Pouco mudou desde que autoridades do Zimbábue suspenderam uma proibição a correspondentes estrangeiros no país. As restrições à mídia continuam. Nos últimos nove anos, jornais foram fechados, jornalistas foram presos e alguns chegaram a sofrer tortura. Em 2002, uma lei proibiu jornalistas estrangeiros de pedir credencial para trabalhar no país. No ano seguinte, dois grandes diários foram fechados; em 2004, mais dois tiveram o mesmo fim.
Após conturbadas eleições no ano passado, o presidente Robert Mugabe, no poder há quase 30 anos, aceitou formar um governo de coalizão, compartilhando o poder com seu rival, Morgan Tsvangirai. Oito meses depois da formação da nova administração, há um sentimento no país de que as prometidas mudanças para garantir a liberdade de imprensa ainda não foram colocadas em prática. Na semana passada, militares aposentados e ex-espiões foram indicados para assentos nos conselhos de jornais controlados pelo Estado, da única emissora, a ZBC, e da agência de notícias New Ziana. Por outro lado, a Comissão de Mídia do Zimbábue, que seria responsável por fornecer licenças de funcionamento para jornais privados, ainda não foi formada.
Intimações
Para o Sindicato de Jornalistas do Zimbábue, as indicações aos conselhos das empresas estatais deixaram os jornalistas ‘com um pé atrás com as intenções do governo’ e criaram uma ‘tensão política desnecessária’. ‘É uma tentativa de continuar a intimidar a imprensa e instituir o medo por meio de indicações arbitrárias de militares em órgãos de mídia’, resume o jornalista Foster Dongozi, do sindicato.’O Exército não deve ter nenhum papel nos jornais’.
O analista político Lovemore Madhuku, da Universidade do Zimbábue, concorda. ‘O partido Zanu-PF está claramente enviando a mensagem de que nada mudou’, diz. ‘Talvez eles queiram mandar a mensagem a seus partidários de que eles estão ainda no poder’. O partido Movimento para Mudança Democrática, que agora compartilha o poder com o Zanu-PF, expressou seu descontentamento com a atual situação. ‘A maior ameaça à democracia não são apenas as indicações unilaterais, mas a decisão de indicar Tafataona Mahoso como presidente da Autoridade de Telecomunicações do Zimbábue, órgão responsável por conceder licenças para rádio e TV’, declarou. Mahoso atuou, no passado, como presidente da Comissão de Mídia e Informação, sendo criticado por jornalistas após ter fechado diversos jornais privados. Informações da BBC News [10/10/09].