Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

CAMPANHA
Márcia Cavallari Nunes e Silvia Cervellini

O eleitor volátil e a propaganda

O Ibope Inteligência realizou e divulgou três pesquisas nacionais sobre a sucessão presidencial em um intervalo de menos de um mês. Constatamos um empate total entre os dois principais candidatos, Dilma Rousseff e José Serra, na primeira e na última pesquisa, enquanto a rodada do meio do período apontava vantagem estatisticamente significativa para a candidata do PT.

É conhecida a imagem usada pelos especialistas para descrever o significado dos resultados das pesquisas eleitorais, como ‘um retrato do momento’. Por trás dessa metáfora do retrato existe um fenômeno muito real e importante conhecido na ciência política como ‘volatilidade’ do voto ou do eleitor. A volatilidade é mais presente em períodos pré-campanha eleitoral, e, quanto maior ela for, maior a dificuldade para precisar os resultados finais de uma eleição.

A volatilidade, porém, não é homogeneamente distribuída em todo o eleitorado. Em cada sociedade, por conta de fatores culturais, históricos e políticos, alguns segmentos sociais apresentam um grau maior de volatilidade, ou seja, uma variabilidade acima da média nas intenções de voto. Além disso, o contexto de cada disputa eleitoral e até mesmo os diferentes momentos de uma campanha podem resultar em diferentes segmentos com maior volatilidade.

No Brasil, considerando as últimas eleições para presidente e para governador, temos observado sistematicamente uma volatilidade acima da média entre os eleitores mais jovens, que muitas vezes estão votando pela primeira vez. Ao mesmo tempo, as eleitoras brasileiras tendem a demorar mais para decidir o seu voto e, quando os homens já apresentam uma tendência mais estável, ainda observamos oscilações significativas entre as mulheres.

Essa maior volatilidade de jovens e mulheres pode ser confirmada nos resultados dessas três pesquisas recentes do Ibope Inteligência. Entre as mulheres a intenção de votar em Dilma cresceu de 33% para 37% entre a rodada do início de junho e a do meio do mês. Em seguida, a intenção de voto para Serra subiu 4 pontos porcentuais (de 37% para 41%) na rodada do final do mês, em detrimento de Dilma, cuja intenção de voto entre as eleitoras é hoje 3 pontos porcentuais inferior à registrada na pesquisa anterior. Já entre os homens, os porcentuais sofrem oscilações residuais.

O mesmo movimento é verificado entre os eleitores mais jovens, entre 16 e 24 anos, segmento no qual a intenção de voto de Dilma Rousseff subiu 6 pontos (de 34% para 40%) entre a pesquisa realizada no começo de junho e a do meio do mês e caiu 4 pontos (de 40% para 36%) entre esta e a última pesquisa. Ao mesmo tempo, aumentou em 7 pontos a intenção de voto de José Serra nesta parcela do eleitorado, atingindo 44% no final de junho.

Muitos fatores podem ter favorecido essas movimentações do eleitorado nesse período de praticamente 30 dias, mas a maior curiosidade refere-se ao impacto das propagandas partidárias veiculadas desde maio. Tivemos os programas e as inserções do PT na primeira quinzena de maio, depois a comunicação do DEM e por último o programa e as inserções do PSDB na segunda quinzena de junho.

Segundo estimativas do Ibope Mídia, a exposição do eleitorado brasileiro foi equivalente para a propaganda partidária do PT e do DEM e o alcance das inserções (comerciais ao longo da programação durante vários dias) foi quatro vezes maior do que o do programa (veiculado um dia só). Por outro lado, o alcance do programa eleitoral do PSDB foi cerca de 10% maior do que o do PT.

Em duas pesquisas perguntamos se ‘nas duas últimas semanas’ o entrevistado tinha assistido/ouvido comerciais ou programas em que aparecia algum dos candidatos a presidente. O crescimento da exposição declarada às propagandas de José Serra entre início e final de junho foi significativamente maior entre mulheres, eleitores com nível superior, eleitores com renda familiar de até um salário mínimo, eleitores das regiões Norte/Centro-Oeste e Sudeste.

Desses cinco segmentos do eleitorado mais impactados pela propaganda do PSDB, três correspondem aos que identificamos como mais voláteis. Pode-se concluir, portanto, que, para as mulheres, eleitores com nível superior e eleitores do Sudeste, as propagandas partidárias provocaram movimentos relevantes, provavelmente potencializados pela volatilidade desses segmentos no contexto da disputa entre Dilma Rousseff e José Serra.

DIRETORA EXECUTIVA E DIRETORA DE ATENDIMENTO E PLANEJAMENTO DO IBOPE, RESPECTIVAMENTE

 

PROJETOS
Grupo Estado amplia investimentos

O Grupo Estado está iniciando um novo ciclo de investimentos. Mais de R$ 50 milhões serão aplicados nos próximos dois anos em projetos de infraestrutura tecnológica, com o objetivo de aperfeiçoar práticas internas, melhorar o atendimento aos leitores e anunciantes e preparar e aprimorar produtos, tanto na mídia impressa como na digital.

O montante inclui R$ 19,8 milhões obtidos com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia, em uma linha de financiamento à pesquisa e desenvolvimento, que serão aplicados em projetos da Agência Estado. Outros R$ 32 milhões serão investidos em tecnologia da informação corporativa e desenvolvimento e lançamento de produtos.

Exemplos recentes, que fazem parte desse novo ciclo, foram a total renovação do portal estadão.com.br e a estreia do novo projeto editorial e gráfico do jornal O Estado de S. Paulo, bem como o lançamento do novo portal Economia & Negócios. Entre os novos projetos está a criação de uma comunidade para pequenas e médias empresas, com base nas listas e guias da OESP Mídia, que será implementada durante o próximo ano. ‘Teremos uma plataforma para que essas empresas possam fechar negócios, ter acesso a informação, treinamentos e educação a distância, tudo integrado com jornal, rádio, internet e eventos’, diz o diretor-presidente do Grupo Estado, Silvio Genesini.

Genesini destaca a importância da área de economia e negócios, principalmente nos produtos digitais. ‘Nossa cobertura de economia e negócios é de altíssima qualidade, com cerca de 200 jornalistas, entre Agência Estado, jornais e rádio, dedicados ao tema’, afirma. ‘Essa plataforma é importante no mundo inteiro, e pode ser uma das primeiras a ter um modelo sustentado de conteúdos pagos.’

Outra novidade é a digitalização do acervo que preserva os 135 anos de jornalismo do Grupo Estado, em textos e imagens. ‘Começamos com uma versão em baixa resolução e vamos chegar à alta definição’, diz Genesini. ‘Ainda estamos definindo o modelo de negócio, que provavelmente será misto ? gratuito em algumas situações e pago em outras.’

Segundo Fábio Costa, diretor de Estratégias Corporativas e Mercados Digitais do Grupo Estado, devem ser lançados 10 novos sites nos próximos meses. ‘Um dos objetivos dos investimentos é tornar nossa infraestrutura mais flexível, para podermos lançar produtos em um tempo menor’, explica o executivo.

O Estado foi pioneiro no Brasil ao lançar um aplicativo para o iPad, o tablet da Apple. A ideia é continuar apostando em novas tecnologias, incluindo os tablets e os celulares inteligentes, como o iPhone, da Apple, e o BlackBerry. ‘Faremos novas versões dos aplicativos, com mais funcionalidades, com uma maior integração com outros conteúdos e outros serviços que nós prestamos’, diz Costa.

Na infraestrutura interna, o grupo está iniciando a segunda fase de implementação do SAP, software de gestão empresarial. ‘Vamos buscar maior agilidade dos processos internos, melhor atendimento ao cliente e redução de custos’, diz Genesini. ‘Queremos que todos os processos sejam automatizados.’

O Grupo, além disso, vai centralizar suas centrais de atendimento e melhorar os sistemas de assinatura e publicidade. ‘Também vamos implementar um novo CRM (sistema de relacionamento com clientes), que fará acompanhamento de vendas’, explica Genesini. ‘Nós já começamos esse processo para o nosso mercado anunciante.’ No próximo ano, o sistema editorial (software usado na edição dos jornais) será atualizado.

Integração. Na Agência Estado, a meta com os novos investimentos, segundo o diretor-geral, Daniel Parke, ‘é criar uma plataforma única, integrada e padronizada de captação, tratamento e distribuição de informações em tempo real com ferramentas de negociação eletrônica, para promover crescimento sustentado e a internacionalização do negócio’.

Parke afirma que a empresa contará com uma plataforma robusta para suportar o maior volume de notícias e cotações demandadas pelos clientes, além de oferecer mais ferramentas e funcionalidades. ‘A Agência Estado vai criar um universo inovador de serviços para os mercados financeiro, corporativo e de agronegócio, uma mudança de patamar em relação à propriedade intelectual atual do Grupo Estado’, diz.

Esse é o terceiro projeto da Agência desenvolvido com financiamento da Finep. O primeiro, na década de 90, criou uma plataforma web de notícias segmentadas e o serviço AE Brazil Financial Wire. O segundo aporte, em 2001, possibilitou a criação do núcleo de conteúdo multimídia.

 

IRÃ
Carolina Rossetti

No caminho das pedras

A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, de 43 anos, acusada de cometer adultério com dois homens – um deles supostamente responsável pela morte de seu marido – foi condenada à morte por apedrejamento. Para a mulher, isso significa ser enterrada até o busto e uma multidão de homens atirar pedras contra sua cabeça – pedras grandes o suficiente para machucar, mas pequenas o bastante para não matar de uma vez só -, com o intuito de causar o máximo sofrimento pelo máximo de tempo, antes da morte. O mesmo ritual se aplica aos homens, mas estes são enterrados até a cintura e ficam com os braços livres, para que possam se defender. Segundo a Anistia Internacional, ao menos onze pessoas estão na fila para serem apedrejadas no Irã, oito delas, mulheres. De acordo com a sharia, a lei islâmica, assassinato, estupro, assalto à mão armada, tráfico de drogas e adultério são delitos passíveis de apedrejamento.

Na semana atrasada, capitais europeias foram palco de protestos com simulações de apedrejamento que atraíram muita atenção da imprensa para o caso de Sakineh. Diante de tanta exposição, as autoridades iranianas mudaram a pena, no final da semana atrasada, para morte por enforcamento. Mas na quarta-feira recuaram da decisão e, de acordo com pronunciamento do ministro de Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, o apedrejamento ainda é uma opção possível para punir ‘os crimes’ de Sakineh, que está presa desde 2006 por envolvimento na morte de seu marido. Na quinta-feira, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, telefonou para Mottaki para pedir o cancelamento da pena de Sakineh e alertou para o efeito político negativo que a execução pode ter nas negociações em torno do programa nuclear iraniano.

Segundo a advogada e ativista de direitos humanos Mehrangiz Kar, que durante 22 anos advogou no Irã, a retirada do apedrejamento do sistema legal iraniano é uma reivindicação de longa data, inclusive da parte de alguns clérigos que consideram esse método de execução prejudicial à imagem do Islã. Sob o governo de Mahmoud Ahmadinejad a violação dos direitos humanos no Irã só piorou, uma vez que a ala mais conservadora tomou conta do Judiciário, garante Mehrangiz em entrevista ao Aliás por telefone. O desrespeito à dignidade humana é ainda maior quando se trata de mulheres e de não muçulmanos. ‘As mulheres no Irã vivem um apartheid semelhante ao implantado na África do Sul’, diz ela.

Mehrangiz vive nos Estados Unidos, para onde emigrou depois de ser considerada persona non grata em seu país natal. Em 2000, ela foi condenada a 4 anos de prisão por ter comparecido a um congresso em Berlim em que se discutiu a violação dos direitos humanos no Irã depois das eleições presidenciais. Quando voltou, foi encarcerada na prisão política de Evin, em Teerã. Só saiu por causa de um câncer de mama e da pressão da União Europeia, em particular da Holanda, para que fosse temporariamente libertada para buscar tratamento. ‘Enquanto estava no exterior prenderam meu marido e, torturando-o, conseguiram evidências contra mim.’ Entre as evidências levantadas contra ela estavam fotos em que aparecia sem o niqab, o tradicional véu islâmico. ‘Faz nove anos que eu e meu marido não nos vemos. Ele não pode sair e eu não posso entrar no Irã. Nossa família foi destruída só porque o governo não tolera críticas.’ Para ela, a comunidade internacional não tem interesse em pressionar o governo de Ahmadinejad para que cumpra os estatutos de direitos humanos dos quais o Irã é signatário. ‘Quando algum país se dá ao trabalho de falar do Irã, o foco são as sanções e as armas nucleares. Nunca se preocupam com o que é da maior importância: a preservação da dignidade do povo iraniano.’

Para ser punido com a sharia, o adultério precisa ser testemunhado por pelo menos quatro pessoas. No caso de Sakineh Mohammadi Sakineh houve testemunhas?

Provar o adultério é muito complicado, especialmente quando estamos falando de algo o que geralmente não é testemunhado. Ao ler o relatório feito pelo advogado de Sakineh, vi que os procedimentos do julgamento não foram corretos nem justos. Não há evidências suficientes de que ela teria cometido nenhuma traição. Dois dos cinco juízes que deliberaram sobre o caso disseram que não havia como ter certeza de sua culpa. Mas os outros três a condenaram, com base em seus ‘instintos’. Sakineh já tinha sido condenada em 2006 por participação na morte de seu marido. A família do morto desistiu do processo e perdoou Sakineh, o que a livrou da pena de morte naquela ocasião. Mas mesmo assim ela pegou 10 anos de prisão. Agora o seu caso foi desenterrado com essas alegações de adultério. Têm muitas circunstâncias envolvendo o caso que nós não conhecemos, mas, seja como for, não acho que ela mereça ser morta, seja por apedrejamento, enforcamento ou qualquer outro tipo de execução. E, veja bem, mesmo quando as autoridades iranianas vêm à público para dizer que Sakineh não mais será apedrejada não podemos acreditar nisso, pois não quer dizer que o apedrejamento foi cancelado, apenas suspenso. Já vi isso acontecer antes. Eles esperam a poeira baixar e depois matam.

No tempo em que a sra. atuou como advogada no Irã, lidou com muitos casos de apedrejamento?

Eu trabalhei em alguns casos desses enquanto advoguei no Irã, durante as décadas de 80 e 90. Grande parte dos processos com os quais lidei se tratava de direito da família, especialmente de mulheres acusadas de adultério. Para uma mulher casada no Irã, ter prazer sexual fora do casamento é considerado algo maligno. Na maioria das vezes, tive sucesso em trocar a sentença de apedrejamento por açoitamento. Existe uma punição no Código Penal Islâmico do Irã que prevê 99 chicotadas para quem foi infiel. Essa é a única forma de vitória que se pode ter nesses casos. Se é que podemos considerar isso uma vitória.

É comum os homens serem apedrejados por adultério?

Existem alguns casos, mas são mais raros. Em geral são as mulheres que mais sofrem essa punição. A situação das iranianas se tornou verdadeiramente trágica depois da Revolução Islâmica. Não tem nem como comparar o que era ser mulher antes da revolução e agora. Não temos nenhum tipo de igualdade perante a lei, seja no direito penal ou no familiar, ou na vida social. É um peso muito grande ter que admitir que no Irã as mulheres são cidadãs de segunda categoria. Elas vivem um apartheid semelhante ao implantado na África do Sul, só que de gênero. Nessa exclusão estão também as pessoas não muçulmanas, seja qual for o sexo. E desde o início do regime de Ahmadinejad tudo está pior.

Existe a possibilidade de esse método de execução ser retirado do sistema legal iraniano?

Há anos lutamos pela reforma do Código Penal Islâmico. O apedrejamento surgiu no Irã como método de execução penal apenas em 1979, com a Revolução Islâmica. Antes disso nunca houve um caso de apedrejamento em nosso país, ao contrário do que muitas pessoas possam pensar. Mas quando os fundamentalistas e os extremistas assumiram o poder, eles colocaram em prática essa forma de punição medieval. Aliás, grande parte das punições previstas pelo nosso sistema legal é violenta e desumana. Existe um debate prioritário a respeito do apedrejamento, mas isso não significa que os outros tipos de aplicação de justiça sejam aceitáveis, por exemplo, o açoitamento ou a mutilação de partes do corpo. É preciso implantar uma grande reforma legal para impedir que a dignidade do povo iraniano continue a ser destruída. Há um movimento de protesto no Irã que luta para acabar com essas práticas. Dele participam inclusive alguns clérigos, que infelizmente, por não estarem vinculados ao governo, não têm nenhuma autoridade. Eles pregam uma reforma no nosso sistema legal sem que isso signifique insultar o Islã.

O apedrejamento prejudica o islamismo e o Irã?

O apedrejamento não apenas estimula o preconceito contra o Islã, mas acredito que vá contra intenções do Irã de se projetar no cenário mundial. Parte dos fundamentalistas diz que quando algo está atuando contra os interesses do Islã essa coisa pode ser reformada ou removida. O apedrejamento pode ser, portanto, entendido como um desses empecilhos que mais causam problemas do que contribuem para a prop0agação da religião muçulmana. Infelizmente, os clérigos que estão no poder não pensam assim e insistem em manter o apedrejamento. Como consequência, a imagem do Islã fica degradada perante o mundo. Eu acredito que isso vá contra os interesses até mesmo do governo de Ahmadinejad.

O que pode forçar o Irã a mudar sua atitude em relação a esse método de execução?

O Irã é signatário de tratados internacionais de defesa dos direitos humanos e, portanto, tem responsabilidades. A comunidade internacional precisa pressionar o país a cumprir esses acordos. Mas, quando ela se dá ao trabalho de falar do Irã, o foco são as armas nucleares e as sanções, nunca o que é de maior importância: a preservação da dignidade do povo iraniano. Esse governo parece estar imbuído da confiança de que nenhum país vá pressioná-lo sobre as violações de direitos humanos. Com isso, os líderes extremistas mergulham o país no medo para que assim permaneçam no poder. Ameaçam os cidadãos e impedem o debate e a liberdade de expressão para abafar às críticas em relação aos direitos humanos e à situação econômica.

 

TELEVISÃO
Alline Dauroiz

Onde os cafonas não têm vez

Se hoje costureiro é estilista, manequim virou modelo e os antigos ateliês de moda foram preteridos pela produção em escala, será que ainda há lugar no mundinho fashion para Jacques Leclair e Victor Valentin, costureiros criados em 1985 pelo autor Cassiano Gabus Mendes e inspirados em Dener e Clodovil? Quando a autora Maria Adelaide Amaral decidiu fazer o remake da novela Ti-Ti-Ti – que estreia nesta segunda, 19, na faixa das 19h, na Globo -, recorreu às amigas do meio e resolveu situar a competição de estilo no segmento de vestidos de festa/noivas, que não conhece crise.

Além da rixa entre estilistas, duas tramas de Plumas & Paetês (1980/81) outra novela de Cassiano, serão aproveitadas: a de Marcela (Ísis Valverde) e Rebeca (Christiane Torloni). Mas aos saudosistas que acompanharam as originais, um aviso: a história foi modificada e personagens foram criados.

Vividos nos anos 80 por Reginaldo Faria e Luis Gustavo, Leclair e Valentin serão representados por Alexandre Borges e Murilo Benício, respectivamente. ‘É uma novela que não tem mocinho nem bandido. São dois mocinhos que se odeiam’, diz Murilo.

Picareta de tudo, Valentin, na verdade, é Ariclenes, desafeto de André Spina, o Jacques Leclair, desde criança,época que viviam no Belenzinho, zona leste de São Paulo. Quando ganha na loteria, Ari se casa com a namorada, Suzana (Malu Mader), e vai para os Jardins, deixando André louco de raiva. Mas Ari perde tudo, separa-se de Suzana e sonha derrubar o rival. Quando Ariclenes topa com Cecília (Regina Braga), moradora de rua senil que faz lindos vestidos para suas bonecas, tem a ideia de copiar os modelitos e se passar pelo misterioso estilista espanhol que inferniza Leclair.

Para abrilhantar seu universo, André/Leclair também inventa mentirinhas para suas clientes de fino trato do Tatuapé: diz que nasceu na cidade francesa de Cholet. ‘Ele sonha vestir a Deborah Secco, a Carolina Dieckmann…’, diz Alexandre Borges. Com talento e bom corte, mas gosto duvidoso, o estilista quer migrar para a Rua Oscar Freire.

Presente no primeiro capítulo, em cena de desfile, o estilista Alexandre Herchcovitch fez, a pedido do Estado, três perguntas aos ícones fictícios da moda (leia abaixo).

Feita sob medida para Cláudia Raia, Jaqueline também é protagonista. Ela cai na rede de Leclair (não se engane pela afetação do moço). Com bom gosto e bons relacionamentos, dá pitacos nos croquis do amado e consegue refiná-lo. ‘Jaqueline é louca. Foi cantora de rock, passeou nua com o marido na lua de mel em Ubatuba, foi presa, come ovo colorido no boteco. O glamour é uma capa’, define a atriz.

Comédia rasgada, à moda Cassiano, a história promete. O cenário da moda pode ter mudado, mas o ego, o glamour e a inveja do mundinho fashion são mais atuais que nunca.

Três perguntas, por Alexandre Herchcovitch, estilista

Victor Valentin (e seu peculiar castelhano)

‘Estoy acá en Ibiza, conmemorando la victoria de España. No sé se tu sabes, pero el uniforme de la selección es mi creación.’

Todo estilista quando cria tem em mente uma musa. Você acha necessário ou sua inspiração vem de outro lugar?

‘Las mujeres brasileñas son mis musas, con sus curvas generosas, su andar gracioso y su expresión radiosa. Por otro lado, yo también busco inspiración en las formas de la naturaleza.’

Para que novela ou filme você criaria o figurino?

‘A mi me gustaría mucho hacer los figurines para un remake de la novela Que Rei Sou Eu?. Y actualmente yo estoy a estudar un convite de Almodóvar para su próximo filme. (¡Pero, esto, por enguanto, es secreto! Jacques Leclair no puede saber).’

Se não fosse estilista, o que seria?

‘A mi, me gustaría escribir novelas, como el grand Silvio de Abreu o el saudoso Cassiano Gabus Mendes. Así como una colección, las novelas san grandes obras de creación. Mira, señor Herchcovitch, cada capítulo es como un vestido y las actrices san como maniquís. Una exhibición es como un desfile. También se necesita un director experimentado, como, por ejemplo, el Grand Jorge Fernando y una equipe verdaderamente comprometida con la cualidad final.’

Jacques Leclair

Na moda há muita competição, como seriam dois estilistas na mesma família?

‘Realmente, o mundo da moda é muito competitivo. Hoje em dia, vários nomes buscam seu lugar ao sol. Acho que encontrei o meu (risos). Quanto a uma família com dois estilistas, acho bastante improvável. O talento é uma centelha que faísca uma vez a cada cem gerações! Não é algo que caiba num gene, é uma combinação de diversas coisas: bom gosto, habilidade, percepção, tato e, por que não dizer, olfato?’

Para que astro da música você criaria o figurino?

‘Você acertou em cheio um dos meus grandes sonhos! Nacionalmente, gostaria muito de fazer algum figurino para o Ney Matogrosso. Tenho algumas peças inspiradas nele nos tempos dos Secos e Molhados! Agora, se formos para fora do Brasil, ADORARIA compor os novos figurinos da banda Kiss. Ainda existe? (risos). Usaria muito couro, mas combinando com um tafetá MARAVILHOSO. Penso até em apelar para a tecnologia: hoje é fácil incorporar leds em peças de roupa.’

Já está preparando seu sucessor?

‘Ainda sou tão jovem! Tenho quatro filhos, dois casais. Talvez minha filha mais velha, que cursa moda, possa ter herdado um pouquinho do meu glamour. Meu filho mais novo também é bastante sensível, quem sabe se for bem orientado? (risos).’

 

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