A internet supostamente deveria ser ruim para os negócios das emissoras de TV. Esperava-se que o conteúdo online gratuito roubasse as atenções das emissoras de TV, privando-as de suas bases de anunciantes, e as operadoras de TV paga perderiam assinantes. Mas a televisão não seguiu o mesmo caminho da indústria da música, que foi dizimada pela internet. Os principais programas produzidos pelas grandes redes de TV são hoje o conteúdo mais popular na internet e as operadoras de TV por assinatura oferecem agora programas para computadores e tablets.
Na semana passada, uma onda de novos acordos entre as redes, operadoras de TV paga e companhias digitais de vídeo nos Estados Unidos revelou um mercado surpreendentemente dinâmico, onde as regras do negócio da televisão americana estão sendo reescritas rapidamente.
A televisão e os estúdios de cinema estão ganhando dinheiro com a venda de seus conteúdos para um grupo crescente de compradores. A Netflix, principal serviço digital de locação de filmes e TV por assinatura dos EUA, está sendo desafiada por novos concorrentes como a Amazon e a Walmart. As operadoras de TV paga, por outro lado, estão adotando medidas mais agressivas para proteger seus modelos de negócios da ameaça dos concorrentes digitais.
A proliferação das opções de vídeo online está resultando em um calendário de pagamentos para as redes de TV e os estúdios de cinema. NBC, ABC e CBS encontraram um novo apetite por seus enormes acervos de programas antigos. Somente na semana passada, a Netflix e a Amazon firmaram grandes contratos com a CBS e a NBC Universal pelos direitos de exibição de programas e filmes na internet, como 90210 e Um Lugar Chamado Notting Hill.
Um número crescente de competidores
“A distribuição da mídia digital é mais uma benção para as finanças das redes de TV e dos estúdios”, diz Anthony DiClemente, analista do Barclays Capital. DiClemente acredita que a Amazon pagará à CBS um total de US$ 100 milhões em menos de dois anos e que a CBS está recebendo US$ 200 milhões da Netflix por um contrato de dois anos. Outras redes e estúdios de cinema estão firmando acordos parecidos com distribuidoras online, encontrando um novo valor para suas programações e filmes antigos.
Com mais de 25 milhões de assinantes e um acervo enorme, a Netflix está na vanguarda da distribuição digital. A companhia, que na semana passada saiu da corrida pela compra da Hulu, reforçou seu acervo e suas possibilidades internacionais ao firmar um acordo de licenciamento com a CBS através do qual parte da programação da rede de TV americana poderá ser oferecida no Canadá e na América Latina. A Netflix também fechou um acordo de licenciamento com a Televisa, a maior rede de televisão do México.
A Netflix tem acordos de licenciamento exclusivos com vários estúdios de Hollywood, como Paramount Pictures, e está negociando com a DreamWorks Animation, a companhia por trás de Shrek e Kung Fu Panda, para fornecer conteúdo quando seu acordo com o canal por assinatura HBO, da Time Warner, terminar, em 2013. Mas a Netflix, outrora vista como inexpugnável, está sendo desafiada por um número crescente de competidores bem armados. A Amazon está oferecendo programas de TV e filmes online, o Google está desenvolvendo sua própria estratégia de televisão, embora tenha tido um começo difícil, e a Walmart está investindo no Vudu, um serviço online para filmes sob demanda.
O enfraquecimento da Fox
A Amazon está chegando com mais força. Na quinta-feira (4/8), o grupo fechou um acordo com a NBC Universal para a exibição de filmes que incluem Elizabeth, um negócio que se segue a um acordo firmado com a CBS. Os gastos pesados da Amazon, Netflix e outras são uma preocupação crescente para operadoras de TV paga como a Comcast.
Depois que as maiores operadoras de TV paga dos EUA registraram um aumento no número de assinantes, no trimestre passado, executivos e analistas proclamaram que a ameaça dos novos distribuidores digitais, como a Netflix, foi exagerada. Então, na semana passada, a Time Warner Cable anunciou a perda de 16 mil clientes no segundo trimestre.
O sinal mais forte de que as redes de TV estão alertas ao enfraquecimento de seu principal modelo de negócios foi a Fox, controlada pela News Corp., ter adotado medidas para limitar a quantidade o conteúdo que oferece grátis via internet (tradução de Mário Zamarian).
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[David Gelles e Matthew Garrahan são do Financial Times, de Nova York e Los Angeles]