ELEIÇÕES
No debate, estratégia de Dilma e Serra é de ‘paz e amor’
No primeiro enfrentamento direto do segundo turno, os comandos das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) orientaram os seus respectivos candidatos, conhecidos por terem temperamento forte, a exibirem uma postura ‘paz e amor’, evitando agressividade desnecessária no debate da Band de hoje. Dilma e Serra também foram preparados a abordar e a responder a questões polêmicas, como o aborto e as privatizações.
A candidata petista foi orientada a pôr em prática, mais do que nunca, a ‘terapia do copo d’água’. Trata-se de tomar um copo de água – ou de refletir por alguns segundos – antes de dar uma resposta malcriada, caso não goste da pergunta ou de uma insinuação do tucano.
O PSDB orientou Serra a adotar um tom ‘ameno’ e a evitar erros cometidos na eleição de 2006, quando o então candidato Geraldo Alckmin caiu nas armadilhas colocadas pelo PT e manteve postura agressiva contra o adversário Luiz Inácio Lula da Silva, que tentava a reeleição.
Serra participou de uma primeira reunião preparatória na madrugada de sexta-feira. Após participar de encontro com integrantes do DEM, foi até o estúdio alugado pelo PSDB, na zona oeste paulistana, gravar o programa do horário eleitoral. Por volta da 1 hora da manhã, um pequeno grupo de cinco colaboradores, formado basicamente pelos seus marqueteiros e assessores de comunicação, começou a discutir as linhas gerais do debate.
O encontro de sexta-feira se estendeu até às cinco horas da manhã. Estava prevista uma nova reunião na noite de sábado, quando seriam definidas perguntas e temas mais específicos.
Os tucanos não descartaram perguntas sobre a ‘valorização da vida’, leia-se aborto. A avaliação inicial é que o candidato não deve tocar diretamente no assunto. Mas embutir o tema numa questão mais programática. Na estreia do programa na TV, na sexta-feira, Serra falou sobre o assunto ao mencionar o ‘respeito à vida’. O tema poderá ser abordado, por exemplo, no contexto de sua proposta para gestantes, o Mãe Brasileira.
Dilma já tem pronta a resposta, se for questionada: vai se declarar a favor da vida, da família, dizer que é mãe e avó. E sempre que tiver oportunidade, procurará ligar Serra ao processo de privatização no governo de FHC.
Serra defenderá as privatizações. A orientação é para que não fique na defensiva. A exemplo do que disse em seu discurso no evento de lançamento do segundo turno da campanha, na quarta-feira em Brasília, citará os benefícios que as privatizações trouxeram para setores da economia, como telefonia. Deve ainda insistir no argumento de que Lula também privatizou no seu governo (Banco do Estado do Maranhão e Banco do Estado do Ceará), além de ter promovido concessões de rodovias federais.
A defesa do tema tem como objetivo evitar que Serra caia em armadilha semelhante à colocada pelo PT na campanha de Alckmin em 2006. Acusado de defender as privatizações, o então presidenciável ficou acuado e adotou uma postura agressiva, e considerada arrogante, contra Lula.
Os coordenadores da campanha de Dilma também usaram um exemplo que já se tornou clássico para convencer a candidata a não passar a imagem de arrogante. Em 1998, o então governador de Brasília, Cristovam Buarque, humilhou Joaquim Roriz que, espertamente, deu corda para que o adversário o ridicularizasse, passando ao telespectador a imagem de vítima. O eleitor reagiu à forma autoritária com que Cristovam se mostrou e, contra todas as expectativas, elegeu Roriz. Ambas as campanhas lembraram os candidatos que a arrogância é um tipo de erro que o eleitor não perdoa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Dilma muda discurso para melhorar imagem
Ao defender o direito das mulheres pobres de ter acesso ao aborto no serviço público de saúde, e ao abordá-lo não como questão de foro íntimo, mas de saúde pública, na entrevista à Istoé e noutras declarações, Dilma Rousseff estava apenas expondo uma posição aprovada em congressos do PT e amplamente aceita entre intelectuais e a classe média, não só de esquerda. Mas ardentemente rejeitada por outra fatia importante da sociedade.
Esse e outros vídeos são exibidos à exaustão em programas religiosos, nos quais pastores evangélicos e padres católicos pedem que não se vote em Dilma – que associam também à união civil de homossexuais. Um vídeo apresentado pelo pastor Paschoal Piragine Júnior, da 1ª Igreja Batista de Curitiba, chega a vincular as posições do PT à desagregação da família e à pedofilia.
Oficialmente, a CNBB não apoia nem veta candidatos. Mas uma declaração intitulada ‘Votar Bem’, emitida em 29 de junho pela regional de São Paulo, aconselhava a ‘ver se os candidatos e seus partidos estão comprometidos com o respeito pleno pela vida humana desde a concepção até à morte natural’. O texto levou o bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, a recomendar aos fiéis que não votassem em Dilma.
A candidata do PT lançou em agosto uma ‘Carta ao Povo de Deus’, o equivalente moral da ‘Carta ao Povo Brasileiro’ – com que Lula procurou dissipar, em 2002, os temores de que ele poria a perder a estabilidade econômica. Nela, Dilma (como Marina) também lava as mãos, transferindo a decisão sobre o aborto e os homossexuais para o Congresso. Quatro dias antes do primeiro turno, ela reuniu 27 líderes católicos e evangélicos para desmentir que tivesse dito que ‘nem Jesus Cristo tiraria sua vitória’, como circulava na internet. A rede espalha boatos ainda mais extravagantes, como o de que seu vice, Michel Temer, praticaria o ‘satanismo’, e faria o câncer de Dilma voltar, para assumir a presidência.
Seu programa eleitoral, reiniciado na sexta-feira, apresenta-a como defensora da vida e da família. O de Serra faz o mesmo e sugere que a adversária ajustou suas convicções ao humor dos eleitores. O voto religioso, que Dilma tanto buscou, acabou por persegui-la e colocá-la na defensiva.
BANDA LARGA
Renato Cruz
Serviço de internet do governo não funciona com tempo nublado
Falta coordenação às políticas do governo federal para ampliar o acesso à internet no País. Num momento em que a Telebrás se prepara para ir às compras, ativando sua rede de fibras ópticas, o Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), programa de banda larga via satélite, passará por uma atualização modesta, sem relação com a volta da estatal.
Criado em 2002, o Gesac conta com conexões desatualizadas, muitas vezes conectando pontos onde já existem alternativas ao satélite (o meio mais caro de acesso, mas o único que atinge todo o País), e computadores velhos.
O serviço é fornecido pela Embratel, e a conexão típica tem velocidade de 512 quilobits por segundo (kbps) – a banda larga pela linha telefônica ou pelo cabo tem pelo menos o dobro disso. Algumas conexões do Gesac têm somente 256 kbps.
‘Estamos com um aditivo para aumentar a capacidade em 50%’, disse Heliomar Medeiros de Lima, diretor do Departamento de Serviços de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações.
Serão adicionados cerca de 1,4 mil pontos de acesso aos 11,9 mil atuais. ‘O aditivo já foi aprovado pelo jurídico, e deve ser assinado até o dia 15.’ O valor mensal do serviço deve subir de R$ 3,3 milhões para cerca de R$ 4,5 milhões.
O Centro de Profissionalização e de Apoio ao Emprego (Cepae) oferece cursos de informática para jovens em Cotia (SP), e usa um acesso do Gesac para conectar 18 computadores.
‘Tem dia que não conseguimos carregar uma página no YouTube’, disse Rafael Cândido, professor do Cepae. ‘Na maioria das vezes, isso acontece quando o tempo está nublado.’
Cândido explicou que, na região em que o Cepae está localizado, existe banda larga via rede telefônica e via celular, mas que a instituição não conseguiria pagar por esse serviço. O Gesac é gratuito para as escolas e instituições atendidas.
Ampliação. Em julho, o Ministério chegou a fazer uma audiência pública para aumentar para 107 mil as conexões existentes, mas acabou desistindo. As operadoras argumentaram que o País precisaria de 13 a 15 novos satélites para atingir aquela meta. As sugestões de novos pontos incluíam até colégios particulares em grandes cidades. Lima preferiu não comentar a proposta discutida na audiência pública.
‘Houve uma reação muito grande’, disse Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. ‘Em função disso, a coisa foi abafada. O satélite tem papel importante. Existem áreas rurais e lugares inacessíveis onde ele sempre será a única solução.’
Com o Plano Nacional de Banda Larga, a Telebrás foi tirada do Ministério das Comunicações, ao qual é vinculada. As empresas não entenderam o motivo de o governo propor uma ampliação do Gesac que os satélites disponíveis não são capazes de atender.
Alguns apontaram essa proposta como uma forma de validar o projeto da volta da estatal, como prova da necessidade de se ativar uma rede óptica, já que a solução via satélite não seria viável para ampliar o acesso a internet no País.
A Telebrás planeja realizar um pregão eletrônico no próximo dia 20, para a compra de equipamentos. A empresa planeja comprar contêineres, gabinetes e materiais necessários para o funcionamento e proteção dos equipamentos. O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) prevê a conexão de 100 cidades até o fim do ano.
Ethevaldo Siqueira
O admirável mundo digital
Vivemos hoje a era digital em sua plenitude. Ela significa comunicação instantânea, em qualquer lugar e a qualquer hora, TV digital com imagens de alta definição e 3D, chips multinúcleos, internet de banda larga, softwares de produção gráfica, realidade virtual, sistemas de multimídia e dispositivos de armazenamento de muitos terabytes.
A maior parte dessa revolução ocorreu nos últimos 20 anos. Nesse curto período da história humana, a tecnologia criou um Admirável Mundo Novo Digital, designação que escolho por analogia com o título do famoso livro de ficção científica de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, publicado em 1932.
Esse novo mundo está sendo construído a cada dia por bilhões de seres humanos, com a crescente popularização e disseminação do computador pessoal, do celular, da internet, da fibra óptica e, em breve, do Blu-ray e da TV digital com imagens tridimensionais (3D).
A fotografia é um caso exemplar das profundas mudanças de nosso tempo. Em apenas duas décadas, a tecnologia digital sepultou os velhos, custosos e lentos processos fotoquímicos dos velhos filmes e substituiu-os por avançados processos eletrônicos e digitais. Por isso, posso fazer 10 fotos ou uma centena, pelo mesmo preço. Ou distribuir milhares de fotos pela internet, gastando uma quantia ínfima.
Duas décadas. A teia mundial (worldwide web ou www) marcou o nascimento da internet como a conhecemos, em 1990. Hoje, essa rede já conecta 2 bilhões de seres humanos, a metade deles com acesso em banda larga, via cabo, fibra óptica ou redes sem fio, como o celular 3G, Wi-Fi ou WiMax.
Há 20 anos, ficávamos boquiabertos com a comunicação de dados à velocidade de 9,6 quilobits por segundo (kbps). Hoje, as transmissões entre corporações podem alcançar uma velocidade um milhão de vezes mais elevada, ou 10 gigabits por segundo (Gbps).
O processo de digitalização e a microeletrônica são, sem dúvida, as alavancas tecnológicas mais poderosas e responsáveis pelas profundas transformações sociais e econômicas de nosso tempo. Ao longo das últimas décadas, elas revolucionaram não apenas as novas tecnologias da informação e da comunicação como todos os demais segmentos da economia e da indústria.
É claro que essa revolução não começou há 20 anos, mas, sim, com a invenção do transistor, na metade do século passado. Em seguida, vieram o circuito integrado e o chip ou microprocessador. Três palavras inglesas resumem a revolução dos componentes microeletrônicos: smaller, faster, cheaper (menores, mais rápidos e mais baratos).
O que muda. O mundo começa a viver a Sociedade do Conhecimento em sua plenitude. Nessa nova sociedade, a produtividade alcança níveis impensáveis, impelida por todas as formas de automação, pela expansão mundial da internet e pelo crescimento explosivo das redes de telecomunicações.
Essa revolução tecnológica muda quase todos os paradigmas anteriores. Substitui processos analógicos por digitais, átomos por bits, ferramentas físicas por virtuais, banda estreita por banda larga, comunicações fixas por móveis, serviços unidirecionais por interativos, máquinas e equipamentos dedicados por multifuncionais.
As ferramentas de meu trabalho jornalístico mudam incessantemente. Hoje, quando viajo, acoplo ao meu netbook um dispositivo externo de memória do tamanho de um telefone celular, que armazena 4 terabytes (TB) de informação digital, ou seja, mais do que a NASA tinha em seus computadores em 1990. Nesse dispositivo, estão mais de 10 mil artigos e textos, fotos, documentos e fontes de informação de que posso precisar em viagem.
Em meu novo tablet, posso levar hoje comigo cerca de 1.500 livros, armazenados digitalmente, sem com isso acrescentar um grama sequer ao peso de minha pasta. Com meu netbook e meu celular, posso acessar os maiores serviços de informações e de busca do mundo, para que eu possa garimpar informação em qualquer ponto da Terra.
As memórias de estado sólido (SSD, de Solid State Drive) já armazenam muitos terabytes – em lugar de gigabytes. A capacidade de processamento da informação da maioria dos desktops lançados em 2010 supera a dos mainframes dos anos 1970. Como se diz, com bom humor, o supercomputador de hoje será o desktop de amanhã.
Como será 2025. Imagine, leitor, que, daqui a 15 anos, o mundo terá cerca de 9 bilhões de celulares, ou seja, mais celulares do que habitantes. A metade desses dispositivos serão smartphones avançados.
Em 2025, só as famílias mais pobres verão a TV aberta, em broadcasting. E notem que, mesmo no Brasil, essa TV gratuita e aberta já dá sinais de preocupação diante da TV paga. As grandes ameaças ao seu modelo, no entanto, serão a IPTV, a TV Google, a Apple TV e outras. As imagens 3D se tornarão populares no cinema, nos laptops, nas câmeras fotográficas e filmadoras de vídeo.
Com a popularização dos leitores eletrônicos (e-readers), jornais, livros e revistas impressos em papel se tornarão cada vez mais raros. O turismo internacional e a maioria das viagens de trabalho utilizarão uma alternativa muito mais interessante e ecológica: os sistemas de telepresença e o turismo virtual, nos home theaters 3D, muito mais democratizantes e mais amigáveis ao meio ambiente.
Bem-vindos ao admirável mundo novo digital.
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