Agora os gays franceses poderão ver ‘la vie en rose’. Empresários corajosos se convenceram de que já existe um público suficientemente grande para justificar a existência de um canal de TV por assinatura dirigido aos gays e simpatizantes. O resultado é a Pink TV, que estreou na noite de segunda-feira (25/10) com uma grande festa, como convém.
Lançada um ano depois da data inicialmente prevista, a Pink TV publicou no ano passado um anúncio em fundo cor-de-rosa no qual pedia a telespectadores potenciais que votassem por internet para a escolha dos programas favoritos.
No último domingo (24/10), um anúncio de jornal da emissora reproduzia uma famosa foto do presidente François Mitterrand e do primeiro-ministro alemão Helmut Khol, de mãos dadas. O texto dizia: ‘Não há apenas sexo na vida de casal’. Na seqüência, o convite para o leitor se tornar assinante do novo canal.
Com a evolução dos costumes, a sociedade francesa vem, há anos, preparando espaço para o canal gay. Atualmente, discute-se no Parlamento uma proposta de lei para punir os insultos dirigidos contra homossexuais; e casais gays masculinos e femininos lutam pelo direito à adoção.
Em junho deste ano, o prefeito da pequena Bègles, Noel Mamère – ex-candidato a presidente em 2002 pelo Partido Verde – realizou o casamento civil de dois homens, mesmo sabendo que seria, possivelmente, anulado. E foi. O ministro da Justiça declarou o ato nulo e lembrou que a Constituição francesa não prevê o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Assinaturas de peso
Mas no país dos direitos humanos começa a ganhar espaço na mídia e na sociedade a idéia de que os homossexuais devem ter todos os direitos civis, inclusive o direito ao casamento e à adoção. Uma lei chamada Pacs, um pacto civil que é apenas meio caminho andado, não é suficiente, segundo os defensores do casamento homossexual, para colocar gays e lésbicas em pé de igualdade com os heterossexuais.
É provável que muito em breve o casamento entre pessoas do mesmo sexo venha a tornar-se legal na França, como já é na Bélgica.
Os franceses já se acostumaram a ver homossexuais assumidos em importantes postos políticos. Por exemplo, o ex-ministro da Cultura, Jean-Jacques Aillagon, e o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë. E no Parlamento, a Assemblée Nationale, vários homossexuais estão dispostos a legislar para combater a homofobia.
A revista Nouvel Observateur que está nas bancas publica uma reportagem que trata da proibição a casais homossexuais de adotarem uma criança. Pelas leis francesas, um solteiro (homem ou mulher) pode se candidatar à adoção, mas não uma pessoa que vive com outra do mesmo sexo.
Um manifesto, que a revista publica, defende para os homossexuais o direito ‘de serem pais e mães como os outros’ e tem assinaturas do ex-ministro Aillagon, do prefeito Bertrand Delanoë, do estilista Jean-Paul Gaultier, da tenista Amélie Mauresmo, além de uma plêiade de nomes famosos. A revista dá o endereço do site no qual os interessados podem aderir ao manifesto.
Meta de lucro
Num país que encara com naturalidade o fato de o bairro do Marais, em Paris, ter-se transformado em paraíso dos gays, onde metade das lojas e cafés têm a bandeira do arco-íris, homens passeiam de mãos dadas e, nos cafés e praças, duas mulheres podem namorar abertamente sem escandalizar ninguém, num país assim deve haver espaço para um canal de TV gay.
Essa aposta foi feita por um ex-diretor do canal TF1, Pascal Houzelot, presidente da Pink TV e dono de 30% do capital. As ações restantes são divididas entre TF1 e Canal Plus, entre outros minoritários.
Por 9 euros mensais, o espectador gay ou simpatizante terá à disposição uma programação eclética que inclui as séries Mulher Maravilha, um cult entre os gays franceses, e Queer as folk. Mas nem só de séries viverá o canal. Haverá também óperas, programas musicais e de entrevistas e debates, apresentados por jornalistas já conhecidos da TV. E, last but not least, filmes pornôs.
Se daqui até 2007 o canal tiver atingido os 180 mil assinantes, o orçamento estará equilibrado. O que vier depois será lucro. Os inventores da Pink TV querem garantir 80% dos custos vindos de assinaturas e apenas 20% dependentes de publicidade.