Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ombudsman questiona investimento em cobertura de nicho

O serviço de informações financeiras DealBook, criado há 10 anos pelo jornalista Andrew Ross Sorkin como uma newsletter enviada por email, é hoje uma página de destaque no site do New York Times. O DealBook cresceu em uma época em que Wall Street era o centro do universo financeiro e, mesmo após a crise de 2008, conseguiu manter sua relevância. Este ano, o site ganhou um investimento e tanto. Em um prolongado período de cortes nas redações do mundo inteiro, o DealBook ganhou mais 11 jornalistas para sua equipe – que agora conta com 15 profissionais. O site faz uma cobertura atenta sobre acordos do mercado financeiro, análises de questões de regulamentação e curiosidades sobre personagens do mundinho – como, por exemplo, relatos dos problemas do megainvestidor George Soros com sua jovem ex-namorada brasileira, que quer processá-lo por conta de um apartamento prometido e não dado.

Mas, enquanto se investe na versão online do DealBook, na edição impressa do Times o serviço ocupa apenas metade de uma página da seção de negócios, quatro dias por semana. É pouco, parece acreditar o ombudsman do diário, Arthur S. Brisbane. “Leitores da versão impressa do New York Times terão menos informações devido à necessidade de o jornal de investir para competir por leitores e anunciantes no meio digital?”, questiona ele em sua coluna de domingo, 28.

Serviço público

O serviço ajuda o site do Times a consolidar sua popularidade entre um público específico, e isso é ótimo. Mas ao mesmo tempo parece falhar na missão jornalística de serviço público. Brisbane concorda que o DealBook cobre uma variedade grande de temas e que, quando há uma grande notícia no mundo dos negócios, sua equipe é ágil “como um time da SWAT”, na definição do próprio Andrew Ross Sorkin. O ombudsman elogia a cobertura da compra da Motorola pelo Google, por exemplo – “sem dúvida, serviu ao desejo de um público mais amplo de entender o que aquilo significava para o Google e sua missão de explorar tecnologia móvel”.

Mas, por outro lado, Brisbane acredita que, em temas mais amplos, como a crise econômica mundial, o serviço não dá conta. “Quando o sistema econômico mundial entrou em colapso e os mercados caíram, fiquei imaginando se o Times deveria, em vez de expandir o DealBook, ter gasto o dinheiro na expansão de uma equipe voltada a questões mais amplas sobre os bancos internacionais ou à dívida soberana”, avalia. Ainda que o DealBook tenha abordado o tema em algumas de suas colunas, à medida que novos sinais de crise surgem, particularmente na Europa, é necessária uma investigação mais profunda deste “complexo ecossistema”, diz o ombudsman.

Cobertura específica

O jornalista Dean Starkman, ex-repórter do Wall Street Journal e hoje autor do blog The Audit na Columbia Journalism Review, compartilha as preocupações de Brisbane sobre o fato de o DealBook não cobrir de maneira eficaz temas mais amplos e de extrema importância. “O DealBook é um sintoma, e uma causa, do estreitamento dos limites das notícias financeiras”, resume. “O que o DealBook faz é abordar o mundo dos negócios e finanças estritamente de uma perspectiva do investidor. Isso é útil, é claro, e tem raízes profundas no DNA da imprensa de negócios. Mas não é jornalismo de interesse público”. Este tipo de jornalismo é bom para dar furos, mas não para ajudar o público em geral a compreender crises financeiras profundas como a europeia.

Segundo o editor de negócios Larry Ingrassia, a expansão do DealBook foi uma estratégia para justamente atrair os internautas interessados nesta perspectiva mais concentrada. Enquanto na versão impressa o jornal pode informar as “cinco ou 10 coisas mais importantes” que o leitor precisa saber em determinado dia, na internet as ofertas devem ser cada vez mais específicas, diz ele. E, por esta razão, o DealBook funciona. “Se não dermos aos leitores conteúdo especializado nas áreas em que eles têm um interesse maior, outro lugar vai fazê-lo”. Mas Brisbane ainda tem dúvidas: teme que o investimento no serviço signifique que o jornal tenha aberto mão de fortalecer outras áreas de cobertura.