No mês passado, uma matéria sobre conflitos entre pais e adultos sem filhos começou com um caso sobre um cachorrinho sem coleira que assustou um bebê em um parque de Washington. Depois de o pai da criança ter reclamado, a proprietária do cão declarou ao Post que pais podem ser ‘tiranos’ e pediu-lhes para manter seus filhos na área cercada do parque. ‘Acho que as crianças são ok, mas não são donas de tudo’, disse ela, identificada apenas como ‘Linda, jornalista veterana’ em matéria no diário. Linda não quis ter seu sobrenome publicado para, apesar de sua crítica, não parecer hostil às crianças.
As políticas internas do Post estabelecem regras para o anonimato, que não deve ser usado casualmente ou automaticamente, diz o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [13/6/10]. ‘Meramente pedir não deveria ser suficiente para uma fonte ser anônima em nossas matérias’, estabelece a regra. ‘Se as fontes recusarem-se a falar ‘on the record’, os repórteres devem considerar buscar a informação em outro lugar’.
Em uma matéria recente sobre política, um estrategista democrata ficou no anonimato para parecer ‘imparcial’. Em abril, uma fonte não foi identificada em uma citação inofensiva porque ‘é relutante em ter seu nome no papel’. No final do ano passado, um artigo sobre a então secretária social da Casa Branca, Desirée Rogers, citou um amigo que ficou no anonimato ‘para não ofendê-la’. Outra fonte na mesma matéria não foi identificada para ‘não magoar Desirée’. Mais recentemente, em artigo sobre a consideração do Senado sobre a reforma financeira, um lobista não teve seu nome revelado para poder falar ‘mais livremente’.
Critério
O anonimato, quando criterioso, pode beneficiar leitores. As fontes geralmente pedem confidencialidade quando querem revelar informações que não poderiam ser expostas abertamente, como denúncias de casos de corrupção. Em escalas menores, matérias podem ser enriquecidas com informações de fontes que sofreriam retaliação, caso identificadas. Mas, ao aceitar dar o anonimato àqueles que não fornecem informações críticas, o Post prejudica sua credibilidade e perpetua a cultura de anonimato existente em Washington.
Há evidências de que o uso de fontes anônimas esteja crescendo no Post. A frase ‘falou em condições de anonimato’ apareceu em média em 71 matérias em maio – um pouco mais que no mesmo período do ano passado. Este ano, foram mais de 450 vezes. Já frases como ‘funcionários do governo’ apareceram mais de 130 vezes este ano. As regras do jornal dizem que, quando é concedido o anonimato, os leitores devem ser informados dos motivos para tal. Mas, em mais de 85 matérias este ano em que fontes falaram ‘em condição de anonimato’, não houve explicação.