De livros a CDs, de enciclopédias a DVDs, virou moda na Europa a venda casada de jornais com produtos promocionais com desconto. Os diários notaram que vender estes produtos é mais lucrativo do que simplesmente distribuir brindes. A tendência se espalhou também pela Ásia e América Latina, reporta Doreen Carvajal [The International Herald Tribune, 28/2/05], mas não conquistou os EUA, onde grande parte das vendas de jornais é proveniente de assinaturas.
Os jornais italianos estão entre os primeiros que investiram na venda casada. A estratégia lucrativa foi imediatamente copiada por países como Alemanha e Espanha, onde a maioria dos jornalões registrou aumento de vendas no ano passado, apoiados nos produtos com desconto. A poderosa rede de distribuição destes jornais permite que eles comprem grandes quantidades dos produtos dos distribuidores originais por um preço acessível.
O caso mais notável talvez seja o do El País, que firmou acordo com o cineasta Pedro Almodóvar para vender seus filmes por 5,95 euros cada. O último trabalho do diretor, Má Educação, driblou o caminho ordinário que leva do cinema às videolocadoras e é vendido com exclusividade pelo jornal. Com a promoção, o El País vendeu mais de 400 mil DVDs, um recorde em sua história.
Protestos
Mas o sucesso de vendas dos jornais tem desagradado, e muito, os antigos vendedores dos produtos, que sentem-se lesados. Donos de livrarias e videolocadoras e produtores musicais estão unindo forças para tentar frear o fenômeno. Na Inglaterra, a Associação Britânica de Vendedores de Discos pressiona as companhias de música para que abandonem a prática. Na Espanha, a Federação de Vídeo Clubes Associados reclama do acordo entre Almodóvar e o El País.
O jornal, entretanto, não dá muita bola para os protestos e já procura novos parceiros para futuras promoções. Segundo matéria do IHT, o diário discute a possibilidade de projetos com jornais da América Latina e de uma aliança comercial com o francês Le Monde.
O El País não tem mesmo com o que se preocupar. Em um momento em que, com a internet, as enciclopédias viraram coisa do passado, o jornal conseguiu vender mais de 330 mil coleções delas. Como todos os produtos com desconto só podem ser adquiridos com a compra do jornal, a circulação do El País aumentou 7% em 2004.