Muito se falou sobre o lançamento do tablet da Apple na semana passada. O iPad foi comparado a um iPhone gigante, teve seu nome ridicularizado (pad, em inglês, além de significar ‘bloco’ também é sinônimo de absorvente feminino) e foi criticado pela falta de artefatos como telefone, câmera e o útil sistema multitarefas. Assim como no iPhone, no iPad não será possível fazer duas coisas ao mesmo tempo – como, por exemplo, ler e-mails e ouvir música. Steve Jobs, o fundador da Apple, apresentou o iPad como o rompimento da fronteira entre o laptop e o smartphone.
Esperava-se muito do novo aparelho, mas a sensação de ‘revolução midiática’ que se achava que ele causaria parece ter esfriado após o lançamento. ‘Até agora’, escreveram Russell Adams e Shira Ovide no blog de tecnologia do Wall Street Journal, ‘o potencial impacto do iPad na mídia parecer ter sido bem maior na indústria literária, e menos significativo para jornais, revistas, televisão e filmes’. De fato, ele representa uma ameaça de peso para os leitores eletrônicos, como o Kindle, da Amazon, e o Nook, da Barnes & Noble. A Amazon impunha o preço de 9,99 dólares por e-book e ficava com 70% da receita. Sabe-se que a Apple procurou editoras oferecendo liberdade para a marcação de preços dos livros e 70% da receita – para as editoras. Curiosamente, a Amazon, pouco antes do lançamento do iPad, mudou as regras de preços em alguns livros.
Plataforma íntima
Já a ideia de que o novo tablet poderia ajudar a salvar os jornais pareceu mais distante agora que o iPad se materializou. Seria ele realmente relevante para a indústria da mídia impressa, ou apenas mais um brinquedo eletrônico?, questionou artigo publicado no diário britânico Guardian. O jornalista David Carr, do New York Times, discorda dos críticos que dizem que Jobs lançou apenas um iPhone que não cabe no bolso. ‘As companhias de mídia têm agora uma nova plataforma para apresentar seu conteúdo de forma íntima’, diz ele, que esteve no lançamento em Cupertino, na Califórnia.
Sobre a falta de apetrechos, Carr afirma que se trata de um aparelho para o consumo de mídia, e não para a criação de mídia. Para ele, o iPad só irá funcionar em toda a sua glória – pelo menos em termos jornalísticos – se as empresas de mídia fizerem por onde.
O New York Times já criou um aplicativo para o aparelho, apresentado durante seu lançamento. Nele, o leitor pode adequar o tamanho do texto a seu gosto, ampliar ou diminuir as imagens e assistir a vídeos publicados junto às matérias. ‘Queríamos criar algo que unisse o melhor do impresso com o melhor do meio digital’, afirmou Martin Nisenholtz, vice-presidente de operações digitais do jornal. ‘Isto é apenas o começo’, prometeu, ressaltando que ainda é muito cedo para se discutir detalhes – como preço, por exemplo. No Kindle, a assinatura mensal do NYTimes custa 13,99 dólares.
E, assim como esquenta cada vez mais a discussão sobre o pagamento de conteúdo jornalístico na internet, deve surgir agora um novo debate sobre o melhor modelo de negócios para os aplicativos de jornais e revistas no iPad. Será preciso definir também a relação entre estes veículos, os leitores e a Apple. E, finalmente, as editoras terão que contornar um empecilho básico: o aparelho não roda conteúdo em Flash, software muito usado para vídeos, animações e dispositivos interativos na web.
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Jornalista