Na semana passada, a família e os amigos mais próximos da modelo Reeva Steenkamp reuniram-se para seu enterro em Porto Elizabeth, na África do Sul; a mídia foi proibida de entrar. Longe dali, na capital Pretória, o corredor paralímpico Oscar Pistorius conseguia liberdade sob fiança; enquanto isso, repórteres reuniam-se do lado de fora da corte para acompanhar o desfecho da audiência.
No Dia dos Namorados, comemorado na África do Sul em 14 de fevereiro, a polícia foi chamada à mansão do atleta, em um luxuoso condomínio em Pretória, por conta de tiros ouvidos pelos vizinhos. A modelo foi encontrada morta com dois tiros – foram disparados quatro. Não havia sinais de arrombamento na casa, mas Pistorius alega que confundiu a namorada com um assaltante.
Logo ele estará no banco dos réus para enfrentar a acusação de assassinato. Mas, de muitas maneiras, seu julgamento começou assim que as notícias sobre a morte de Reeva vieram à tona.
Avalanche de especulações
O vagaroso sistema judiciário africano, que mal reconhece desacato à corte, tem sido incapaz de acompanhar o ritmo da era das mídias sociais e canais de notícias 24 horas. Como consequência, o superstar paralímpico viu-se inundado em acusações e insinuações como se fossem fatos. “Não sei de onde as pessoas tiraram essas informações”, disse a porta-voz da polícia, Katlego Mogale. “Não divulgamos nenhuma declaração sobre o caso ou falamos com qualquer um”. Ferial Haffajee, editora do City Press, defendeu a cobertura do jornal, alegando que a determinação sub judice não havia sido violada. “Estamos ética e legalmente limpos. Não há nada em nossa cobertura que irá prejudicar o processo na corte”, afirmou.
Observadores ficaram chocados com o nível de especulação – incluindo a existência de um suposto bastão de críquete ensanguentado e de triângulos amorosos – que seria considerado desacato à corte em muitas jurisdições. Essas alegações foram repetidas tantas vezes que tomaram ares de fatos confirmados pela polícia no dia em que Pistorius foi preso. A porta-voz da polícia foi bombardeada com perguntas de jornalistas, mas se recusou a fornecer detalhes. “Teria sido prematuro e irresponsável”, afirmou.
Melhoria da imagem
Como tentativa de diminuir a avalanche de cobertura negativa, o atleta contratou o britânico Stuart Higgins, especialista em relações públicas que o representou durante as Olimpídas e Paralimpíadas de Londres 2012. Higgins sabe que tem uma árdua tarefa nas mãos. Uma das primeiras ações foi relançar o site de Pistorius com comentários solidários recebidos de fãs. “As pessoas têm mandado emails afirmando que ele foi uma inspiração para as crianças deficientes e expressando sua incredulidade e apoio”, comentou o RP, admitindo que, no momento, não há muito mais a ser feito. Advogados do corredor afirmam que o caso deve ser decidido no tribunal e não na mídia e, portanto, nenhuma providência será tomada contra a imprensa.
O caso de Pistorius será ouvido por um único magistrado. O principal promotor é Gerrie Nel, conhecido por ter determinado a prisão de um ex-presidente da Interpol e ex-chefe de polícia da África do Sul em um caso de suborno e por ser extremamente duro. O fato de ele ter escolhido a acusação de “crime premeditado” sugere que deve haver evidências forenses fortes. Não há o equivalente a “crime passional” sob a lei do país, e “premeditação” significa que os promotores acreditam que o acusado teve tempo de decidir que queria matar a namorada. Os advogados de defesa devem manter a linha de acidente: Pistorius teria confundido Reeva, que estava no banheiro, com um ladrão, e atirou no suspeito por trás da porta.