Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O embate entre o importante e o interessante

Os veículos de comunicação dos EUA tiveram um grande desafio na semana
passada: fazer com que a cobertura das audiências de confirmação da juíza Sonia
Sotomayor como membro da Suprema Corte americana se tornasse interessante para o
público. O assunto era de extrema importância. Se confirmada, Sonia será a
primeira mulher hispânica a ocupar o cargo. A missão, entretanto, era quase
impossível. As audiências no Comitê Judicial do Senado se resumiram a um grande
exercício de paciência. Durante toda a semana passada, os membros do Comitê
discursaram longamente sobre a juíza e lhe fizeram longas e repetidas perguntas.
Sonia também discursou, rebatendo as críticas, sorrindo aos elogios, tentando
deixar claro que o fato de ser mulher de família porto-riquenha não a impede de
julgar com imparcialidade, seguindo a lei e sabendo aplicá-la a cada caso.


Basicamente, tudo isso poderia ter sido dito em algumas poucas horas. Ao
longo dos dias, foram diminuindo os canais que transmitiam o evento. O público
também foi prestar atenção em assuntos mais excitantes, entre eles a saída da
republicana Sarah Palin do governo do Alasca e a confissão do governador da
Carolina do Norte, Mark Sanford, de que tem um caso com uma mulher argentina.
Até Michael Jackson ainda deu pano pra manga – a irmã La Toya passou a sugerir
que houve assassinato; o pai, Joe, sugeriu transformar os filhos do astro em
mini astros.


Sem suspense


Lá para o meio da semana, a apresentadora Campbell Brown, da CNN, comparou as
sessões do Senado ao seriado de TV Seinfeld, que tinha como mote ‘um
programa sobre o nada’. Frazier Moore [14/7], crítico de TV da Associated Press,
afirmou que o mais interessante da audiência de terça-feira [14/7] foi o ‘paletó
vermelho’ usado pela juíza. Para o jornalista Howard Kurz [20/7], que escreve
uma coluna sobre mídia no Washington Post, o problema foi a falta de
suspense. Os republicanos, apesar de levantarem todas as implicâncias possíveis,
sugeriram logo no início do processo que Sonia deve ser aprovada ao cargo.


A primeira indicação de Barack Obama à Suprema Corte até começou com
polêmica, quando um vídeo de uma declaração de Sonia, de 2001, em que ela sugere
que as decisões de uma mulher ‘latina sábia’ são mais acertadas que as de um
homem branco sem as mesmas experiências de vida, foi parar no YouTube. A
controvérsia, entretanto, logo se apagou. Diante do Comitê do Senado, a juiza
garantiu que segue a lei e disse que sua declaração foi mal interpretada. Sonia
explicou que, durante sua carreira de 17 anos, fez diversos discursos para
estudantes de Direito e jovens advogados latinos, e queria lhes inspirar a
acreditar que podem ser o que desejarem na vida – como ela, filha de pais
latinos criada em um conjunto habitacional do Bronx. ‘Eu não acredito que
nenhuma etnia, raça ou gênero tenha alguma vantagem para julgar. Eu acredito que
todas as pessoas têm a mesma oportunidade de ser um juiz bom e sábio,
independente de sua origem e suas experiências de vida’, completou.