Conhecida no exterior como paraíso turístico, a Tailândia esconde graves problemas de concentração de mídia e intimidação de defensores dos direitos humanos e ambientais. Desde que o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra assumiu o cargo em 2001, vozes dissonantes têm sido constantemente caladas.
Agora, como informa Jane Perlez [The New York Times, 7/704], o governante parece ter encontrado uma adversária à altura. Supinya Klangnarong tem 31 anos e muita coragem. Secretária geral da pequena organização não governamental ‘Campaign for Popular Media Reform’ (algo como Campanha pela Reforma da Mídia Popular), ela está sendo processada pela maior companhia de mídia e comunicações do país, a Shin Corporation.
A companhia foi fundada por ninguém menos que o primeiro-ministro e é administrada por sua família. Desta forma, o governo controla os maiores canais de televisão da Tailândia, o único canal pago do país, uma empresa de comunicações por satélite e negócios no mercado de telefonia celular.
No ano passado, Supinya ousou dizer publicamente que a recente prosperidade financeira da Shin estaria relacionada ao mandato de Shinawatra e que a companhia estaria usando seus lucros para aumentar a fortuna do partido político do primeiro-ministro. Dois meses depois das acusações terem sido publicadas no jornal Thai Post, a ativista foi processada por calúnia. A companhia nega que seus lucros estejam relacionados às conexões políticas de Shinawatra e que tenha ajudado financeiramente o partido de seu fundador.
O caso de Supinya ainda corre na justiça e chamou a atenção da opinião pública do país para os problemas na administração do primeiro-ministro. Em junho, o jornal The Nation publicou uma lista com 16 nomes de pessoas assassinadas ou desaparecidas desde que Shinawatra entrou no poder. Todas elas protestavam contra projetos governamentais.
Supinya luta pela descentralização dos meios de comunicação na Tailândia. Um de seus principais objetivos é conseguir pôr em prática o Artigo 40 da Constituição de 1997, segundo o qual freqüências de transmissão devem ser realocadas de modo a permitir que seja implantada no país uma emissora pública de televisão, nos moldes da PBS, nos EUA, e da BBC, na Inglaterra.
A ativista também luta para mudar a imagem da Tailândia no exterior. ‘O primeiro-ministro quer que o país seja modernizado e se desenvolva, mas ele não quer ouvir vozes dissonantes. Ele está aberto a investidores, mas não à liberdade de expressão’, conclui ela.