Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O braço televisivo da invasão americana

A al-Hurra, rede de TV por satélite criada pelo governo americano para o público árabe, acaba de ganhar freqüências de TV aberta nas cidades iraquianas de Bagdá e Basra. A emissora é um empreendimento de relações públicas dos EUA numa região em que o país não é nada bem visto. Seu diretor no Iraque, Mouafac Harb, não admite que faça propaganda para os americanos. ‘Nós trazemos liberdade e democracia para o Oriente Médio’, desconversa, mesmo admitindo que recebe dinheiro dos EUA.

De fato, a programação da al-Hurra não é puramente exaltação da política americana. Através de seu jornalismo, os telespectadores – virtualmente 70 milhões de pessoas espalhadas por 22 países – puderam acompanhar as audiências no senado dos EUA sobre o escândalo da prisão de Abu Ghraib, no melhor estilo CNN. No entanto, como noticia a revista alemã Der Spiegel, a emissora, que tem sede próxima a Washington, ainda é vista com desconfiança pelo público árabe. Mesmo para conseguir profissionais ela tem certa dificuldade, pois os árabes não querem se envolver em uma iniciativa americana. Resta-lhe atrair libaneses com ofertas de altos salários e vistos de permanência nos EUA.

Um dos principais objetivos da al-Hurra é neutralizar a influência da al-Jazira no mundo árabe. Recentemente, sua sucursal iraquiana aplicou um duro golpe na concorrente, exibindo uma fita datada de 2000 em que o ex-gerente da al-Jazira, Mohammed Jassim Al-Ali, aparece com um dos filhos de Saddam Hussein, Uday, numa reunião secreta. ‘Sem sua ajuda, teria falhado em minha missão’, diz Al-Ali, que já foi afastado do cargo, na gravação. Harb afirma que, por motivos de segurança, não pode dizer de onde conseguiu a fita, mas garante que não a recebeu do governo americano. Os EUA estudam criar uma rede semelhante à al-Hurra para o público iraniano.