O gênio da tecnologia está na capa – impressa – de centenas de jornais no mundo inteiro. Steve Jobs morreu na quarta-feira (5/10), menos de dois meses depois de se afastar do comando da Apple. Ele sofria de um câncer raro no pâncreas e, em 2009, passou por um transplante de fígado. Em agosto último, anunciou: “Sempre disse que, se chegasse o dia em que eu não pudesse mais responder a meus deveres e às expectativas como CEO da Apple, eu seria o primeiro a avisar. Infelizmente, este dia chegou”.
Nascido em São Francisco, California, em 1955, Jobs foi posto para adoção por sua mãe biológica. Ela exigia que o filho fosse entregue a pais com formação universitária, mas o casal que originalmente ficaria com o bebê desistiu de acolhê-lo porque queria uma menina. Paul Jobs, operário de uma fábrica, e sua mulher Clara, que há anos esperavam na fila de adoção, aceitaram o menino – e tiveram trabalho para convencer a mãe biológica a aceitá-los; ela só o fez quando o casal prometeu que pagaria uma faculdade para Steve quando ele crescesse.
Jobs de fato foi para a faculdade, mas acabou abandonando o curso depois do primeiro semestre. Queria pensar fora da redoma. Continuava, no entanto, a frequentar aulas que considerava interessantes. Em 1976, fundou a Apple com o amigo Steve Wozniak. Dez anos depois, saiu da empresa por problemas com a administração. Fora da Apple, comprou a Pixar e a transformou em um dos mais importantes estúdios de animação do mundo, além de fundar a companhia de desenvolvimento de software NeXT. Curiosamente, em 1996 a NeXT foi comprada pela Apple, e Jobs voltou à empresa que havia fundado 20 anos antes.
Futuro da mídia
A Apple “criou ou pelo menos definiu quase todos os aspectos da tecnologia móvel de consumo que hoje é parte do futuro da mídia e seu segmento que cresce mais rápido”, diz artigo no site do Instituto Poynter publicado originalmente em agosto, quando Jobs anunciou que deixaria a presidência da companhia, e republicado novamente após a notícia de sua morte. “O iPhone e o iPad criaram tendências inescapáveis”.
“Grande parte das companhias de mídia se curvou diante do mercado criado pela Apple, com 88% dos jornais nacionais dos EUA com aplicativos do iPhone, e os que ainda não têm aplicativo para iPad provavelmente estão planejando um”.
O artigo, assinado por Jeff Sonderman, continua:
“Jobs não apenas influenciou a indústria jornalística indiretamente, como também trabalhou diretamente com publishers. Com o lançamento do iPad em 2010, Jobs se encontrou pessoalmente com executivos do New York Times, Wall Street Journal, Time e outros veículos.
Jobs destacou o New York Times em seu discurso de lançamento do iPad, mas posteriormente criticou o primeiro aplicativo do jornal, que apresentava uma seleção limitada de matérias. Jobs planejava se unir a Rupert Murdoch no palco para o lançamento do The Daily [jornal da News Corp voltado exclusivamente para o iPad] este ano, mas sua doença o impediu. Anteriormente, ele compareceu a um retiro corporativo da News Corp para discutir a criação de aplicativos de mídia para iPad, e chamou o aplicativo do Wall Street Journal de lento e desajeitado.
As críticas podem ter ferido alguns sentimentos, mas também mostraram o quanto Jobs se importava. Lá estava o CEO da Apple, não um vice-presidente ou um assessor de imprensa, encontrando-se pessoalmente com líderes da indústria de notícias e os incentivando a criar a melhor experiência possível para este novo dispositivo.”
Logo antes do lançamento do iPad, uma fonte próxima a Jobs afirmou ao New York Times que o CEO acreditava que a democracia “depende de uma imprensa livre e isso depende da existência de uma imprensa profissional”. A grande mídia, em sua maioria, tinha uma abordagem otimista com relação a Jobs. Ele foi classificado por Andy Serwer, chefe de redação da revista Fortune, como um inovador único, dos que aparecem uma vez a cada século, comparável a Thomas Edison. “Aqui temos o homem que inventou o computador pessoal, e depois o laptop. E agora ele os está destruindo. Esta é uma vida fantástica”, afirmou certa vez o magnata Rupert Murdoch.
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Leia também:
O futuro, hoje – Alberto Dines
O inimigo número 1 da colaboração – Rodrigo Savazoni
A tecnologia do sonho – Washington Araujo
Veja também:
Discurso de Steve Jobs aos formandos de Stanford, em 2005