Tablóides sensacionalistas são a principal, e talvez a única, fonte de notícia para 50% dos trabalhadores peruanos que vivem na linha da pobreza. Conhecidos como imprensa ‘chicha’ – nome que vem de uma bebida alcoólica pré-colonial – os jornais suprem um publico que não interessa à imprensa considerada ‘respeitável’, informa Mark Fitzgerald [Editor & Publisher, 14/12/04].
O diretor da Escola de Comunicação da Universidade de San Martin de Porres, Aldo Vasquez Rios, afirma que o típico trabalhador peruano do centro da cidade pode até mesmo não comprar um jornal, mas lê as notícias nos tablóides pendurados nas bancas e ao chegar em casa passa as informações para a família.
Os jornais ‘chicha’ usam manchetes sensacionalistas em letras chamativas e substituem o espanhol formal pela linguagem usada nas ruas. As principais notícias abrangem assuntos que envolvem tragédias, acidentes com morte e sangue e escândalos com celebridades e políticos.
Durante a década de 1990, essas publicações fizeram parte de esquemas de corrupção. Quando o presidente Alberto Fujimori se tornou autoritário e sua popularidade ficou abalada, o diretor do Serviço de Segurança do Estado, Vladimiro Montesinos, começou a subornar canais de TV e a imprensa ‘chicha’ para dar cobertura favorável ao governo de Fujimori e prejudicial aos ataques de inimigos políticos. Montesinos chegou a pagar para criar cerca de meia dúzia de tablóides ‘chicha’. Um deles, inclusive, recebeu como nome o apelido de Fujimori, El Chino.
Contudo, esse período terminou em 2000 com a saída do presidente e de Montesinos do Peru. Segundo Vasquez Rios, mesmo depois da derrota de Fujimori, a imprensa ‘chicha’ continuou. ‘Algumas publicações fecharam porque acabaram os subsídios, mas outras permaneceram por ter leitores’, explica ele, completando que, desde então, os tablóides voltaram imediatamente suas manchetes contra seus antigos benfeitores.