Jack Shafer, editor da Slate [27/2/08], acusa o New York Times de ter plagiado o Miami Herald em um artigo sobre uma nova droga com atuação crescente na Argentina e no Brasil. Conhecida como ‘paco’, a droga é feita com cocaína misturada a produtos químicos como querosene e ácido bórico. De 2006 para cá, diversos jornais americanos já deram destaque ao assunto; a matéria do Herald foi publicada em agosto daquele ano.
O artigo do New York Times, publicado este mês na primeira página do jornalão, trazia duas frases praticamente idênticas a trechos do texto do Herald. Shafer diz que descobriu o plágio quando considerava usar o artigo do Times em sua série ‘O artigo sobre drogas mais estúpido da semana’, em que analisa textos jornalísticos sobre o tema. Ele achou estranho o texto afirmar que o paco ‘tem alto potencial de vício porque seu efeito é curto’ sem informar a fonte desta informação. ‘Várias drogas têm efeito curto e não têm alto potencial de vício’, escreveu em seu artigo na Slate. Após uma curta busca na internet, Shafer encontrou a matéria do Herald.
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O texto do Herald afirma que:
Paco tem alto potencial de vício porque seu efeito é tão curto – alguns minutos – e tão intenso que muitos usuários fumam de 20 a 50 cigarros por dia para tentar prolongar seu efeito.
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O Paco é ainda mais tóxico que o crack porque é feito principalmente de solventes e substâncias químicas, com pouca cocaína, afirma Jim Hall, diretor-executivo do Up Front Drug Information Center, ONG de Miami que monitora o uso excessivo de cocaína por mais de duas décadas.
Já no texto do Times, havia os seguintes trechos:
Paco tem alto potencial de vício porque seu efeito dura apenas alguns minutos – e é tão intenso que muitos usuários fumam de 20 a 50 cigarros de paco por dia para tentar prolongar seu efeito. O Paco é ainda mais tóxico que o crack porque é feito principalmente de solventes e substâncias químicas como o querosene, com pouca cocaína, afirmam autoridades argentinas e brasileiras de combate ao tráfico.
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Shafer questionou Jill Abramson, chefe de redação do Times, sobre o assunto. Segundo ela, o autor da matéria, Alexei Barrionuevo, admite ter extraído as duas frases da internet – ainda que não se lembre que tenha sido do Herald. Após algumas semanas de apuração, o jornalista viu que precisava inserir alguma frase para diferenciar o paco do crack. Em vez de consultar suas anotações – que ele diz conter estes mesmos dados -, Barrionuevo preferiu confiar no Google.
Shafer foi direto e perguntou a Jill se o jornalista cometeu plágio. ‘Sim’, respondeu ela. ‘Eu acredito que quando você usa um material quase palavra por palavra e não dá crédito a ele, é plágio’. O Times segue a política de não discutir publicamente questões sobre funcionários, e por isso Jill não pôde comentar se Barrionuevo receberia alguma punição.