A Comunicação Comunitária, ou Participativa, tem uma importância local com conteúdos de interesse para o público da comunidade. A priori, o intuito é aproximar a sociedade civil dos meios de comunicação para estes se tornem instrumentos que representarão um espaço territorial. Dessa forma, a comunidade cria a identidade do veículo de comunicação passando a credibilidade da informação através de rádios comunitárias e jornais da comunidade.
Devido ao forte e precoce avanço tecnológico, as futuras instalações de agências de notícias comunitárias estão sendo afetadas. Segundo Stuart Hall, estamos passando por uma crise de identidade. Tal crise “é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social”.
Durante o ano de 2013, com a chegada da mídia ninja ao Brasil, as redes sociais se tornaram uma das principais plataformas jornalísticas. Embora ainda não considerado jornalismo perante a lei, o sucesso surgiu devido à espetacularização das manifestações ocorridas nas ruas de todo o país. Os fatos foram postados e transmitidos em tempo real. O fato, por ter obtido extremo alcance, e por ter ultrapassado as ondas hertzianas, transformou a esfera comunicacional em “glocal”, deixando de ser vista apenas naquele espaço, e sim, em todo o país.
À luz dessa realidade, a prática do jornalismo colaborativo é incentivada pelas empresas jornalísticas como uma forma de estratégia de marketing e interatividade. O propósito é fidelizar seu público abrindo espaço para expor opiniões e mostrar talentos na área de produção jornalística. Com essa nova modalidade, podemos dizer que chegamos ao jornalismo do futuro.
Um processo de interatividade
A imensa presença de colaboradores nas construções das pautas facilita a alimentação nos portais noticiários. Um exemplo é a emissora TVT, da cidade de São Paulo, transmitida pelo canal 46UHF e pelo site da emissora. A página principal do site “A TV que Te Vê” (TVT) tem como um dos principais anúncios o jornalismo colaborativo. O site oferece voz e vez a seu público para a construção da pauta jornalística, em detrimento dos movimentos sociais.
Após o processo de envio, há como destaque uma editoria de Repórter Cidadão. Ainda na página inicial, estão expostas as cabeças das matérias colaborativas, dando início ao processo de interatividade, podendo ser compartilhadas nas redes sociais, como se observa abaixo:
Futuro do jornalismo formal é incerto
Este crescimento do jornalismo cidadão gera uma série de dúvidas e conflitos entre as partes diretamente envolvidas na produção jornalística. Um dos maiores anseios dos profissionais da imprensa diz respeito à preservação de seu espaço no mercado de trabalho, uma vez que se veem ameaçados por profissionais liberais e até mesmo por jornalistas sem-diploma.
Não parece ser intenção do jornalismo participativo desvinculado e auto nominalmente, assumir o papel que pertence culturalmente ao jornalismo formal. O webjornalismo não tenciona romper com os meios tradicionais, tampouco se coloca como uma ameaça no sentido de competição com empresas jornalísticas. Vale ressaltar, que pode ocorrer subjetivamente, como aponta Rublescki explicando que este jornalismo não tem o intuito de competir com outros meios de comunicação necessariamente, embora o façam, no mínimo, quanto ao tempo e a atenção do leitor, dois bens escassos e não renováveis.
No contexto mercadológico atual, o profissional da informação ainda goza de privilégios perante o jornalista cidadão. Uma observação empírica do mercado jornalístico faz-nos constatar pelo menos superficialmente que os profissionais mais competentes ainda possuem vínculos empregatícios com os conglomerados de mídia. Sendo que os critérios de exclusão do mercado continuam a ser os mesmos válidos universalmente em outras atividades, como incapacidade e incompetência, por exemplo.
Os sistemas de comunicação continuam a optar pelos diplomados. Todavia, com este cenário dinâmico que vivenciamos qualquer previsão para o futuro do jornalismo formal é incerta. Mudanças significativas podem ocorrer rapidamente, como estas acompanhadas nas últimas duas décadas. Cabe ao jornalista estar preparado para enfrentar os novos desafios que certamente o esperam.
Referências
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 7ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
***
Jaime Sebastião de Souza Neto é bolsista da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba