Com onze anos de vida, o Big Brother Brasil continua vivendo no óbvio. Com escândalos insignificantes, amores de verão e obstinações que tentam transparecer sinceras. Misto de realidade e ficção produzida a punhos fortes, regadas a litros de hormônios juvenis e bebidas alucinógenas. Seria isto uma versão da ideia de Hunter Thompson, de viver perigosamente, relatar, se envolver intensamente para descrever com a vivência aquilo que poucos de nós teria coragem?
A resposta seria não. A comparação nesse caso só é permitida pelo fato: ficção. A osmose cuspida em forma de literatura não se faz presente. Nem os ideais de atingir o desconhecido. Mas algo peculiar lembra a trajetória literária do artista, a vivência desregrada. Conjugações em primeira pessoa que mostram o sentimento, a sensação, a dor do abandono e da falta de vestimenta, interpretada pela falta de privacidade.
O estilo do gonzo-jornalismo necessita da técnica ousada, que lhe é peculiar. Quando dizemos o uso da técnica, estamos relacionando que sem sarcasmo; ou uso da primeira pessoa; ou imersão na informação; ou uso da ficção; ou descrição meticulosa das ações e lugares; ou ser parte da informação; e não se levar muito a sério. Sem isso, a reportagem será apenas uma reportagem factual, sem características do gonzo.
Para ser usado e degustado
Com base na pesquisa da jornalista Beatriz Caetana, essas características não cabem em qualquer tipo de formato se o veículo não tiver uma estrutura livre voltada para um público especializado, ou ligado ao entretenimento, dificilmente, reportagens gonzos existirão.
Tentando, outra vez, deixar similar algo de puro entretenimento, em um veículo onde a visão é a porta principal para informação. Algo realmente interessante poderia nascer de uma séria anual que tenta convencer nós brasileiros, de que a humanidade um dia será perfeita.
O gonzo está aí para ser usado e degustado pelos que têm o talento para tal.
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Jornalista, Cruzeiro, SP