proclamação do resultado das eleições, pelo presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, os partidos políticos e as emissoras de rádio e TV têm 48 horas para dar início aos programas. O programa começa, tanto no rádio quanto na TV, com a propaganda eleitoral de Dilma, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, que obteve a maior votação no primeiro turno. Serra, da coligação O Brasil Pode Mais, será o segundo. O TSE decidiu que Dilma vai começar o horário porque ela teve mais votos no primeiro turno. A propaganda vai até o dia 29, dois dias antes da eleição. Também para o segundo turno cada candidato terá direito a 7 minutos e 30 segundos de inserções de no máximo 30 segundos a ser distribuídas pelas emissoras ao longo da programação diária além do horário da propaganda. Entre hoje e o dia 29, quando termina a veiculação da propaganda eleitoral, cada candidato terá alcançado 165 minutos de propaganda eleitoral gratuita, divididos em 330 inserções. REGULAÇÃO Daniela Milanese Franklin defende agência reguladora para a mídia O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins, disse ontem em Londres que, no pacote de novas regras que o governo pretende enviar ao Congresso ainda este ano, sobre regulação da mídia, a ideia central é que a fiscalização do setor fique por conta de uma agência reguladora. O ministro visitará várias capitais europeias, colhendo experiências sobre como o assunto é tratado. Nos contatos, vai convidar entidades estrangeiras para participar do Seminário Internacional Marco Regulatório da Radiodifusão, Comunicação Social e Telecomunicação, a ser realizado no Brasil no mês que vem. Hoje, estará em Bruxelas. O ministro planeja apresentar um anteprojeto até o início de dezembro. Caberá ao próximo presidente decidir se a proposta será mantida ou não. Segundo ele, ‘é ideologização’ dizer que a proposta de regulação da mídia é um atentado à liberdade de imprensa. ‘Neste governo, publica-se o que quiser. A imprensa é livre, o que não quer dizer que é boa’, afirmou Franklin acredita que o processo de convergência das mídias e a chegada de novas tecnologias impõem a necessidade de regras atualizadas para o setor, tema que afeta o mundo todo, não apenas o Brasil. As normas nacionais em vigor foram criadas em 1962. Sem a regulação, o setor vira ‘terra de ninguém’, afirma ele. O ministro cita que a radiodifusão faturou R$ 13 bilhões no País em 2009, enquanto a área de telefonia obteve receitas de R$ 180 bilhões. ‘As empresas de radiodifusão serão atropeladas’, disse o ministro, ao defender mais regras para quem tem maior poder de mercado e um ‘olhar específico’ para a radiodifusão, que cumpre papel social no Brasil. Outros exemplos. Para ele, o primeiro nó a desatar é ‘fazer as pessoas entenderem que a regulação faz bem para todo mundo’. Franklin citou países como a Inglaterra e os Estados Unidos, onde o setor é regulado. ‘Nos EUA é assim e ninguém achou que a liberdade de expressão estava em risco.’ Na Europa, há experiências com agências para normatizar o espectro, como a Anatel, e o conteúdo da mídia. ‘Entendendo conteúdo não enquanto censura, mas é dizer o seguinte: tem que ter produção regional, produção independente, produção nacional, tem que ter certas regras de equilíbrio.’ O ministro descartou a existência de um ‘tribunal da mídia’ para tratar de conteúdo da imprensa e chamou a ideia de ‘ficção’, além de falar em ‘paranoia’ dos jornais sobre o projeto do governo. Ele disse que é favorável à autorregulação do setor, mas avalia que isso só pode acontecer se houver regras estabelecidas para o segmento. Segundo Franklin, não está na pauta a alteração do limite de participação do capital estrangeiros nas empresas do setor. Ele contou que entidades da França, Espanha, Portugal e Estados Unidos já aceitaram convite para o seminário marcado para os dias 9 e 10 de novembro, em Brasília. O ministro – que anunciou também a decisão de não continuar no governo em 2011 – acredita que as empresas de comunicação aceitarão participar desta vez, ao contrário do evento realizado pelo governo há dez meses, porque ‘amadureceram’. TELEVISÃO Cristina Padiglione SBT, RedeTV! e Band disputam bronze à noite O terceiro lugar em audiência na faixa noturna – que acomoda os intervalos mais caros da TV – poucas vezes esteve tão embolado na Grande São Paulo como agora indicam os índices de setembro do Ibope. Embora o SBT ainda supere a Band no resultado final do horário (o placar lhe é favorável em 4,9 a 3,4 pontos), a rede de Silvio Santos empatou, tecnicamente, com a rede dos Saad por pelo menos 11 dias no mês passado, entre 18h e 0h. Os índices oscilam justamente entre 3 e 5 pontos. Não raro, a RedeTV!, único dos três canais a rufar tambores com o 3.º lugar, atropela o páreo – acontece mais frequentemente às segundas-feiras, graças ao ‘reality’ policial Operação de Risco. O último a saber Mau-muito-mau, Saulo/Werner Schunemann finge estar magoado quando a filha, Lorena/Tammy Di Calafiori, conta-lhe que a mãe, Stella/Maitê Proença tem um romance com Agnello/Daniel de Oliveira, em Passione. 12 mil horas de gravação é o que soma o acervo do Comando da Madrugada, de Goulart de Andrade: o jornalista volta ao ar nesta segunda-feira, via SBT Repórter ‘A pensão que recebo é bem pequena e tenho de economizar’, de Silvio Santos, ao desistir de jogar uma nota de R$ 100 à plateia: no ar domingo, no SBT O compromisso de exibir algumas séries com intervalo menor em relação aos EUA rendeu gafe na estreia da 7.ª temporada de Desperate Housewives, anteontem, no Sony. O episódio, exibido duas semanas após a transmissão na terra do Tio Sam, estava sem legendas. Procurado, o canal não explicou a causa da falha técnica até o fechamento desta edição. Desperate Housewives foi, por enquanto, a única série que enfrentou problemas técnicos nesta semana de estreias no Sony. Grey’s Anatomy, por exemplo, exibida na última segunda-feira e com o mesmo intervalo de duas semanas em relação aos EUA, foi ao ar com legendas e sem falhas. Apesar da disputa apertada de audiência entre Fantástico, da Globo, e Domingo Espetacular, da Record, o dominical da Globo aumentou seu número de breaks comerciais em setembro, em relação a agosto. A indicação de Kuarup ao Emmy Internacional atraiu expositores internacionais ao estande da Globo na Mipcom, feira audiovisual que termina hoje, em Cannes. Com imagens do Xingu e menção a Orlando Villas-Bôas, o documentário Kuarup foi produzido especialmente para o canal Globo Internacional. Que canal infantil o quê: o público de 4 a 11 anos responde por 20% da audiência do É Gol, do SporTV, e foi identificado como maior culpado pelo recorde de audiência alcançado pelo programa na semana passada, quando foi zapeado por 1 milhão de pessoas. José Trajano convidou, e o cameraman Jackson, aniversariante do dia, trocou de lugar com o diretor de jornalismo da ESPN Brasil: ontem, por cinco minutos, Jackson conversou sobre esportes com o apresentador Dudu Monsanto, no Pontapé Inicial, enquanto Trajano assumia a câmera. ************